Capítulo 14 - Não acredito!

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Naquela noite, Ana Clara foi ver Melissa. Foram direto para o quarto. Dessa vez a conversa não era com Raquel.

_ Vim para te fazer um pedido. E é muito importante.

_ Se veio a pedido da sua irmã, pode ir embora.

_ Ela não sabe que vim falar com você, mas sim, vim por causa dela.

_ Então nem precisa começar. Você sabe o que ela fez.

_ Eu sei. Ela pisou feio na bola. Mas Melissa... Poxa, ela não tem ninguém. E ela te adora.

_ Até parece. Ela já está toda "enturmadinha"!

_ Não é verdade. Ela tem dificuldade em se sociabilizar. Sempre foi assim.

_ Do que você está falando? A Alice é divertida e falante, todo mundo gosta dela.

_ Talvez gostem dela, mas ela não gosta facilmente das pessoas.

_ Olha... Eu acho que estamos falando de duas pessoas diferentes. Porque a Alice que eu conheço...

Ana Clara segurou gentilmente no antebraço da amiga, fazendo-a parar no meio da frase.

_ Melissa. Acredite em mim. Minha irmã é uma pessoa boa. Não desista dela.

_ Não sei não. Ela...

_ Me escuta. Ela não é fácil, eu sei. Já passei por poucas e boas por causa dela. É complicado. Mas ela precisa da nossa ajuda.

_ Mas ela foi a maior falsa, ela não podia ter... Poxa, eu confiava nela. Vai saber o que mais ela falou pelas minhas costas.

_ Eu juro que ela tem muito mais de bom que de ruim. Pelo amor de Deus, você a conhece desde que nascemos. É da Alice que estamos falando.

_ Ela parece outra pessoa, uma que eu não conheço, e nem sei se quero conhecer.

_ Nós precisamos ajudá-la, ela só tem a gente.

_ Ainda estou muito magoada.

_ Não é por maldade que ela faz essas coisas. Ela sente medo.

_ Medo de quê?

_ De tudo. De não ser aceita, de ser julgada, discriminada, rejeitada, de não ser boa o suficiente. Ela sempre foi assim.

_ E ela pensa que agindo assim, pelas costas, vai ajudar?

_ Ela não percebe a gravidade das coisas que faz, depois fica arrependida, se martirizando, sentindo culpa. Eu sei do que estou falando. Por favor, pelo menos conversa com ela. Ela está sofrendo demais.

_ Não sei. Vou pensar.

_ Eu não vou voltar para aquela casa, e minha mãe nesse momento é incapaz de enxergar a Alice, só tem olhos para a traição e para a volta do meu pai. Eu não tenho paz sabendo que vocês estão brigadas. Por favor, por mim. Ao menos ouça o que ela tem para dizer.

_ Eu prometo que vou pensar. Mas por você.

Ela iria com certeza voltar a falar com Alice, estudavam na mesma sala e moravam em casas coladas no mesmo muro, mas ainda não estava pronta.


Sentava distraída em seu caixa, a loja estava quase vazia naquela tarde e ela resolveu ir ver o avô. Não parava de pensar sobre a conversa que ele queria ter com ela. Se tivesse entrado no escritório cinco minutos antes, toparia com a mãe.

_ Bom dia vô.

Aldo tirou os olhos de uma prancheta e olhou para a menina magricela no vão da porta.

Muito prazer... Sou sua filhaOnde histórias criam vida. Descubra agora