Capítulo 25

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Capítulo 24 – o capítulo final

Yuri saiu da clínica decepcionado. A terapeuta lhe disse que o filho era muito grande e muito agressivo, e que não poderia continuar atendendo o rapaz. Ela poderia atender com outro profissional, mas ninguém aceitou acompanhá-la. Em pé na rua começou a chorar.

Já deveria estar acostumado. Não era a primeira e provavelmente não seria a última vez que seu filho seria devolvido, seu pequeno grande Antônio, irmão daquele Evandro que nunca nasceu.

Não tinha o que fazer. Entrou no carro e foi para o trabalho. Depois de dezoito anos trabalhando naquele banco público, depois de ter exercido os mais variados cargos, chegou a situação de que não servia mais pra nada. E ainda assim, não queria. Todo o tempo que sobrava, servia para andar com seu filho de um profissional para outro.

Aos cinco anos, o filho e Yuri recebeu o diagnóstico de autismo, e desde então o pai lutara contra aquele gigante. O filho não falava, não tomava banho sozinho e não se vestia. Por causa da doença dele, o casamento de Yuri foi pro brejo. E não tinha como culpar ninguém. O pai achava que teve sorte da mãe resistir a matar a criança nos momentos mais difíceis.

As conquistas eram pequenas, mas Yuri as reconhecia. As pessoas não podiam entender o que era não conseguir dar um comprimido, não conseguir colocar descongestionante nasal no filho gripado, ou a criança usar fraudas até os oito anos de idade.

Essas pequenas conquistas eram grandes avanços. Ainda assim, nada disse era suficiente para mudar a condição do seu filho, que ainda era uma pessoa completamente debilitada, uma pessoa com deficiência.

O pior era a depressão. Era complicado ser o pai solteiro de um jovem com deficiência intelectual. Ele não era solteiro de verdade. Tinha uma esposa. Mas era diferente com um homem. Um pai solteiro continua sendo assim ainda que seja casado com outra mulher. As mulheres cuidam somente dos próprios filhos. São os homens que possuem essa mania de assumirem os filhos dos outros.

Certamente ele deveria ser injusto pensando dessa forma. No mundo deveriam existir muitas mulheres que adotam filhos que seus maridos trouxeram de outros casamentos. Não era uma conclusão científica, não era fruto de um estudo, ou um artigo numa revista conceituada. Ele não possuía nenhuma pretensão. Era somente o seu sentimento turvado pela tristeza que era a sua vida.

Por muito tempo teve vergonha de encontrar velhos amigos. Cada um a seu modo parecia estar muito bem. Quanto a ele, sentia-se o destinatário de uma bomba atômica.

Ele poderia se enganar que era feliz com o seu filho da forma com ele era. Poderia tentar se enganar com outras mil mentiras sem sucesso. Depois começava a pensar que não sabia ser pai de outra criança que fosse aquela. Os dois eram os azarados da vida. Ele tinha fracassado, como fracassou naquele dia no hospital com Karina.

Não tinha o que fazer naquele dia. O filho não era dele. Ele ficou com a criança em seu colo. Até que chegou o momento de devolver para a mãe. Ela estava radiante. Era filho dela, era saudável, e era lindo.

Ele lhe deus os parabéns. Sabiam que era uma despedida. Ela o puxou para si no apartamento, e lhe deu um beijo entre lágrimas. Ele também estava chorando. Cassandra estava na porta e sabia o que tudo significava. Ela tossiu. Eles se ergueram.

— Yuri, está na hora de você ir.

Ele saiu de lá e sem falar com mais ninguém, foi para casa e ficou deitado o resto do dia até a tarde do dia seguinte, no quarto trancada. Sua mãe o chamou no final da noite. Ele não respondeu e ela desistiu. No dia seguinte, a mãe ficou apenas ao seu lado sem dizer qualquer palavra. Não sabia como o consolar.

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