Naquela noite, Ana Clara foi ver Melissa. Foram direto para o quarto. Dessa vez a conversa não era com Raquel.
_ Vim para te fazer um pedido. E é muito importante.
_ Se veio a pedido da sua irmã, pode ir embora.
_ Ela não sabe que vim falar com você, mas sim, vim por causa dela.
_ Então nem precisa começar. Você sabe o que ela fez.
_ Eu sei. Ela pisou feio na bola. Mas Melissa... Poxa, ela não tem ninguém. E ela te adora.
_ Até parece. Ela já está toda "enturmadinha"!
_ Não é verdade. Ela tem dificuldade em se sociabilizar. Sempre foi assim.
_ Do que você está falando? A Alice é divertida e falante, todo mundo gosta dela.
_ Talvez gostem dela, mas ela não gosta facilmente das pessoas.
_ Olha... Eu acho que estamos falando de duas pessoas diferentes. Porque a Alice que eu conheço...
Ana Clara segurou gentilmente no antebraço da amiga, fazendo-a parar no meio da frase.
_ Melissa. Acredite em mim. Minha irmã é uma pessoa boa. Não desista dela.
_ Não sei não. Ela...
_ Me escuta. Ela não é fácil, eu sei. Já passei por poucas e boas por causa dela. É complicado. Mas ela precisa da nossa ajuda.
_ Mas ela foi a maior falsa, ela não podia ter... Poxa, eu confiava nela. Vai saber o que mais ela falou pelas minhas costas.
_ Eu juro que ela tem muito mais de bom que de ruim. Pelo amor de Deus, você a conhece desde que nascemos. É da Alice que estamos falando.
_ Ela parece outra pessoa, uma que eu não conheço, e nem sei se quero conhecer.
_ Nós precisamos ajudá-la, ela só tem a gente.
_ Ainda estou muito magoada.
_ Não é por maldade que ela faz essas coisas. Ela sente medo.
_ Medo de quê?
_ De tudo. De não ser aceita, de ser julgada, discriminada, rejeitada, de não ser boa o suficiente. Ela sempre foi assim.
_ E ela pensa que agindo assim, pelas costas, vai ajudar?
_ Ela não percebe a gravidade das coisas que faz, depois fica arrependida, se martirizando, sentindo culpa. Eu sei do que estou falando. Por favor, pelo menos conversa com ela. Ela está sofrendo demais.
_ Não sei. Vou pensar.
_ Eu não vou voltar para aquela casa, e minha mãe nesse momento é incapaz de enxergar a Alice, só tem olhos para a traição e para a volta do meu pai. Eu não tenho paz sabendo que vocês estão brigadas. Por favor, por mim. Ao menos ouça o que ela tem para dizer.
_ Eu prometo que vou pensar. Mas por você.
Ela iria com certeza voltar a falar com Alice, estudavam na mesma sala e moravam em casas coladas no mesmo muro, mas ainda não estava pronta.
Sentava distraída em seu caixa, a loja estava quase vazia naquela tarde e ela resolveu ir ver o avô. Não parava de pensar sobre a conversa que ele queria ter com ela. Se tivesse entrado no escritório cinco minutos antes, toparia com a mãe.
_ Bom dia vô.
Aldo tirou os olhos de uma prancheta e olhou para a menina magricela no vão da porta.
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Muito prazer... Sou sua filha
RomanceMelissa é uma adolescente teimosa e inteligente, que vive sua adolescência na ingênua década de noventa. Numa rua arborizada da periferia, entre a escola, primeiro namoro, os amigos e as brincadeiras de rua comuns da época, ela cresce insistindo no...