Capítulo 17

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Os dias passavam e sobrava cada vez menos tempo para pensar em qualquer outra coisa. Iuri preferia assim, pois não precisava pensar na Karina. Estudava até tarde da noite, e pela manhã ia cedo para o colégio.

Suas conversas com Dido também não evoluíam. Ela demonstrava interesse por Iuri, mas eles não conseguiam avançar. Com o tempo, a frustração foi ficando mais evidente.

— Eu não sei explicar direito, Iuri. Eu sinto que existe algo que nos afasta. Não sei bem o que é, mas eu desconfio.

— Como assim? Eu acho que a gente se dá muito bem.

— Sim, isso é verdade. Mas acho que você já percebeu que existe algo entre nós, que fica dançando, pra ser mais que uma amizade. E mesmo assim, tem algo que nos afasta. Eu acho que sei o que é.

— E o que seria.

— Você não quer se envolver. E como se você estivesse comprometido com alguém.

— Eu não estou comprometido com ninguém.

— Eu sei disso. Eu acredito que você não tenha qualquer compromisso. Penso que você mesmo acredita nessas palavras. Mas o seu coração age diferente. O seu coração tem um compromisso.

Iuri olhava para longe. Eles se encontraram aquele dia sozinhos numa das praças da cidade. O sol estava ameno no final do dia, alguns casais passeavam de mãos dadas, e outras pessoas corriam em grupos. Ele gostaria de acreditar que era diferente, gostaria de esconder o que sentia. Tudo, no entanto, estava aparente, e seu amor antigo, a menina por quem ele era apaixonado, agora diante dele, lhe dizia que ele na verdade não gostava dela.

— Olha, a minha vida também está uma bagunça. E eu não vou ficar aqui. Provavelmente eu vou viajar para fazer faculdade. É a vontade dos meus pais. Então a gente não tinha futuro mesmo. Você é um cara legal. Se eu for ficar com você, eu sinto que vou me apaixonar, e depois eu vou sofrer. E eu não quero isso.

— Por que a gente não pode simplesmente aproveitar o momento? Por que a gente não pode só ficar e depois a gente decide o resto? Ninguém sabe nada do futuro. Não devíamos ficar tão apreensivos por algo que a gente não controla.

— Eu gostaria de ser assim. Mas eu não sou. Eu tenho minha vida planejada. Você escapa um pouco dos meus planos. Eu, de certa forma, me deixei levar. Agora eu estou com medo. E você não gosta de mim. Não, é pior. Você gosta de outra pessoa. Se você fosse uma pessoa para apostar num futuro comigo, de insegurança, juntos, eu seria capaz de aceitar. Mas é injusto. Não estamos na mesma situação. Eu não tenho ninguém. E você tem.

Então ela avançou e beijou Iuri.

— O que não quer dizer que não possamos chegar num acordo. Nem pra mim, nem para você. A gente não pode namorar. Eu vou embora. Então encare isso como uma despedida. — E o beijou novamente.

***

Depois da prova, Iuri tinha um tempo para descansar até que os resultados fossem divulgados. Ele estava uma pilha. Ao contrário dos amigos, ele sentia que não tinha uma segunda chance. Não ser aprovado estava fora de cogitação. Era ser aprovado ou morrer.

Como Dido, vários colegas decidiram tentar a sorte em outras cidades, cursos mais promissores, medicina e odontologia. O caminho de alguns estava apenas começando para entrar na faculdade. Ele tinha que entrar naquele momento.

Quando o resultado foi divulgado, não acreditou. Primeiro pensou que não escutou seu nome. Depois ele foi conferir. E lá estava. O terceiro lugar para o curso de direito na Universidade Federal. Ele estava feliz depois de muito tempo.

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