Giry andava sozinha por uma rua escura. Caminhava apressada, pois quase nunca havia estado ali. Na verdade, somente algumas vezes sentiu a necessidade de caminhar por aquele lugar tão sombrio. Ela estava com medo, porém decidida. Apenas ali encontraria o que era necessário. Nunca pensou que uma mulher como ela precisaria usar de tais artícios, mas se era necessário, assim seria.
Chegou no fim da rua e sentiu pequenas gotas da chuva fria que se iniciava. Ainda bem que já havia chegado a seu destino. Suspirou aliviada quando viu a pequena casa que veio visitar com a luz acesa. Não daria viagem perdida. Arrumou o chapéu e bateu na porta de madeira. O homem abriu imediatamente, parecia advinhar que havia alguém do outro lado e já estava junto a porta. Quando a viu, sorriu entusiasmado.
- Deu sorte senhora, eu já estava de saída. - Quem olha para ele não diz ser um homem de caráter duvidoso, pensou Giry. De aparência mediana, por volta dos 50 anos, aparentava ter no máximo 40. Um homem de estatura alta e ombros largos.
- Me dê um pouco do seu tempo, lembre-se , sempre tenho algo muito lucrativo para oferecer.
- De certo que me lembro. Como esqueceria? - Deu espaço para que ela entrasse e fechou a porta atrás de si. Quando se virou para ela, Giry já estava sem o chápeu e a capa. Sorria para ele com feminilidade que escondia durante os outros dias da sua vida. Ali com ele tinha que ser uma Giry diferente.
- Você, Margharet, sempre vem com esse cheiro de rosas para me enlouquecer. Desde que lhe mostrei do que sou capaz, sempre que quer dos meus serviços, vem aqui. - Ela deu um sorriso ainda mais malícioso. Soltou os cabelos e eles caíram em uma cascata negra até a cintura.
- Você é o único que fala meu nome, sabia? Apesar disso não o acho igual a mim.
- Nem quero. - Ele a enlaçou pela cintura e começou a beijar seu pescoço. - Diga o que quer de uma vez. E vamos ao que interessa. Tenho certa urgência de você.
- Veneno. - Ele ergueu a cabeça e foi olhar em seus olhos. Nem parecia a mulher pudorada que bateu em sua porta poucos minutos atrás. Mordia os lábios e acariciava seu rosto a fim de conseguir o que queria.
- Outra vez? O que fez com o outro frasco? - Ela gargalhou e falou se desprendendo dele.
- Usei. Não o peguei com você para não usar. - Começou a desabotoar o colete. Ele tirou o casaco e blusa e foi abraça-la pelas costas. Beijando seu pescoço e passeando a mão por dentro da sua anagua, começou a negociar com ela;
- Dessa vez só seu corpo não vou aceitar como pagamento. Você é bonita, mas eu tenho que pensar no meu estômago.
- Miserável. Que seja 30 moedas então?
- Não me chame de miserável! - Ele colocou a mão em sua nuca, subindo e espalhando pelo seu cabelo, dando um puxão que Giry achou demasiado prazeroso. - 50 moedas e 5 noites, não aceito menos do que isso.
- Feito. Vamos logo com isso, se faz tarde.
- Não tema, a acompanho até onde for mais seguro. Sexta a noite não é difícil ter movimento. Os boêmios se unem aos trabalhadores.
- Boêmios e trabalhadores bêbados nunca foi sinônimo de segurança.
- Você com essa cara de dama é mais perigosa do que todos eles juntos. - Ela pensou no que ele disse e falou em um sorriso franco.
- Sou o que o outro merece, e o que for necessário ser. As vezes temos que fazer o que tem que ser feito, mesmo quando não é agradável.
- Hum... não quero saber para quem é o seu presente mortal, só quero meu pagamento...
- Sou muito precavida. - Ela tirou do espartilho um saco de moedas - 60 moedas. Sabia que pediria mais. Quero silêncio total.
- Assim será. - Ele pegou as moedas e jogou sobre a mesa. - Agora vamos para a melhor parte do acordo.
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Meg estava se olhando no espelho. As vezes se sentia mais velha do que de fato era. E os eventos recentes parecem estar lhe sufocando. Sua mãe estava fora de si. Erik estava fora de si. Ouviu rumores sobre o marido de Christine, eram perturbadores. No fim, ela começou a entender a vontade de Christine. E Gustavo, bom, por mais que não apreciasse a idéia, era filho do Erik, não havia o que fazer. Tinha o direito de tudo como herdeiro. Mas como convencer sua mãe a deixar tudo aquilo para lá. Tinha certeza que Erik não as desprezaria. Se elas não se entrometerem em sua vida, ela será o mesmo de sempre. Ela já não alimentava ilusões por ele. Sabia que nunca ocuparia um lugar em seu coração. Então que ao menos não fossem inimigos.
Meg ouviu a porta se abrir. Era a sua mãe. Seus cabelos estavam um tanto desalinhados, o que era bem incomum. Mas resolveu não questionar sobre nada. Ela sempre fora tão misteriosa. Apenas lhe deu um sorriso de boas vindas.
- Mamãe, já estava preocupada. A hora está um tanto avançada.
- Fui visitar uma velha amiga e me perdi nas horas. Gentilmente ela mandou seu criado me acompanhar.
- Que bom. Foi bom que pude lhe ver antes de dormir. Amanhã não teremos muito tempo para falar.
- Dia de estréia.
- Isso mesmo... Amanhã será a estréia. Sabe minha mãe, eu estive pensando. Quero lhe pedir algo. Um pedido de filha. Peço que não se recuse.
- O quê? - Giry ergueu uma sobrancelha. Não estava gostando do rumo daquela conversa.
- Deixe Erik em paz. Deixe-o viver como quiser. Não se meta mais na vida dele. E sobre Gustavo, ele é o filho dele... então por favor...
- Você acreditou nisso?
- Está na cara. Estampando para quem quiser ver. Não tenho duvidas. Eu quero viver tranquila, sem pensar que está planejando algo que possa nos prejudicar.
- Tudo o que faço é por você...
- Se é assim, então por mim, pelo amor que me tem, esqueça tudo que esteja planejando. Já chega.
Giry já estava decidida. Não voltaria atrás. Mesmo que Meg lhe pedisse de joelhos, ela faria. Mas esconderia seus planos da filha e fingiria redenção. Ela poderia pôr tudo a peder. Teria que fazer o trabalho sujo sozinha. Em silêncio matou um homem que importunava Meg e que quase ganhava seu coração. Ela não queria Meg comprometida com mais ninguém. Matou o homem para que o caminho estivesse livre para Erik. Naquela época se sentiu um pouco mal, mas depois se convenceu que fez o que era necessário. Agora outro momento como aquele. Meg nunca saberia nem de uma coisa, nem de outra. Ela faria parecer uma vingança de um marido traído. Mãe, pai e filho mortos em nome do seu amor por Meg. Erik finalmente olharia para Meg sem Christine no caminho. Ela olhou para a filha e lhe deu um sorriso convicente
- Então nos daremos por vencidas, Meg. Por você. - Meg lhe abraçou entusiasmada. Que bom que conseguiu finalmente convencer sua mãe. Teriam paz por fim.
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Uma Vez Mais
FanfictionErik estava debruçado sobre o seu companheiro de solidão, seu piano era o seu único alento. - Ah Christine ! - Suspirou. - Tenho que sentir você uma vez mais, e me sentir vivo outra vez. Baseado na obra - O Fantasma da Ópera - Andrew Lloyd Webber