Sem Saída ➸ skam [Concluida]

30. Milk-Shake

Eva observa Christoffer olhar o cardápio e ler concentrado. Seu maxilar está trincando, os olhos se movendo conforme ele muda o foco procurando algo do seu agrado, e suas mãos deslizam delicamente entre as variedades. Não se sabe exatamente quanto tempo passou, apenas que Christoffer finalmente escolhe algo. Abaixa o cardápio e ergue a cabeça com um sorriso genuíno nos lábios, como uma criança que acabara de ganhar doce dos pais.

– Eu sempre quis tomar milk-shake! – Exclama ele, apontando para a imagem pequena de um copo de milk-shake de chocolate com cobertura de chantilly e uma cereja por cima.

Eva ergue as sobrancelhas, surpresa. Christoffer parece ser o tipo de garoto que sempre teve tudo o que quis, desde milk-shakes a carros importados.

– É sério? – Pergunta, sem evitar em parecer embasbacada com algo completamente simples. Mas para ela, parece surreal um garoto rico de dezoito anos nunca ter experimentado uma coisa comum.

Um pouco constrangido, Christoffer coça a nuca e dá de ombros. Eva deixa as questões para lá e puxa o cardápio para olhar, há inúmeras variedades. Apesar de sempre pedir o mesmo, Eva decide variar e escolher algo diferente para beber, já para comer, resolve manter a habitual torta de prestígio. Com as escolhas feitas, Eva fecha o cardápio e espera o atendente se aproximar para fazer o pedido.

– Uma torta de prestígio média e dois milk-shakes de chocolate. – Eva olha para Christoffer e fica contente em ver um sorriso abrir em seus lábios, recém umedecidos. – Um deles sem chantilly, por favor.

O atendente retira um bloco e uma caneta do bolso e anota os pedidos.

– Mais alguma coisa? – Pergunta gentil.

– Um sanduíche também. – Christoffer pede, após entregar o cardápio ao atendente que depois de escrever o que Christoffer acabara de pedir, se retira para buscar os pedidos.

Eva não sabe o que dizer, apesar da subita vontade de fazer inúmeras perguntas para Christoffer, não quer deixá-lo desconfortável, a situação já é catastrófica demais para piorar. Mas, ao contrário do que ela pensa, Christoffer quer muito que Eva fale qualquer coisa, apenas para que o silêncio não interferisse na tentativa de uma proximidade maior entre eles.

– Então, já escolheu seu terno? – Péssima opção de escolha para iniciar uma conversa, Eva sabe, mas levando em consideração o fato de sempre ter sido grossa o suficiente para evitar uma conversa, parece razoável para o momento.

Christoffer ergue as mangas da camiseta e apoia os braços na mesa, enquanto pensa sobre o assunto.

– Na verdade, já.

Eva arregala os olhos e tenta não engasgar com a própria saliva, tomada totalmente pela surpresa da resposta.

– Está tudo bem? – Christoffer se preocupa imediatamente. Mas logo se dá conta e começa a rir, o som rouco e contagiante, Eva também engata em uma gargalhada. – Ah, ok, você levou a sério!

Os dois encerram a sessão de risadas quando o atendente volta com os pedidos deles em uma bandeja. Coloca um milk-shake na frente de cada, assim que Eva avisa que o sei é o sem Chantilly, o sanduíche para Christoffer e por fim, a torta que Eva pediu.

– Por que você pediu sem Chantilly? Parece fazer parte dele. – Se refere ao milk-shake.

– Fica muito doce. – Eva dá de ombros.

Christoffer junta as sobrancelhas enquanto encara Eva.

– Esse não é o propósito?

Eva acha fofo o fato dele falar sério, sem esboçar nenhum tipo de ironia ou piadinhas.

– Eu não perguntei sobre você nunca ter tomado milk-shake como se você não vivesse nesse planeta. – Eva retruca.

Christoffer retira o plástico do canudo e enfia no copo, mexendo em seguida. Eva faz o mesmo, com mais facilidade, logo pegando um pedaço pequeno da torta e levando o doce a boca.

– Meus pais eram rígidos em relação a minha saúde. – Responde casualmente.

Eva termina de mastigar antes de balançar a cabeça em concordância, é realmente algo incompreensível para ela, mas a verdade é que ambos vivem em realidade diferentes. E Eva sabe disso, por isso tenta tratar com naturalidade.

– Eu faria o mesmo com meus filhos. Mas para não ter que pagar por um dentista depois.

Christoffer solta uma risadinha e finalmente prova o milk-shake. Sua primeira reação é um erguer de sobrancelhas, em seguida ele bebe mais e acaba se deliciando com a bebida.

– Isso é muito bom! – Exclama, completamente maravilhado. – Mas não faz sentido você tomar sem o chantilly. Toma, prova do meu.

Christoffer pega um pouquinho de chantilly no dedo e aproxima de Eva. Christoffer parece animado e ansiosa demais para que ela negue, sem pensar demais, leva a boca até o doce. Eva não gosta tanto, mas é contagiada pela euforia do garoto, que de repente, desfaz o sorriso e olha sério demais para Eva. Ela estranha, por isso se afasta e lambe os lábios, limpando os restos que ficou lambuzado.

– Algum problema? – Pergunta, sem entender a reação de Christoffer.

O garoto pisca, voltando a realidade. Solta um suspiro baixo e dá uma enorme mordida no sanduíche, parecendo completamente frustado.

– Ok?

– Está tudo bem, Eva. Eu só acabei pensando em outra coisa e... – Christoffer engole em seco e balança a cabeça em negação. – Esquece.

Eva estranha, mas decide deixar para ela. De repente, enquanto Christoffer se concentra em tomar seu milk-shake, Eva percebe a leveza e tranquilidade dele, parece completamente em paz. E ela se sente assim também, afinal de contas, ambos estavam conseguindo agir como duas pessoas que se gostam.

– No que você está pensando? – Pergunta, lambendo os lábios.

– Eu nunca imaginei que ficaria feliz em ficar com você por um tempo. – Confessa ela, tomada pela emoção de conseguir esquecer os problemas por um tempo e ter uma tarde agradável.

– Você está feliz? – Christoffer a encara, buscando vestígio de algum tipo de pegadinha. Mas nada, Eva está sendo sincera. Então, um sorriso se forma em seus lábios, e ele tem vontade de sair dando pulinhos de felicidade. Mas jamais confessará isso.

– Ok, sem ficar se gabando muito. E por causa do milk-shake e tal.

– Sei.

Christoffer olha para o copo e depois para Eva, e então ergue para cima e espera que ela entenda, mas não funciona muito bem.

– Ok? Temos que brindar esse momento histórico! – Dramatiza. – Não, sério, eu realmente preciso tirar uma foto desse momento e pendurar no meio da minha sala.

Eva revira os olhos. Mas acaba erguendo seu copo também, apenas para não vê-lo passar vergonha ficando com a mão esticada sozinho, claro! Por fim, eles brincam e comemoram internamente o início de uma amizade.

E a principalmente pela sensação de paz.

Mas a paz não dura.

Não para Eva.

O sentimento se esvazia e se transforma em angústia, decepção e tristeza quando a porta da cafeteria se abre e Jonas entra, acompanhado da mesma garota a qual Eva viu tempos atrás.