Encontrando velhos amigos

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Batidas na porta um tanto nervosas tiraram Erik dos seus pensamentos. Caminhou apressado para abrir. Assim que abriu viu seu funcionário com um sorriso estampado no rosto.

- Entre Ramon. Tem boas notícias? - Ele tomou a frente e sentou em sua poltrona. Ramon entrou e fechou a porta.

- Seus convidados já estão instalados nos aposentos que designou.

- Muito bom. Em algum momento suspeitaram de algo?

- Não senhor. Mas logo saberão, ou não?

- Sim. Mas tenho cá meus planos. Um tanto audaciosos.

- Não conheço algo que tenha planejado que não seja audacioso, lorde.

- Sim. Mas me conte, qual foi a sua impressão sobre a família?

- Que os meus contatos estavam certos, mas não estavam retratando os fatos de maneira a total realidade.

- Não? Estão exagerados? - Erik se preocupou. Seus planos só teriam chance de funcionar se o que soube estivesse correto.

- Meus contatos foram gentis ao descrever a situação dessa família. O que vi foi uma dama que se envergonha dos maus modos do marido, pois era nítido que estava meio embriagado e mesmo com uma aparência e vocabulário não muito polido, era bastante soberbo. A jogatina foi a primeira coisa que chamou sua atenção. O cassino com certeza será um de seus destinos aqui.

- Christine parece feliz com sua família?

- Com seu filho é bastante amorosa. É uma criança bastante curiosa. O achei demasiado agradável. E olhe que nem me agrado de crianças. Já com seu marido... O relacionamento é distante. - Erik olhou para Ramon por um estante, pensando nas coisas que ele dizia. - Lorde, se me permite uma pergunta, tem interesse nessa senhora?

- Não me ligam a essa senhora nos jornais?

- Falam de uma história de um sequestro... Mas também é tido como lenda.

- Então que continue assim. O que importa é daqui para frente. Ouça Ramon, quero encontrar com ela a sós. Então vou encarregar você de distrair o Visconde enquanto vou aos aposentos da dama.
Ramon sorriu com malícia, Erik não se importou. - Leve-o para o cassino... Faça com que se comprometa ainda mais. Quero que a sua esposa se canse de seus vícios.

- Não será difícil. Mas quero lhe perguntar... A pouco me questionaram se podem ir ver o palco do circo...

- Mas já? Pensei que estariam cansados.

- Pai e filho parecem ansiosos para conhecer o local.

- Então não há problemas. Aproveito e deixo um mimo para o pequeno nos aposentos sem que me vejam.

- E quando deseja que eu leve o Visconde para o cassino?

- Amanhã... Escreva que quer vê-lo após os espetáculos da noite... Me convém que ele se perca noite adentro.

- Assim será! Limite de gastos?

- Sim e não... A bebida é por minha conta. Mas o que ganhar ou perder já não será, deixe claro.

- Sim senhor.

- Algo não perguntei ainda, como o Visconde trata a sua esposa?

- Com grosserias. Não vi à tratar com amabilidade em nenhum momento no trajeto para cá. Quanto ao seu filho... O trata sem paciência. Está completamente alheio a sua família.

- Certo. Agora vá. Vou cuidar das coisas.- Ele tirou um saco de moedas e deu ao homem, que sorriu ainda mais animado. - Um extra pelo ótimo trabalho.

- Grato meu senhor. Tenha um bom dia.
Erik nada disse, apenas fez uma breve reverência e viu o outro sair fechando a porta. Assim que ele falou na criança ele teve uma idéia que alcançaria tanto a mãe quanto o filho. Quem sabe fazer o pouco de suspense. Riu consigo mesmo. Pegou uma caixa de música que havia feito um tempo atrás. A música que ela entoava era a que ele havia feito para Christine no passado. Será que ela se recordaria? Esperaria vê-los sair do Hotel e iria até os aposentados deixar a caixa em cima do piano. Com certeza se destacaria lá.

                    ********************

Christine entrou apressada no camarim porque Gustave não se conteve e corria de um lado para outro admirando as pessoas que passavam por ele. Christine achava tudo ali muito estranho. Eram pessoas com anomalias, personagens feios. O corpo de balé desceu e se misturou aqueles personagens estranhos.

- Gustavo fique perto de mim! - Ela o chamou, mas ele parecia não ouvir. Raul sem mais paciência, o puxou pelo braço e o colocou junto a mãe. Fora demasiado agressivo. O menino se enroscou na cintura da mãe e começou a chorar.

- Acaso não é homem? Pare já com isso. Você me enerva.

- Calma Raul, ele é apenas um menino.

- Por isso ele é assim mal criado.

- Por que o rapazinho está chorando? - Uma mulher estranha perguntou. Gustavo olhou para ela encantado. Quantas pessoas diferentes! - Quer um pouco de algodão doce?

- Posso mãe? - Christine olhou para a mulher um tanto desconfiada.

- Não se preocupe. Estaremos logo ali.- A mulher apontou para o homem mais esquisito ainda que servia algodão doce uns passos a frente.

- Pode. Agora não saia das minhas vistas. Entendido?

- Sim! - Ele sorriu novamente e correu em direção ao homem. A mulher foi atrás dele tentando alcançar seus passos.

- Você está estragando ele.

- Por que o trata assim? É seu filho. Você era um homem tão diferente quando o conheci.

- Não se atreva a falar disso. - Ele a olhou com rancor. Ela silenciou e abaixou a cabeça.

- Ele me lembra o que quero esquecer. - Ela nada disse. Ele então ficou analisando o espaço, quando viu alguém que imaginou não ver nunca mais. - Madame Giry?

- Como? - Christine ergueu a cabeça e viu Giry que olhava para eles atônita. Meg apareceu atrás dela sorridente. Ainda vestia as roupas do espetáculo.

Os quatro ficaram se olhando sem dizer coisa alguma. Até que Meg resolve quebrar o silêncio.

- Christine! Visconde! - Abraçou Christine e ofereceu a mão para que Raul beijasse. - Que bom tornar a vê-los. Como vieram parar aqui?

- Estou me perguntando o mesmo sobre vocês. - Raul falou com um sorriso forçado.

- Viemos para cá já há tanto tempo. Minha mãe recebeu um convite irrecusável.

- Todos são. Por isso estamos aqui. - Raul respondeu.

- Então está a trabalho, Christine?

- Sim. Vim cantar, mas não sei exatamente o que ainda.

Meg e Giry trocaram olhares. Giry estava furiosa, mas tratava de disfarçar. Meg estava temerosa. Perderia seu posto que lutou tanto para conquistar?

- Então vamos nos encontrar muito. Sou estrela principal do espetáculo.

- Não faz sentido. Christine foi chamada justamente para isso.

- Deve ser mais um espetáculo. Venham, vamos brindar ao nosso reencontro. - Meg pegou no braço de Christine e a arrastou para perto do seu camarim. Ela procurou Gustavo com os olhos e o viu. Meg lhe entregou um copo e entregou outro ao Raul e a sua mãe, que nada havia dito até aquele momento.

- Um brinde aos reencontros. - Ergueram os copos e brindaram sorrindo.

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