Miguel não a incomodava mais desde a manhã em que havia sussurrado em seu ouvido. Ela ainda sentia nojo da fragrância amadeirada de seu perfume.
Três meses havia se passado sem que ela se enojasse com o comportamento inconveniente do chefe. Então, numa manhã, ele a chamou pelo interfone.
─ Pois não. Precisa de alguma coisa, chefe?
─ De você ─ ele respondeu do outro lado da linha.
"De novo essa conversa? Eu não vou mais aturar isso, imbecil"!
Melissa caminhou pisando duro até a diretoria.
─ Já chega dessa historia! Já passou da conta ─ ela disse ─ Não quero mais que fale desse jeito comigo. Olha, eu não acho certo. É errado e me incomoda ─ a verdade era que as palavras haviam sido ensaiadas um dia, ainda assim, ela surpreendeu-se com sua própria coragem ─ Eu sinto muito pelo que aconteceu entre a gente. Não foi certo e não devia ter acontecido. Você entendeu tudo errado e isso tá me matando. Não quero mais nenhum tipo de intimidade entre a gente. Pode ser assim, seu Miguel?
Não fazia ideia de como ele reagiria, mas já sentia-se aliviada.
─ Pra que toda essa raiva? Foi só uma brincadeira. Nossa! Não tá mais aqui quem falou.
─ Acho bom! Porque se insistir nisso, pode preparar a papelada... Eu me demito.
Ela vinha mesmo pensando no assunto. Mas o salário que ganhava não era ruim, havia se acostumado a ter o próprio dinheiro, a ajudar a mãe, e não seria fácil encontrar outro trabalho como aquele.
─ Não vai precisar se demitir, o que é isso? Deixa de bobagem, menina, eu só tava brincando com você. Já disse. Falei sem pensar. Que exagero!
─ Não gosto dessas brincadeiras. Se meu pai imaginasse uma coisas dessas... Não gosto nem de pensar.
─ Não vou fazer de novo. Já entendi. E Melissa... Eu não sabia que eu te causava tanto nojo.
─ Miguel... Você é casado e... Quer dizer, mesmo que não fosse. Você é meu patrão, você é bem mais velho que eu. Tô namorando. Tá tudo errado. Não devia ter acontecido. Aquele beijo... Não devia.
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Muito prazer... Sou sua filha
Roman d'amourMelissa é uma adolescente teimosa e inteligente, que vive sua adolescência na ingênua década de noventa. Numa rua arborizada da periferia, entre a escola, primeiro namoro, os amigos e as brincadeiras de rua comuns da época, ela cresce insistindo no...