_ Oi bruxinha! Como foi no trabalho hoje?
Melissa olhava com atenção para seu próprio reflexo num pequeno espelho pendurado na parede da sala.
_ Mãe... Você acha que eu me pareço com meu pai?
_ Sei lá filha. Um pouco, eu acho. Porque a pergunta?
_ Por nada. Engraçado. Você não tem nenhuma foto grávida. Daquelas que os casais tiram juntos, sabe? Você e o papai, para mostrar a barriga e tal.
_ Ah filha... Há uns vinte anos atrás era muito diferente. Não se tirava foto a toda hora. Mas que conversa é essa agora?
_ Nada não.
Raquel sentiu cada fio de cabelo arrepiar, uma forte náusea a fez fechar os olhos por alguns segundos. Ela estava desconfiada, ou seria apenas uma simples curiosidade?
Alice voltou à casa de Raquel, e dessa vez deu o recado da mãe.
_ Diga à Yolanda que iremos. Com certeza! Estou mesmo com saudades da comida dela. – Sorriu ainda incomodada com as perguntas da filha.
_ Eu digo para ela. Até mais tia!
_ Ei... Calma aí! Não vai ver sua amiga? Ela está no quarto.
_ Já falei com a Melissa hoje. Diga que deixei um beijo.
Provavelmente tinham brigado. Nada bom. Melissa ficava muito mal humorada quando isso acontecia.
Foi até o quarto da filha, ela estava dormindo.
Raquel fechou a porta com cuidado para não acordar a filha. Melissa sentou-se na cama, puxou os joelhos para junto do peito. Ela ficaria de olhos bem abertos, se Alice tivesse realmente ouvido o que dizia ter ouvido, ela descobriria.
No domingo, reuniram-se todas para o almoço na casa de Yolanda. A anfitriã parecia outra mulher, já havia perdido quase vinte quilos. Estava feliz, sorridente e parecia bem mais jovem que antes.
Ana Clara sentia imenso orgulho da mãe, não cansava de apoiá-la e incentivá-la. O pai nunca mais havia aparecido nem dado notícias. Yolanda soube por acaso que ele havia pagado uma cara fiança e que aguardava o desenvolver do processo judicial. Raquel ajudava na arrumação da mesa. Ana Clara falava com a madrinha pelo telefone. Alice e Melissa ficaram sozinhas na sala.
_ Ainda está com raiva de mim? – perguntou Alice.
_ É melhor não conversarmos aqui.
Yolanda chamou-as para a mesa. Todas se assentaram. Então Yolanda serviu os copos com suco de acerola.
_ Gostaria de fazer um brinde. – ergueu seu copo no ar. _ À vida, às verdadeiras amizades, ao amor e à verdade! – tocaram seus copos.
A comida estava, como sempre, maravilhosa. Yolanda caprichara mais uma vez.
_ Sabe tia Yolanda, achei muito conveniente seu brinde hoje... Sobre a verdade. – ela olhou para a mãe. Raquel voltou os olhos para o prato. Melissa continuou. _ A gente evitaria muita coisa se falasse a verdade.
Yolanda engoliu seu suco antes de perguntar.
_ O que quer dizer, querida?
_ Eu quero dizer que quando eu escondi a história do meu ex-chefe... E o que aconteceu com as meninas... Desculpe. Enfim. Alguns segredos podem acabar com a vida da gente. Não acha?
Yolanda ficou sem jeito, tentou disfarçar servindo-se de mais uma porção do assado. Olhou discretamente para Raquel antes de responder.
_ Às vezes não temos escolha, querida.
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Muito prazer... Sou sua filha
RomantizmMelissa é uma adolescente teimosa e inteligente, que vive sua adolescência na ingênua década de noventa. Numa rua arborizada da periferia, entre a escola, primeiro namoro, os amigos e as brincadeiras de rua comuns da época, ela cresce insistindo no...