Quanto vale a honra?

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A platéia foi ao delírio com o último número. Erik já prévia isso. Ele tinha muita habilidade para dirigir e tudo que fizera até aquele momento, tinha sido sucesso absoluto.

Arrecadou milhões de dólares em pouco tempo graças a isso. Lógico que agora estava cheio de homens importantes interessados em financiar seu espetáculo em troca de ter sua mercadoria citada durante o show, ou no caso de políticos, ter seus nomes ditos de forma lisonjeira e polida.

Ao fim do show, ele mesmo ia até ao palco agradecer a presença de todos. Hoje levava consigo um buquê de flores amarelas. As entregou para Meg. Foi uma forma de dizer que ela esteve incrível àquela noite e que valeu a pena deixar o show para o seu destaque.

Quando as cortinas se fecharam, a pequena Meg o abraçou e ele, apesar da surpresa, retribuiu risonho.

- Muito obrigada! Estou muito feliz! - Ela disse encostando o rosto em seu peito.

- Você fez por merecer Meg, sabe que sou muito exigente.

- Sim, por isso mesmo me sinto orgulhosa.

- E deve ficar realmente. - Erik findou o abraçou e a olhou risonho. - Já estamos esgotados para a próxima semana. - Os olhos verdes de Meg brilharam de tanta empolgação.

- Nunca em meus mais lindos sonhos poderia imaginar algo assim. Como estou feliz! - Ela deu pequenos pulos e Erik gargalhou. - Onde está a minha mãe? Aposto que está corrigindo quem errou durante o show. - ambos sorriram.

- Não dúvido. Madame tem pulsos de ferro. - Erik se inclinou para parecer lhe fazer uma confidencia. - Mas esteve o tempo inteiro elogiando você no camarote. - Meg sabia porque sua mãe fazia questão de elogiar seu talento diante do Erik, ela queria vê-los juntos. Meg amava Erik, mas não queria sua mãe envolvida nisso. Já perdeu as contas de quantas vezes disse isso, mas madame Giry não parecia lhe dar ouvidos. Ela olhou para Erik bastante corada e sem demora buscou uma desculpa para sair dali.

- Então vou procurá-la. Quero ouvir diretamente dela tantos elogios. Isso é raro.
Enquanto ela se virava para partir, Erik sentiu uma mão tocando o seu ombro. Se virou para ver quem era e se deparou com Ramon Martanhes, seu homem de confiança, ou quase isso, já que não confiava plenamente em ninguém. O homem era baixo e barrigudo. Vestia-se com elegância. Geralmente tratava de assuntos secretos de Erik.

Erik mandou chamá-lo um pouco mais cedo, mandou um recado pedindo para que ele viesse vê-lo o mais breve possível. E o homem assim o fez.

- Ramon! Venha, vamos ao escritório. Espero que tenha as informações que lhe pedi há mais de um mês.

- Sim senhor. Finalmente as tenho. Não foi tão difícil assim de conseguir. Só estávamos procurando no lugar errado. Consegui o que me pediu graças a conhecidos em Londres.

- Londres? Pensei que os encontraria em Paris.

- Não. Segui as pistas de um jornal.

- Jornais? - Erik ficou pensativo - Então Christine estava mais famosa do que ele imaginava. Isso tornaria tudo mais complicado, se não impossível. Agora entendia porque a correspondência que recebeu vinha de Londres. Tudo fazia sentido.

- Sim. A dama já tem certa fama na Europa. O fantasma também. - Erik sentiu seu coração gelar. Parou por uns momentos e olhou para Ramon que o olhava sem expressão alguma.

- Fantasma? - Erike retomou o caminho e Ramon o acompanhou.

- Segundo meu amigo, o senhor virou uma lenda na Europa. Embora  Raul tenha feito o impossível para que essa fama se dissipasse. Sempre, em entrevistas com a sua esposa, diz que o fantasma nada mais era do que um homem desequilibrado e assassino.

- Ele estar vivo é prova suficiente de que não sou um assassino. - Erik ergueu o queixo e falou orgulhoso.

- Então, as pessoas hoje sabem que as mortes das quais o senhor foi acusado foram acidentais. - Erik parou novamente. Dessa vez a emoção que o tomava era alívio. Não poderia ter notícia melhor do que àquela. Finalmente descobriram que ele era inocente. Estava sim em um desequilíbrio emocional muito latente. Mas nunca tirou a vida de outra pessoa. Nem se quer os animais que dividiram espaço com ele nos poços em que ele se escondeu no passado. - Lorde Raul não ficou muito satisfeito. Pois ainda hoje associam a sua imagem a sua esposa. - Erik voltou a caminhar. Finalmente chegaram ao seu escritório. Ele se sentou em sua costumeira cadeira, e ofereceu o acento a frente a Ramon, que se acomodou rapidamente.

- Eu estive pensando em uma ideia. Mas antes, quero mais informações. Você as tem?

- Depende. Do que fala?

- Se a Christine está em boa posição nos jornais...

- Não é bem assim, senhor.

- Não? Do que fala?

- Estão falidos. E a Dama está nas  colunas sim, semanalmente. Mas está cercada de notícias escandalosas.

- Como pode ser?

- O Visconde Raul anda jogando demais. Gosta de apostas. E tem um apreciação por bebidas. Gastou toda a sua fortuna dessa maneira. - Erik estava atônito. Nunca imaginou que algo assim poderia estar acontecendo. Agora estava ainda mais curioso pelo conteúdo do envelope. Mas não queria alimentar a ansiedade.

- O que mais ?

- Uma meretriz o acusou há umas semanas atrás de usar os seus serviços e de não pagar. Por isso mudaram-se para Londres.

- E Christine? - Erik estava pasmo com as notícias. O cenário era desastroso, mas muito vantajoso para ele. Era uma maneira egoísta de se pensar, mas era satisfatório para ele pensar que havia esperança.

- A Madame está cantando, e segundo as más línguas, sustentando seu filho e seu marido boêmio.

- Filho? - Outra surpresa.

- Sim, já tem 7 anos.

Erik levantou altivo. Colocaria seu plano em prática. Se funcionar, e acreditava muito que funcionará, comprará a honra de Raul. Embora ele não tenha nenhuma.

- Quero que se comunique com seus contatos em Londres. Quero Christine Daaé, seu marido e seu filho aqui nos Estados Unidos. Mas não devem saber que sou eu que quero contratar os serviços da dama. Diga lhes que o senhor é o diretor da casa e quer fazer uma temporada especial tendo Christine como cantora principal. Ofereça muito dinheiro. Muito. Torne algo impossível de se recusar. - Ramón achou que seus olhos pareciam vagar por seus sonhos. Está enlouquecendo? Talvez... Sempre o achou meio fora da realidade. Mas eram os seus desvaneios que o fizeram milionário. Ramón aprendeu a confiar na sua loucura. Quanto será que custará a honra de Raul? Fazia votos que quase nada.

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