Capítulo 18- Terceira dose?

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  "Uma doze de Amanita muscaria já foi"- Pensava Catarina, enquanto em vão tentava pegar no sono, ainda não havia se acostumado com o fato de ser sempre noite naquele lugar.

  Precisava derrotar a rainha o quanto antes, e voltar para casa, era o que mais desejava.

  Não soube a hora exatamente que pegou no sono, perdida em seus inúmeros pensamentos, finalmente adormeceu.

  Acordou horas depois, ouviu passos a frente a seu quarto, levantou-se rápido, ajeitando-se rapidamente, precisava servir a rainha.

  Saiu para a cozinha, e preparou a segunda doze de chá, estava sendo fácil demais, ela temia que estivesse acontecendo algo errado.

  Porém, ela começou a entender, que o difícil era conseguir a confiança de Lílith, pois apenas assim a magia aconteceria, do contrário, apenas beber nada adiantaria.

  Ela preparou uma linda e farta bandeja, levando até a rainha que sentada enfrente a lareira, observava o estalar das chamas atentamente.

  - Bom dia Vossa Majestade... Lhe preparei uma deliciosa refeição!

  - Por um acaso a humana ver uma estrela gigante transmitindo luz para dar bom dia? Meu satélite é a Lua... Boa noite Catarina.

  A jovem engoliu as palavras a seco, como podia alguém ser tão rude? Ela controlou-se e continuou a falar amigavelmente e pacientemente.

  - Boa noite rainha... Desfrute dessa refeição! – Catarina disse, em seguida observou o lugar e continuou. – Aqui não há muita coisa para se fazer! Desculpa em falar, mas no fundo, a rainha é bondosa, tirar minha vida seria sua melhor opção, porém decidiu me poupar, mesmo que não precisasse de uma serva... Vejo que precisava era de uma companhia.

  - Cale-se humana... Nunca ouvir tantas bobagens... Sempre vivi sozinha, não precisei de ninguém, e muito menos da companhia de alguém cuja raça destruiu minha vida.

  - A rainha não tem culpa do que se tornou, e muito menos do que fizeram com você e sua família, assim como eu, não tenho responsabilidade a cerca dos atos de outros humanos, cada um faz suas escolhas, e consequentemente colhe suas consequências.

  - Vamos brincar de um jogo Catarina? Se é assim que desejas, eu ordeno que jogue comigo, e só termina quando eu digo! Te dou a chance de começar... Me faça uma pergunta!

  - Por que esconde seus sentimentos?

  - Creio que já sabes de toda minha história... Cristal certamente te contou.

  Catarina apenas afirmou com a cabeça.

  - Tive que lutar contra tudo sozinha, crescer de repente, sem ao menos alguém pra te guiar... Você sabe o que é isso Catarina, a solidão? Ver todos os dias apenas a escuridão... E você observar o gelo consumindo tudo, e apenas ter que aceitar?

  Catarina não podia acreditar no que estava ouvindo, e muito menos vendo, uma lágrima teimosa escorreu no rosto de Lílith, ela limpou, tentando disfarçar.

  - Eu achei que a rainha não sabia o que é chorar! Tome esse chá, certamente irá melhorar.

  - Não estou chorando... Agora é minha vez! – Lílith disse tomando um gole de seu chá.

  - Tome mais rainha, fiz com todo carinho.

  Ela então tomou toda a xícara.

  - Está satisfeita? Pois bem... Agora é minha vez... O que sabe de batalhas internas? Eu sei que você luta diariamente, todos os dias, uma guerra em sua mente, e frequentemente está perdendo elas, e foi assim que veio parar aqui, longe demais de sua casa... Você vive no limite... Em seu mundo, você é borderline, aqui se tornou uma guerreira, ao contrário do que pensa, sua luta não é contra mim, mas sim, contra si mesma.

  - Chegaaaaaa. – Não quero mais brincar.

  - Quem diz que está no final do jogo é apenas eu! Eu disse alguma mentira? Você sabe que não! Aceite e lute como uma verdadeira guerreira que se diz ser...

  Catarina não aguentou as palavras, saiu por impulso da presença da rainha e direcionou- se para a cozinha, estava tão irada, não sabia se era com as palavras da rainha, porque no fundo sabia que eram verdades, ou se era com ela mesma, então preparou a terceira dose do chá.

  Voltou a sala, porém a rainha não estava mais lá, então saiu a sua procura, a encontrando perto das coníferas, observando as estrelas.

  - Perdão por ter saído daquela maneira.

Lílith apenas sorriu pela primeira vez.

  - Quando pretende soltar Aurora?

  - Na verdade nunca... Quero que Cristal sinta a solidão, da mesma forma que eu senti a minha vida inteira! Vamos ver quanto tempo mais a pequena consegue sobreviver.

  - Você não pode fazer isso? Achei que tivesse um coração!

  - Aproveitando seus achismos, achei que pensasse que não tivesse um! Mas te respondendo, eu o tenho, ele ainda bate fortemente, porém congelado.

  Lílith se pôs a caminhar, observando o céu estrelado, a jovem a seguiu, estranhando o fato da luminosidade no céu, a tempos ele não estava tão limpo.

  Ela observou então ao longe, a grande muralha de gelo, e percebeu algo estranho, ela estava diminuindo, agora dava para ver seu topo.

  - Por favor, lhe imploro que solte Aurora.

  - Não! E vamos voltar para casa.

  - E seu chá?

  - Não quero! – Ela disse, jogando a xícara ao chão. – Não insista em me contrariar, não soltarei Aurora, ela verá a morte.

  Dizendo isso, voltou apressadamente a seu chalé, e a jovem a seguiu, não foi dessa vez, que conseguiu!

Conte-me Como É Andar Em Uma Montanha-russaOnde histórias criam vida. Descubra agora