Capítulo 24

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Naquele dia estava se preparando para procurar um cursinho. Todos os colegas na faculdade estavam procurando um emprego. Ele deveria estudar para fazer um concurso. As esperanças eram sempre os concursos de banco. Estavam sempre acontecendo.

Saíra recentemente o edital de um banco público. As disciplinas favoreciam Iuri. Português e matemática eram seu forte e tinham o maior peso. Como tinha feito o Enem a pouco tempo, a matéria ainda estava fresca em sua cabeça.

Teria problemas, no entanto, com conhecimentos bancários.

— Isso é um saco! — Falava com Cassandra no telefone.

— Eu também não gosto de estudar sobre cheque ou de matemática financeira.

— Mas o que podemos fazer? Os bancos estão sempre contratando, e eles chamam muita gente.

— É isso mesmo que você quer fazer? Trabalhar num banco.

— É claro que eu não quero. Vai ser só por um período. Depois eu faço outro concurso.

— Eu não sei. Tenho medo de me arrepender.

— Espera um pouco. Tem uma mensagem da Karina aqui.

— Você ainda estão muito próximos?

— Como não poderíamos estar? Espera aí. A bolsa estourou.

Karina mandou a mensagem e Yuri saiu correndo. O telefone tocou novamente.

— Cassandra, a bolsa estourou.

— Eu sei, Yuri. Mas se acalme. Você não pode aparecer assim.

— Mas pode ser meu filho.

— Mas também pode não ser.

— Eu não me importo. Eu estarei por causa da Karine.

— E por causa dela mesmo você não pode aparecer. Você pode atrapalhar as coisas para ela.

— E você acha que eu ligo para o noivo dela.

— Mas ela liga. Se não ela já teria terminado com ele.

Isso o fez parar.

— Vamos fazer o seguinte: — Ela continuou. — Eu vou pra lá. E eu te aviso quando você pode ir.

Ele aceitou. Cassandra o convenceu. Ele estava na rua para procurar um cursinho, mas desistiu. Também não tinha vontade de retornar para casa. Dependendo do que aconteceria, estava decidido a não ir também para a universidade. Ao invés disso, foi para a frente da cidadã às margens do rio Amazonas. O vento soprava e fazia sempre um barulho triste. Cassandra o mantinha informado.

O parto começou onde da manhã. Ela teve normal. Pelo o que soube, Karina brigou para não ser cortada. O médico queria fazer a cesariana de qualquer maneira. Mas como a criança não corria risco, e mãe dela interviu, o parto foi normal mesmo. Ela estava muito bem informada, e sempre falou que queria daquela forma.

As mensagens vinham chegando.

— O noivo está aqui.

— Eu também queria estar.

— Foi melhor assim. Parece que ele está nervoso. É pai de primeira viagem.

— Eu também estou nervoso.

— Está tudo correndo bem. Aquela confusão por causa do parto já passou. O médico não gostou mas teve que se adaptar. Ele queria cortar nossa amiga e ir embora pra casa.

— Eles só pensam em si mesmos.

— Você não quis ser médico, agora tem que aceitar. O noivo está passando mal. Acho que ele vai desmaiar.

— Como ele pode ser tão frouxo.

— Parece que ele passou a noite resolvendo um problema. Por isso está exausto. Disseram que o trabalho de parto pode demorar. A mãe de Karine vai convencê-lo a voltar depois. Sabe como é Karine. Ela disse que não quer que ele a veja daquela forma. Ele vai ser obrigado a obedecer. Como não são casados, acho que ele vai embora mesmo. Isso tem cara de armação.

— Armação?

— Sim, e tem dedo da mãe de Karine. Ele foi expulso. O próprio médico disse que não teria problema. Que ele podia ir tranquilo. Que esse tipo de procedimento é comum. Quando ele retornar, já será para ver a criança.

— Ele engoliu essa história?

— Eu acho que sim. Ele está indo embora. Não o deixaram falar com a Karine. Disseram que ela está muito nervosa. Acho que ela está somente fazendo escândalo. Você sabe como ela é. Só um momento.

— Que foi?

— Espera um pouco. Está acontecendo alguma coisa.

— Não me mata de curiosidade. Me diga logo o que está acontecendo.

— Acho que o bebê vai nascer.

— Mas o noivo já foi embora?

— Já. Não vão chama-lo de volta. Vem pra cá!

— Como?

— Vem pra cá agora. Você precisa ser o primeiro a ver a criança.

— Vou pegar um uber.

— Uber, táxi, não me interessa. Venha o mais rápido que puder.

Nos momentos em que mais precisamos, todos os carros somem, e toda a espera do mundo parece um século. Um tempo maior que esperava, chegou no hospital. O sol estava quente, como os dias mais severos naquela cidade tropical. Para facilitar, Cassandra estava na entrada esperando.

— Como ela está?

— Suba logo. Ela está bem.

Foram em silêncio. Yuri tinha medo de perguntar qualquer coisa. Cassandra tinha um olhar gelado. Era impossível adivinhar seus pensamentos.

Os corredores frios, as portas de vidro, as pessoas passando, indo e vindo, davam a impressão de o hospital parecer com um aeroporto. As pessoas vêm e vão da vida. E estava ali para recepcionar Evandro. Ele chegava ao mundo, e sua existência, seu nascimento, tinha um significado.

Diante da porta do quarto, a mãe de Karina estava em pé, como um guardião. Ela não olhava para Yuri. Não o cumprimentou quando ele chegou, não lhe dirigiu qualquer olhar. Cassandra ficou ao seu lado, e apontou para o interior do quarto. Evandro realmente já nascera.

A criança estava envolta por um tecido. Não era possível vê-la claramente. Mamava. Karina sorriu quando viu o amigo e amante novamente. Ele não sabia o que fazer. ele deseja ir até a moça, abraça-la e beijá-la. Queria pedi-la em casamento, e sair dali diretamente para o cartório para registrar a criança. Eles escolheram seu nome, isso deveria ser suficiente para dizer que era dele, ter escolhido um nome forte, cheio de significado, de um pai perdido.

Enfim ela estendeu a criança para que Yuri a tomasse. Estranhamente, ele não podia entender nada. Sua mente estava confusa. Ele demorou para perceber que em seus braços havia uma bela criança loura e de olhos claros, o cabelo liso como de uma boneca. O enigma estava resolvido. O filho não era dele.

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