Continuação I

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Giry caminhou apressadamente para o esconderijo de Erik. Nem a sua própria filha conhecia Erik. Ele e ela preferiram assim. Mas agora Erik parecia ter perdido o juízo.

O que ele fazia ali no meio do teatro? Perseguindo a corista? Isso não estava cheirando bem. Ela teve que caminhar alguns minutos para chegar onde queria.

Ela não conhecia todas as passagens daquele teatro. Erik conhecia tudo ali. E usava isso a seu favor, combinavam de pregar peças afim de tirar um pouco de dinheiro do dono do velho teatro.

Ela achava justo. E gostava da inteligência do Erik. Ele sabia o que fazer. Tinha ótimas ideias. Quando ela o acolheu, não imaginava que isso mudaria sua vida para melhor. Apenas queria fazer caridade. Mas agora conseguia viver bem com sua filha, embora vivessem no teatro, ela teria dinheiro se resolvesse partir e devia isso ao Erik e suas idéias.

Ele era um gênio, ela não duvidava. Mas agora estava muito brava com ele. Se arriscar dessa maneira era uma tolice. Adentrou a passagem que levava para o que ela achava parecido a uma sala de visitas do calabouço em que ele vivia. Era grande. Tinha um piano e um sofá pequeno. Depois dali havia um passagem de água suja. Ela não sabia como alguém conseguia viver naquelas condições, mas ele nunca reclamou.

Não o encontrou na sala, então se viu obrigada a atravessar a água suja. Engenhosamente Erike havia feito uma pequena canoa para não precisar tocar na água. De certo até hoje ela não sabia como um piano e uma canoa foram parar ali sem ninguém notar. Erike deve ter usado uma das passagens, pensou.

Finalmente chegou no quarto... Só chamava assim porque havia uma cama e um guarda roupas. Ali as paredes eram de pedra, e estava sempre com uma sensação de trevas e umidade. Mesmo assim não era sujo. Erik tinha fascínio pelas rosas. Então o ambiente tinha um cheiro incrível de rosas. Cada lugar se sentia aquele perfume inebriante. Se não fosse um calabouço, até seria agradável estar ali.

- O que a trouxe aqui madame? - Madame Giry se assustou com a voz de Erik a suas costas. Levou a mão ao peito e falou depois de uma respiração profunda.

- Erike! Quase me mata. Não percebi que se aproximava.

- Mil perdões! Não tive a intenção. - Ele deu um pequeno riso travesso - Mas me diga, o que faz aqui tão tarde?

- Erik... - Ela se virou para ele e notou que ele estava sem a costumeira máscara. Não conseguia não olhar para aquelas deformações em seu rosto. Metade belo, metade tenebroso. Erik notou seu olhar insistente e colocou a mão sobre a metade deformada de seu rosto e andou para o guarda roupas afim de encontrar uma de suas máscaras. Giry respirou fundo e retomou a conversa de forma a não aborrecê-lo. - Eu quero antes de tudo entender o que passa... O que fazia seguindo aquela corista?

Ele sentiu o coração descompassado ao ouvir madame Giry falar sobre a moça que acabou de conhecer .

- Por que está preocupada com isso? Ela não me viu... - Ele colocou a máscara e se virou para Giry novamente. Agora estava confiante e altivo. Ela ficava impressionada como sua postura mudava quando parte do seu rosto era coberto.

- Se engana. Ela notou sua presença. E me fez perguntas...

- Que tipo de perguntas? Notei que conversavam, mas eu não conseguia ouvir... - Ele estava curioso.

- Tolices! É uma jovem e como é de se esperar, fantasia tudo.

- Me explique madame... - Ele era jovem, mas nunca se permitiu fantasia alguma.

- Primeiro você era um fantasma...

- Não deixa de ser verdade. - Ele até achou graça.

- Por último disse que espera um anjo vindo a mando de seu falecido pai.

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