35. Boa ação.

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Eva observa através do seu espelho, as olheiras que estão fundas abaixo de seus olhos, sua pele pouco corada. Embora tente dizer a si mesma que está apenas mal arrumada, Eva sabe que é apenas consequências de noites mal dormidas. Mas ainda assim, não quer lidar com os próprios pensamentos e começar um ciclo de autopiedade.

Quando por fim, deixa as conclusões de lado, Eva coloca a mochila nas costas e segue em direção a cozinha. Assim que chega, abre a geladeira e suspira, nada a agrada, então pega a jarra com suco de laranja, põe uma quantidade pequena do líquido e bebe. Logo após colocar o copo vazio na pia, Eva olha na tela do seu celular a hora, arregala os olhos e anda apressada até o ponto de ônibus.

O ônibus demora. Apesar de acostumada com o atraso habitual, Eva estranha e começa a sentir-se desesperada, com medo de se atrasar e perder a primeira aula. Alguns minutos depois, um carro conhecido para em frente a garota, que ergue as sobrancelhas quando o vidro vai abaixado, dando lugar ao rosto amassado de sono, de Christoffer.

O garoto dá de ombros e destrava o carro. Eva continua parada, sem reação, pois jamais imaginaria o garoto ali, naquele momento, duas semanas depois da última vez que saíram juntos.

– Você perdeu o ônibus, Eva. – Ele diz, como se não fosse o óbvio. Eva o encara, então ele prossegue: – Quer uma carona?

– O que você está fazendo aqui, Christoffer? – Eva pergunta, ainda sem entender.

Christoffer coça a nuca e abre um sorrisinho sem graça, propositalmente.

– Boa pergunta, Eva. Mas tem coisas que a gente não pode contar. Vai querer ou não?

Eva finge aborrecimento com o modo grosseiro dele falar, mas dá de ombros e entra no carro, mesmo que desconfiada.

– Você está péssima. – Observa.

– Como se eu não soubesse. – Eva pensa estar em silêncio, apenas formulando a frase em sua cabeça, mas, para sua vergonha, sai em voz alto.

Christoffer franze o cenho, olha por alguns segundos para Eva, estranhando seu humor. Quando, por fim, decide assentir mesmo que não houvesse nenhuma pergunta, e voltar a atenção ao volante.

O silêncio toma conta do caminho inteiro. Eva sem disposição para pensar em puxar assunto. Christoffer inseguro demais, com medo de receber uma resposta rígida.

[...]

Eva fica a aula inteira aérea, desenhando pequenos rabiscos em seu caderno, despreocupada com o que a professora fala. Embora, quisesse depositar toda sua atenção nos estudos, a mente de Eva viaja em problemas, problemas, e mais problemas.

Para completar seus pensamentos, a porta se abre e da a visão de Christoffer e William... Mais problemas.

Christoffer entra primeiro, caminha receoso em direção a professora, se aproxima sorrateiramente e diz algo baixinho, para a classe não ouvir. Como resposta, ela move a cabeça e aponta para o armário no final da sala. Christoffer olha para William, o mesmo entra pedindo licença e abre um dos armários.

Eva percebe que o armário que está sendo aberto é o de Noora, mas, antes mesmo que pudesse se levantar, Christoffer caminha em direção a sua mesa e toca os ombros de Eva.

– Quietinha aí, tem um propósito. – Diz simplesmente, sem dar nenhuma explicação a não ser essa.

Eva bufa, além de incomodada com a situação, curiosa, buscando interpretar o porquê de William estar mexendo nas coisas de Noora, e, o que Christoffer teria dito para que a professora liberasse tal ato. Dispersa do resto do mundo, apenas concentrada em tais questões, Eva não percebe quando Christoffer e William saem da sala de aula. Então, ela decide mandar uma mensagem para Christoffer.

"O que está acontecendo?". 

Christoffer responde somente um, "logo você saberá. Beijos, ruivinha".

Quando por fim chega o intervalo, Eva guarda seus materiais e segue em encontro com Sana e Chris. Na fila, Eva não deixa de procurar por Christoffer ou William, mas sem sucesso, nenhum dos dois estavam no refetório, apesar dos amigos em comum estarem. Isso deixa Eva completamente irritada, por não saber, e começar a desconfiar. A verdade era que, estava com um pés atrás em relação a William, depois do que havia acontecido entre ele e Noora, mas, queria confiar em Christoffer, e, por mais que não admitisse, ela sabia: Que já estava confiando nele. E somente por isso, resolveu respirar fundo e deixar os pensamentos de lado, voltando sua atenção as suas amigos, entrando no assunto ao qual acabará de entender. 

O restante das aulas passam muito depressa, o que para ela, não é algo completamente bom, já que teria de voltar a sua realidade, voltar para casa já não era mais tão reconfortante. Mas, ao sair da sala, Eva se depara com Christoffer, com ambas as mãos enfiadas no bolso, esperando por Eva. A mesma ergue uma das sobrancelhas, sem entender, mas ainda assim, anda apressada em direção a Christoffer, para descobrir o porquê. Sem dizer nada, ele estica o braço, deixa que Eva coloque o seu por dentro e abre um sorrisinho sem graça. Ambos caminham em direção a saída, em silêncio, pois Eva não faz a minima ideia do que está acontecendo, mas também não sente a necessidade de pensar: ela só vai. 

Eva encara Christoffer por breves segundos, observa sua feição serena, calma, com um leve sorrisinho contraído. As bochechas vermelhas por conta do sol, iluminado sua pele clara. Seus olhos brilhando com a luz, destacando ainda mais a clareza. 

Ela sorri. Sorri porque vê algo que não via há anos... Tinha algo diferente, mas ao mesmo tempo, familiar. 

Então Christoffer olha apressado na direção oposta, verifica algo antes de olhar para Eva e balançar a cabeça em direção ao lugar onde olhava segundos antes. Eva arregala os olhos desacreditada, perde a fala e não sabe exatamente o que fazer, então corre para os braços de Noora com pressa. De longe a amiga sorri, nos braços de William. Noora se desvencilha para abraçar a amiga, com saudade exalando de ambas as partes. Quando o abraço se quebra, Eva ergue uma das sobrancelhas em direção a William, desconfiada. Noora percebe e dá uma risadinha, logo tocando o ombro da amiga, tranquilizando-a. 

- Está tudo bem, Eva. - Noora afirma, sorrindo. Olha para William e então, volta a olhar para Eva novamente. - Tive provas de que não aconteceu nada daquilo que eu tinha imaginado...

- Provas? - Eva questiona, aparentemente curiosa. 

Noora balança a cabeça em afirmativa. 

- Christoffer foi atrás de mim. Me mostrou toda a verdade, felizmente. 

Eva se vira para trás e se depara com a cena de Christoffer abrindo um sorriso genuíno, e logo, dando uma piscadinha. Naquele momento, ela sente uma enorme gratidão crescer em seu peito, e mentalmente, agradecer. 

Sem Saída ➸  skam [Concluida]Onde histórias criam vida. Descubra agora