Sem Saída ➸ skam [Concluida]

26. O passado ainda persegue.

Eva aperta a maçaneta da porta, enquanto as lágrimas deslizam pelo seu rosto, desfazendo a maquiagem que antes estava perfeitamente bem feita. Sua cabeça lateja cada vez mais, fazendo Eva resmungar assim que cria coragem para entrar dentro de casa.

Porém, a dor de cabeça parece um mínimo detalhe quando abre a porta e dá de cara com Daniel, sentado na cadeira, com os pés jogados em cima da mesa e um cigarro entre os dedos. Eva faz careta assim que o cheiro chega em suas narinas.

– Você não pode abrir a janela? – Pergunta irritada.

Daniel leva o cigarro até a boca, traga e solta o ar antes de responder Eva. Sua feição séria é completamente assustadora e sombria.

– Não quero.

Eva resolve ignorar, já tem problemas o suficiente para se incomodar com Daniel. Ele, por sua vez, parece disposto a tornar a vida da garota mais insuportável. O homem levanta, cambaleando anda em direção a Eva, até ficar poucos passos de distância.

– Você não me diz o que fazer! – Grita, com o tom de voz alterado. Pelo cheiro, Eva constata que ele está bêbado. Tão bêbado quanto ela.

– Tanto faz.

Eva passa por Daniel rapidamente, sem dar chance dele alcança-la. Eva só respira com tranquilidade quando se deita na cama e consegue ficar em silêncio. As mensagens apitam em seu celular, embora Eva não quisesse falar com ninguém, resolve verificar, caso seja algo urgente.

"Ei, não te vimos a festa inteira. Você está bem?" — A mensagem é do grupo das garotas. Eva responde rapidamente sem dar muitas explicações.

"Se você acha que vou desistir porque disse aquelas coisas, está enganada, Eva Mohn. Eu vou fazer você me perdoar, nem que para isso eu tenha que virar seu melhor amigo." — Christoffer.

Eva fica lendo a mensagem por um tempo, tentando assimilar onde Christoffer quer chegar com tudo aquilo. Primeiro, havia quebrado o coração da garota da pior maneira possível. Depois, ameaçou contar o segredo de sua amiga, para exibi-la para seus pais. E agora, quer tentar consertar as coisas, como num passe de mágica.

[...]

Eva senta ao lado de Noora, coloca os materiais em cima da mesa antes de dar um "oi" baixinho.

– Você desapareceu ontem. – Afirma Noora, folheando o livro em cima da mesa.

Eva pega a caneta, faz algumas anotações do quadro e coloca entre os dentes.

– É. Eu acabei indo embora. – Eva mente. Logo, da de ombros, como algo insignificante. Mas ela sabe que não foi assim que aconteceu, pelo contrário. – Mas... e você, se divertiu?

– Sim. – Sua voz fraqueja, Noora balança a cabeça quando Eva a encara desconfiada. – Ok. Nem tanto. Eu ainda gosto do William, mesmo depois do que ele tenha feito.

– Você acredita mesmo que ele tenha feito aquilo? – Eva pergunta despretensiosa. Anota a frase que a professora falou que seria importante e solta a caneta na mesa. – Sei lá... Você chegou a ouvir a versão dele?

– E precisa, Eva? – Noora suspira. – Por que Vilde mentiria? E outra, é do William que estamos falando, todo mundo sabe que ele e o Christoffer são os maiores babacas dessa escola.

Eva vira a cabeça para trás, em busca do Christoffer ou William. Elas tinham apenas aquela aula em comum com eles, já que são de anos separados. Nenhum dos dois estão ali.

– Apesar que eu não ouço mais comentários do Christoffer pelos corredores, parece que ele está quieto. Assustador! – brinca, dando risada.

As lembranças surgem na mente de Eva em segundos, todas as vezes que ele fora completamente estranho e diferente com ela. Os beijos...

Eva respira fundo e balança a cabeça, afastando os pensamentos. Noora encara a amiga com as sobrancelhas juntas e um sorrisinho lascivo.

– Está muito pensativa... Ficou com alguém na festa?

– Quem me dera.

Noora e Eva seguem juntas em direção a cantina, encontrar com Vilde e Chris. Sana tinha mandando mensagem horas antes avisando que precisava ajudar a mãe em casa.

– Olá, garotas. – Noora cumprimenta, sorridente.

Chris apenas movimenta as mãos, sonolenta. Tira os óculos escuros apenas para mostrar que não está disposta a conversar, pois a ressaca é péssima. Vilde apenas abre um sorrisinho.

– Vou pegar a comida. – Eva avisa.

– Ei, pega um pudim pra mim? – Noora pede, com os olhos pidões. Eva não é capaz de recusar.

Eva entra na fila, puxa uma bandeja e espera até conseguir se aproximar. Eva coloca um pudim de chocolate, um pão com queijo e presunto e escolhe o suco de maracujá. Quando estica o braço para pegar a colher e guardanapos, sente alguém tocar seu braço. Eva ergue o olhar para o ombro encostado no seu e aperta a bandeja com força.

Jonas.

– Jonas... Oi! – Diz, eufórica. Mas ele não retribui, apenas pega seu guardanapo e segue em direção a mesa de seus amigos.

Eva suspira e termina de colocar tudo na bandeja. As garotas se entregam, mas não falam nada até ela se ajeitar e resolver falar.

– Vocês viram aquilo? – pergunta, mexendo o suco devagar.

– Dê um tempo, ele ainda não superou. – Vilde diz.

– Não superou um término? Não é motivo pra ele tratar a Eva mal! – Noora resmunga. A loira puxa o pote de pudim e abre a embalagem com força. Chris olha a cena de olhos arregalados.

– Um término? – Vilde fecha a embalagem do pudim com metade dele sobrando. – Eva acabou com a reputação do garoto.

– Vilde... – Eva alerta, preocupada.

– Só a Noora não sabe o que aconteceu, porque chegou um ano depois. Qual o problema de contar?

Eva fecha os olhos e balança a cabeça, logo seguida levanta e caminha apressada em direção a saída. Entretanto, acaba esbarrando em Christoffer.

– Ei, calma. – Pede, segurando a garota pelos ombros. – Está tudo bem?

Eva pisca seguidamente, afastando as lágrimas que se acumulam em seus olhos. Tenta se desvencilhar de Christoffer, mas ele parece disposto a sair dali somente com uma explicação.

– Isso... Isso vai me assombrar para o resto da vida, Christoffer... – Murmura em meio a um soluço, incapaz de achar palavras capazes de explicar o sentimento de culpa.

– Vem cá. – Eva é puxada pelos braços até a sala de limpeza.

Christoffer puxa a Eva para um abraço, sem dizer absolutamente nada, ele acaricia as costas dela e deixa que chore nos seus ombros. Como qualquer amigo faria...