As gêmeas estavam animadas. Ana Clara estava trabalhando numa livraria e Alice era babá. Andréia convidou-as para um lanche. As três amigas esperavam a anfitriã voltar da padaria.
_ Nem acredito que estamos reunidas outra vez! – disse Alice, batendo palmas e dando pulinhos pela cozinha. Ela mantinha, discretamente, certa distância de Andréia. Estava receosa ainda.
_ Não tenha medo. Ela não morde. Você vai gostar dela. – brincou Melissa. E com o passar da tarde, entre um pedaço de bolo e uma xícara de café, Alice baixou a guarda e foi aos poucos se rendendo à Andréia.
Era ainda um mistério para Melissa o quanto a sogra podia ser extrema. De tão desagradável e grosseira para extremamente gentil. Era como se duas pessoas ocupassem um mesmo espaço. Ela estava satisfeita em constatar que seu lado doce vinha se sobressaindo com louvor nos últimos dias.
Dias antes, Andréia estava preparando o almoço, quando o filho entrou na cozinha e apoiou o quadril na pia. Ficou olhando para a mãe por algum tempo.
_ Você ainda não me contou o que aconteceu. Qual o motivo dessa mudança repentina entre você e a Melissa? E não tente me enrolar porque eu não sou bobo.
_ Percebi que eu estava fazendo tudo errado.
_ Mãe... Por favor. Será que você ainda não confia em mim? – ele fez um bico engraçado, uma brincadeira antiga. A mãe nunca resistia. E há muito tempo o filho não usava aquela artimanha com ela. Era covardia. Ela sorriu.
_ Não sei se devo... Tá, senta aí que eu vou te contar tudo. – serviu uma caneca de achocolatado para o filho.
Depois de esclarecida a história sobre o ataque de Miguel à Melissa, ela pediu para que Rafael não julgasse a namorada. Que ela tinha certeza de sua inocência.
_ Converse com ela com jeito. Por favor.
_ Não vamos conversar sobre isso. Ela não precisa saber que eu sei. – disse. _ Não diga a ela que me contou. Se um dia ela achar que deve, ela mesma me dirá. E mãe. Eu não duvido da inocência dela. – ele beijou o rosto da mãe. _ Obrigado por ter confiado em mim.
Ana Clara se servia de mais um pedaço de bolo. Parabenizou a cozinheira. Andréia olhou para o filho e sorriu ternamente. Como era bom ter a casa tão alegre e cheia de vida. Pegou a colher de sobremesa e bateu na lateral da xícara, dando uma trégua na conversação acalorada dos jovens.
_ Atenção seus barulhentos... Muita atenção. – eles riram. _ Vocês estão olhando para uma mulher empregada!
_ Verdade? – perguntou o filho.
_ Sim senhor. Sou a mais nova governanta do pedaço. Tenho até um uniforme agora!
Governanta não era bem a definição para seu cargo. A verdade era que ela tinha conseguido uma vaga como empregada doméstica na casa de uma boa família e estava realmente decidida a recomeçar. Depois de muito pensar, resolveu não contar para Melissa que trabalharia na casa de Aldo. Com certeza ela não aprovaria. Mas o homem tinha oferecido ajuda, e ela realmente estava precisando.
O filho beijou seu rosto.
_ Parabéns.
Melissa levantou-se em seguida e a abraçou.
_ É isso aí!
_ Obrigada querida.
E então Alice separou as duas, fazendo os outros rirem.
_ Pode parar, devolva a minha amiga! – Melissa revirou os olhos e chamou-a de ciumenta.
_ Muito bem... – continuou Alice. _ Tem alguém prestes a fazer aniversário. Onde vai ser a festa?
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Muito prazer... Sou sua filha
RomanceMelissa é uma adolescente teimosa e inteligente, que vive sua adolescência na ingênua década de noventa. Numa rua arborizada da periferia, entre a escola, primeiro namoro, os amigos e as brincadeiras de rua comuns da época, ela cresce insistindo no...