Capítulo 5- Gratidão e amoras

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  A menina sem pressa, com um doce sorriso no rosto, direcionou-se a amoreira, não aparentava estar surpresa, e nem estava.

  - Eu sei! - Disse a pequena.

  - Nada mais me admira nesse lugar! Então aqui todas as árvores falam?

  - Não... Apenas aquela que mais te agrada! Você escuta apenas o que te convém, e de quem quiser...

  - Mas todas as amoreiras são iguais, elas deviam falar também! – Disse Catarina, observando várias espécies.

  - Elas podem ser da mesma espécie, mas cada uma tem o seu diferencial! No caso, essa foi a que te agradou, porém não significa que todas não tenham sua própria magia! Alguém pode passar por aqui, se aproximar da amoreira ao lado, e ela certamente falará, e esta ficará em silêncio! – Aurora disse, fazendo carinho na árvore.

  - E por que agora ela está em silêncio?

  - Elas sabem a exata hora de falar ou silenciar... Agora temos que entrar, não podemos ficar muito tempo aqui, e consequentemente colocar esse lugar em risco, ele serve apenas pra descanso.

  As duas adentraram na cabana, não havia sujeira, nem poeira, parecia que já haviam preparado aquele lugar para a chegada delas, em um cantinho havia uma pequena mesa, e nela tinha frutas variadas, sucos, bolos, e pães frescos.

  Catarina estranhou tudo aquilo, e traumatizada pelos últimos fatos vividos, e também via em filmes e livros que não se podia confiar em tudo aquilo, temeu.

  - Pode comer! Não se preocupa, é tudo pra você... – Aurora disse, percebendo o receio da jovem.

  Então Catarina direcionou-se a mesa e deliciou-se com o banquete até se fartar, ela realmente estava com muita fome, enquanto a menina comia amoras observando-a.

  Ao terminarem de comer, deitaram-se em uma cama, não era grande, mas tinha o tamanho suficiente para as duas, e adormeceram tranquilamente.

  Cerca de três horas depois, aurora despertou, sentia frio, já sabia que estava na hora de partirem, poderiam voltar quando quisessem, mas agora deveriam ir.

  Ela levantou, abriu a porta levemente, viu pequenos flocos de gelo caindo, era neve, realmente tinham que deixar aquele lugar.

  - Catarina... Temos que partir... Já deu nossa hora.

  Catarina levantou-se, estava renovada, com a energia de uma criança, talvez nunca havia se sentido tão disposta em toda sua existência.

  Aurora pegou dois casacos que estavam pendurados na parede, do lado da cama, vestiu um, e entregou o outro para Catarina, que também o vestiu, pois já estava tremendo de frio.

  O chão estava coberto de neve, o lago estava quase congelando, e as árvores que antes esbanjavam cores, agora carregavam o peso da neve em suas folhas, via-se apenas o branco gélido.

  No chão, embaixo da amoreira falante, havia uma cesta, cheia de amoras.

  - Com licença amoreira, posso pegar algumas frutinhas sua?

  - Com certeza Catarina, essas na cesta são para você! – a árvore disse amigavelmente.

  - Obrigada! Agora já aprendi a lição, e pedirei licença sempre que quiser colher algo, e acho que te devo desculpas também... Você vai ficar bem? - Ela perguntou observando a amoreira coberta de neve.

  - Não se preocupe! Tudo isso vai passar... Tudo passa! Quando quiseres retornar a este lugar, estaremos aqui, renovados, e até mais belos, o frio é só mais uma crise que pode até demorar, mas depois passará.

  Aurora aproximou-se e reverenciou a amoreira, que pareceu entender.

  - Estamos indo amoreira, obrigada por tudo. – Elas disseram.

  As duas caminharam até a canoa, desamarrando-a, retiraram toda a neve que estava dentro dela, antes de entrarem, reverenciaram novamente o lugar, e tudo parecia entender... Era o que elas chamavam de gratidão, e isso era mais valiosos que qualquer ouro.

  Então as duas entram na pequena embarcação, colocaram a cesta de amoras em um cantinho seguro, e partiram dali, rumo a seus destinos.

  - Não se preocupa! Tudo vai voltar ao normal, pode confiar em mim. – Aurora disse percebendo que Catarina olhava insistentemente para trás, enquanto remavam.

  Após algum tempo chegaram a uma margem diferente para Catarina, as duas saíram da canoa, a amarraram, alguém certamente a pegaria, para ir até aquele precioso e mágico lugar.

  - Se eu contasse tudo que vi ali, ninguém acreditaria, nem eu acreditaria. – Disse Catarina. – Quem preparou tudo aquilo pra nós, foi a amoreira?

  Quando Aurora preparava-se para responder, um anãozinho de orelhas pontudas, passou apressadamente entre eles, estava tão distraído com algo em suas mãos que nem notou a presença das meninas.

  - È um elfo, precisamos de um deles, se quisermos passar pela fronteira da rainha de gelo. – Aurora disse, puxando a jovem com pressa.

  Elas precisavam encontra-lo... Mas ele parecia ir longe demais...

Conte-me Como É Andar Em Uma Montanha-russaOnde histórias criam vida. Descubra agora