Pedro foi até a casa de Melissa. Raquel não estava.
Parou o carro no portão e foi entrando sem avisar. Bateu na porta e esperou. Melissa não estava pronta para conversar. Trancou-se no banheiro, esperando que ele desistisse. Mas ele não desistiu. Tanto insistiu que a menina acabou abrindo.
_ Não precisava ter fugido de mim daquele jeito. Eu fiquei preocupado com você.
_ Porque não me falou a verdade?
_ Querida, pensa bem. Olha, eu não podia chegar do nada depois de tantos anos e dizer "oi, eu sou seu pai, e sou gay".
_ Era o que devia ter feito.
_ Você poderia não entender. Eu precisava te mostrar antes como eu sou de verdade. Precisava te conquistar primeiro. Entende?
_ Eu iria gostar de você de qualquer jeito.
_ Eu não te conhecia, não sabia o que você iria pensar. Eu tive medo de não me aceitar do jeito que sou.
Ela queria sentir raiva, qualquer coisa que a fizesse expulsar aquele homem de sua sala, mas não sentia. Sua mãe tinha toda a razão. E é claro que ele continuava sendo a mesma pessoa. E ela gostava muito da pessoa que ele era.
_ Eu julguei a minha mãe a vida toda. Coitada. E ela só estava tentando guardar o seu segredo.
_ Espera aí... Como é que é? Você acha que eu estive longe por todos esses anos porque sou gay?
_ E não foi por isso?
_ Não acredito que ela... Onde está sua mãe?
_ Na casa da tia Yolanda.
Ele esperou e em cinco minutos Raquel abriu a porta e entrou na sala.
_ Pelo jeito já se entenderam. – disse Raquel, olhando de um para outro.
_ A nossa filha acha que eu não voltei porque sou gay. Você sabia disso? – perguntou Pedro, olhando fixamente para a ex-namorada.
_ Pedro, é melhor a gente conversar em outro lugar.
Melissa estava confusa e começava a irritar-se.
_ Não senhora. Vão conversar na minha frente. Quero saber o que está acontecendo.
_ Depois, bruxinha!
Raquel puxou bruscamente Pedro pela mão esquecendo, pela primeira vez, a porta da rua sem a tranca. Entraram no carro e saíram, deixando Melissa muito curiosa. Se o pai não a havia abandonado pelo fato de ter assumido sua homossexualidade, então por quê? A mãe teria muito que explicar quando voltasse.
Mas naquele momento ela só precisava dormir. Estava exausta. Miguel, o pai... O dia não havia sido fácil. Sua vida estava de ponta cabeça e ela se sentia impotente e incapaz de resolver os problemas. Talvez se tivesse uma noite inteira de sono as coisas melhorassem no dia seguinte. Talvez ela acordasse e descobrisse que aquilo tudo não era real. Que o pai ainda voltaria com a mãe e que Miguel tivesse desaparecido da face da Terra.
No apartamento de Pedro, Raquel tentava acalmá-lo.
_ Não foi minha intenção. Eu não me aproveitei da situação. Juro. Foi ela mesma quem tirou as próprias conclusões, eu só me calei. – disse Raquel.
_ Mas quem cala, consente. E você acha justo que eu leve toda a culpa? Que eu leve sozinho a fama de pai desnaturado? Ela pensa que eu não a procurei antes por que sou gay. E essa não é a verdade.
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Muito prazer... Sou sua filha
Roman d'amourMelissa é uma adolescente teimosa e inteligente, que vive sua adolescência na ingênua década de noventa. Numa rua arborizada da periferia, entre a escola, primeiro namoro, os amigos e as brincadeiras de rua comuns da época, ela cresce insistindo no...