Tudo começa pelo fim

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Erik se debruça sobre a partitura escrevendo as notas freneticamente, não as quer deixar escapar. As palavras são rabiscadas e exprimem seus pensamentos e sentimentos com tanta intensidade que parece estar em transe.

"E os anos vêm, e os anos vão
Tempo corre seco
A dor dentro de mim continua
Minha alma partida
Não pode estar viva e completa
Até te ouvir cantar mais uma vez"

Levantou a folha com o trecho que acabou de compor. Aquela noite foi mais uma em que esteve perdido em suas lembranças. Compôs mais uma estrofe e tocou em seu piano. Era a sua música invocando seu passado. Desejava sua musa ali e a tinha na palma das mãos. Imaginou suas curvas perfeitas e sua voz melódica em sua cama.

"E a música, sua música
Brinca em minha orelha
Eu me viro e ela desaparece, e você não está aqui"

Mais um trecho e levantou-se, andou até a janela do seu quarto que ficava no primeiro andar da sua mansão. Agora não se escondia mais em subterrâneos imundos e muito menos atrás de cortinhas empoeiradas. Mas era refém do seu desejo, vontade de tê-la ali, com ele mais uma vez. Andou novamente até o seu piano e compôs a última estrofe.

"Deixe as esperanças e os sonhos passarem
Deixe-os morrer
Sem você, o que eles são?
Eu sempre vou sentir
Não mais que semi-real.
Até te ouvir cantar mais uma vez"
Então começou a tocar e cantar a canção desde o seu início. (Música a seguir)

Madame Giry o ouvia do lado de fora do quarto. No corredor sentia a sua música a tocando mais tão profundamente que lágrimas lhe vieram aos olhos. Quando notou que ele havia terminado, usou o seu lenço para limpar as lágrimas que haviam escapado sem permissão e bateu a porta.

Ouviu a voz grave de Erik permitindo a sua entrada. Quando entrou, o encontrou junto a grande janela. As luzes da cidade iluminavam o quarto. Quem diria que um dia Erik apreciaria tanta luz em cima de si. Isso lhe fez sorrir por um breve momento.

- O que deseja madame?

- Veja Erik - Estendeu um envelope que ela julgou demasiado grande e demasiado lacrado. As vezes lhe interessava ler as correspondências que chegavam a mansão. Tinha cá seus motivos, embora não fosse uma atitude plausível, mas amava Erik como a um filho, e temia que ele estivesse planejando algo que pudesse prejudicar a si mesmo e colocar o seu futuro em risco. Não apenas o futuro dele, mas também o dela, que escolheu segui-lo até aquela terra distante. Também pensava no futuro da sua filha Meg. - O Sr Mendonça trouxe pessoalmente e pediu para entregar a você.

- Finalmente! - Erik caminhou com entusiasmado. Pegou o envelope e ficou olhando para ele como se fosse um grande prêmio. - Obrigado, madame. Se me permite, quero ficar sozinho.

- Não vai até às apresentações dessa noite? Terá o novo número.

Ele olhou para ela surpreso e falou com um breve sorriso.

- Eu havia esquecido. Espero que não seja tarde. - Colocou o envelope na gaveta da mesa e fechou a chave. Giry achou aquilo muito estranho, afinal o que será que há de tão importante ali. Ele jogou a capa nos ombros a fim de se proteger do frio e caminhou para a porta. - Vamos madame! Não quero perder mais tempo de espetáculo.

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