Continuação II

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Por meses seguiram assim, Christine e Erik. Ele dava aulas as escondidas e ela achava que sua presença enchia o quarto. Para ela, ele era um espectro da noite. Que sempre precisava das trevas para se materializar a sua frente. Quase todas as noites, depois das aulas e antes de dormir ela lhe pedia que ele a estreitasse nos braços e que só partisse quando ela adormecesse. E assim era. Durante o dia ele cuidava dos assuntos do teatro. Ele era mais dono dele do que o próprio do dono. Ele havia feito aquele lugar se erguer, por isso o dono sempre lhe ouvia. Mesmo nunca tendo lhe visto, mas ele lhe ouvia. E quando achava de se rebelar, ele pregava peças simples. Nada que fosse contra a vida de alguém, mas que assustasse. Era assim que mantinha o controle de tudo. E já havia decidido que Christine era a estrela da próxima temporada. 

Mas na entrada do ano algo mudou. O dono real do teatro o vendeu. Isso pegou Erik e a todos de surpresa. Madame Giry correu até o esconderijo do Erik, estava preocupada com o futuro. E se o novo dono não ouvisse Erik. E se ele explorasse as profundezas daquele teatro e expulsasse Erik de lá?

Estava desesperada. Quando chegou ao esconderijo, encontrou Erik tocando piano e escrevendo em sua partitura. Compondo nesse redemoinho? De fato, madame Giry nunca iria entender seu modo de ser.

-Erik! -Ele não levantou a cabeça da partitura.

- O que deseja madame?

- Os novos donos do teatro estão para chegar. O que faremos?

- Nada. - Giry não entendia a calma dele. 

- Como assim nada? Não entende o que isso representa?

- O desespero nunca é bom conselheiro. Vamos analisar a personalidade desses homens, e daí então fazer um plano de ação. Agora são apenas estranhos.

- Eu já os conheço meu querido. Sir Bengan, Sir Hoston, e o Visconde Raul de Chagny.

- Como soube?

- Sir Benjamim comentou antes de vender. E eles vieram prestigiar o último espetáculo do ano passado. Ficaram no camarim mais caro do teatro.

Erik tentou puxar pela memória e não demorou muito, logo pode se lembrar das figuras masculinas vestidos com toda a pompa e cercados de belas damas.

- Me falou com certa ironia. Creio que já conversou sobre você com os novos proprietários.

- Parecem da alta corte, porém estúpidos.

- Não pode subestimar as pessoas dessa maneira Erik. Sinto que teremos problemas.

- Calma madame. Não fique ansiosa a toa.

- O tenho como a um filho Erik. Então cuide-se. Ficarei aguardando uma ideia sua para que nada dê errado.

- Não tema. Já sei como faremos. Vá descansar.

- Erik, quanto a Christine...

- Sim?

- Tome cuidado com isso também.

- Estou tomando, madame.

- Está apaixonado por ela, não é mesmo?
Ele soltou a pena e se levantou caminhando até Giry. A olhou bem nos olhos e falou cheio de pesar.

- Nunca imaginei em minha desastrosa vida amar a uma mulher, madame. Mas amo a Christine. E vou protegê-la como se ela fosse parte do mim... Afinal, ela é.

- Criança, por que não volta a sensatez? Estou tentando proteger você, mas não me ouve nunca.

- Eu não sou mais uma criança, madame.

Ela não disse mais nada. Apenas deu um giro e foi embora. Não adiantava discutir.

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