Sem Saída ➸ skam [Concluida]

17. Posso ser forte.

Eva não sabe exatamente o tempo que está na cabine do banheiro, apenas ela e o silêncio notável. Apesar dos murmurinhos que ainda se ouve, mesmo que Eva não esteja perto o suficiente, para ouvir com clareza. Sentada ao lado da privada sanitária, Eva chora baixinho, para ninguém ouvir, já é vergonha demais para ela que as pessoas saibam que ela esteja ali. Virar o centro das atenções novamente, é uma opção descartável, ela não quer ser engolida pelos olhares julgadores novamente. Ninguém sabe o que aconteceu entre ela e Jonas. É um passado em que somente os dois viveram juntos, apenas eles sabem o que ocorreu, depois do acontecimento.

Eva ouve passos altos o suficiente para arregalar os olhos e puxar mais o joelho para si. Há duas garotas comentando sobre a próxima festa que ocorrerá em Nissen, provavelmente a festa a fantasia, que ocorrem pelo menos uma vez por mês. Os diretores aceitam essa festa porque recebem um aluguel, além da promessa dos alunos em não passar dos limites alcoólicos, e deixar tudo limpo no dia seguinte. Não sabe-se quem é o responsável pelo acordo, pois ninguém quer ficar depois da bagunça.

– Ouvi dizer que o Jonas não vai por causa do Christoffer e da Eva. – Comenta uma garota, sua voz é fina e suave.

Outra voz, dessa vez mais grave, solta uma risadinha e logo depois de deixar algo cair na pia, responde.

– Acho que Christoffer o ameaçou a ficar longe da Eva.

– Christoffer está mesmo bancando de apaixonado para conseguir aquela garota, eu nunca o vi daquele jeito, vai ver tem algo nela. – Diz com desdém.

– Estão dizendo que eu ele está mesmo apaixonado por ela, mas ela não está nem aí para ele. Porque ele já ficou com uma das amigas dela... Aquela loira lá.

Eva fica embasbacada com o tanto de fofocas sem sentido ocorrem pelos corredores, não que ela fosse ingênua a ponto de não saber que ocorre, mas não imaginava que as pessoas inventam coisas só para ter o que falar.

As garotas continuam conversando, mas Eva para de prestar atenção assim que se sente enojada, ela se apoia com os joelhos no chão e estica a cabeça em direção a privada sanitária. Quando percebe que é apenas um enjôo fraco, volta a sua posição anterior, agora, sem ninguém mais falando pelo banheiro.

Eva abre a mochila e retira o celular do bolso frontal, pega o aparelho e vê as mensagens esperando por alguma coisa que a distraísse. Mas pelo contrário, tudo o que recebe é link de vídeos pelo grupo da sala, nele aparece Jonas e Christoffer brigando, como Eva presenciou minutos antes. Eva aparece quando dão zoom em seu rosto apavorado. Na legenda está escrito: Eva traiu Jonas com o Christoffer?

Eva aperta o celular contra os dedos e volta a chorar descontroladamente, dessa vez, sem se preocupar com quem quer que fosse, que está se aproximando. Duas batidas na porta de Eva, faz seu corpo estremecer.

– Eva, sou eu. Você já está aqui, faz quinze minutos. – Avisa Noora, com o tom de voz cauteloso. – A nossa próxima aula é daqui cinco minutos, você precisa estar pronta.

Eva não diz nada, decidida a ficar ali em quando pudesse, mesmo que durasse horas, dias, meses... Um exagero, logo a direção bateria na porta de Eva e daria uma suspensão a ela.

– Eu sei que você está triste, mas aqueles dois estão lá agora, vivendo a vida normalmente como se não tivessem armado esse circo, e você aí... Sofrendo.

Triste.

Eva não está só triste, também está frustada, decepcionada, com vergonha e tantos outros sentimentos. Mas é óbvio que Christoffer e Jonas não estão passando por tanto sofrimento como ela.

Noora troca sussuros com outra garota, que Eva reconhece pelos sapatos. Passos se afastando são ouvidos, e logo, Eva percebe que ainda não está sozinha, apenas Noora saiu.

– Sou eu. – Avisa Sana, totalmente séria e autoritária. – Escuta, você é uma garota incrível e não merece ficar chorando por conta de dois babacas. Você está atrasada nas matérias, Eva, precisa se reeguer e não deixar que eles estraguem a sua vida, seu futuro. São só garotos necessitados de atenção, sua atenção, mas você não tem que dar a eles.

Eva balança a cabeça, em negação.

– A escola inteira está falando coisas sobre mim e inventando histórias...

– E você se importa? São só um bando de desocupados, você sabe como isso funciona. Se ignorar, eles param.

Eva fica em silêncio, porque realmente não sabe o que dizer.

– De qualquer forma, isso só depende de você. Mostre a eles como você e forte e não se deixa abalar por essas fofocas e apareça na aula de ciências, preciso de uma dupla.

Em seguida, Sana sai, deixando Eva decidir sobre o que fazer. Mas ela não sabe, não sabe se é realmente forte e aguenta os olhares. Eva só quer se trancar e ficar naquela bolha imersa da realidade. Mas ela sabe que é impossível, por isso, e também pelas palavras encorajadoras de Sana, Eva se levanta rapidamente, abre a porta da cabine e vai em direção a pia. Abre a torneira e enche a mão de água para lavar seu rosto, apesar de não tirar totalmente, disfarça a cara inchada de choro. Eva seca com os papéis toalhas, joga no lixo antes de sair e põe a mochila nas costas, saindo com o queixo erguido.

Mas ela sabe que está apenas fingindo, aquela não é a Eva que está gritando em sua mente para sair correndo. Sana aparece ao seu lado e da o braço para Eva, que coloca seu braço entre ele e caminha ao lado de Sana, logo Vilde, Chris e Noora aparecem para fazer o mesmo.

Os olhares ainda cercam Eva, mas ela se sente mais forte com as amigas do lado. Não demora muito para os curiosos, ficarem entendidos e deixarem de se importar com a presença de Eva, apesar de ainda comentarem sobre ela. O sinal toca logo em seguida, para salvar a pele de Eva, apesar de suas amigas falarem que ela se saiu bem.

Naquele mínimo detalhe, Eva percebeu que pode ser forte, mesmo que ainda não sozinha, pois tem pessoas incríveis do seu lado, e nenhuma delas é um garoto. Porque as coisas são precisam necessariamente ser sobre eles, Eva pensa em Jonas quando aceita isso, pois sabe que ainda terá que aturar Christoffer por causa de uma acordo sem sentido.