Capítulo 2

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O corpo de Breno voltou da necropsia com um laudo inconclusivo de possível morte por tiro, que poderia indicar assassinato ou até mesmo suicídio, apesar do buraco em sua testa não conter indícios de pólvora. O corpo foi liberado então depois de vinte e sete horas, sem que os médicos legistas conseguissem chegar a uma conclusão determinada da morte do individuo.

Cristiane ficou inconformada com aquele laudo, eles não tinham armas em casa e, mesmo que Breno tivesse morrido por um tiro, eles dormiam juntos, lado a lado, como não escutar o barulho de um tiro? E onde estaria a arma? Porém Cristiane estava cansada demais para brigar, e como médica, também não fazia ideia de como o marido havia falecido. Porém, no velório foi onde veio a pior parte que era lidar com a pergunta que todos queriam saber: a causa da morte?

Quanto mais dizia que não sabia como o marido falecera, mas sentia os olhares de desconfiança daqueles "amigos" ali presentes. O clima estava ficando constrangedor, a cabeça de Cristiane parecia que iria explodir. Pensou várias vezes em expulsar todo mundo da casa e se trancar sozinha no quarto, mas se conteve, enxugou as lágrimas e permaneceu firme até aquilo tudo acabar.

O enterro de Breno ocorreu no finalzinho da tarde, porém como o cemitério era um pouco longe, Cristiane voltou para casa de carona com Walter, seu chefe e amigo, que a mais ou menos dois anos também perdera a esposa de forma trágica.


– Você ficará bem Cristiane? – Perguntou Walter.

– Eu não sei Walter. Não faço ideia do que aconteceu.

– A policia está investigando. Logo vão descobrir alguma coisa.

Assim espero.

Você não notou nada de diferente ontem? Alguma coisa que levasse o Breno a se matar?

Não foi suicídio, embora ele tivesse todos os motivos do mundo para o fazer. – Cristiane percebeu o semblante de Walter de quem não estava entendendo nada e continuou. – Não tinha arma, Walter.

Mas o Breno tinha motivos para se matar?

Nós brigamos feio ontem. Ele saiu de casa e eu fui dormir. Nem vi a hora que ele chegou. Na verdade, não imaginava que ele fosse chegar e dormir do meu lado na cama. Só acordei hoje de manhã com o sangue em meus cabelos.

E essa briga de vocês, foi por causa daquilo? – Walter se conteve, sabia que aquele ainda era um assunto delicado para a amiga.

A causa não importa mais. Ele está morto não é? Me desculpa Walter, mas eu só quero tirar essa roupa e dormir um pouco. Tentar esquecer dessa droga de dia. Poderíamos conversar quando eu voltar ao hospital?

Claro que sim. E não se preocupe que irei remarcar todos os seus pacientes dessa semana. Leve o tempo que for necessário para voltar.

Obrigada.

Cristiane se despediu de Walter e desceu do carro. ao entrar foi tirando logo a roupa, detestava ficar vestida com uma roupa da qual acabara de sair do cemitério, se sentia suja, talvez por saber como os corpos ficam ao se decomporem. Olhou-se no espelho e pensou "Estou um lixo". Subiu as escadas e foi direto para seu banheiro tomar banho. Enquanto a água caía do chuveiro, seu corpo sentou nos azulejos frios do banheiro e mais uma vez chorou desesperadamente. Ao terminar o banho vestiu um roupão. Desceu novamente as escadas, abriu a geladeira e pegou uma garrafa de vinho. Depois foi até a caixa de medicamentos e pegou dois remédios de dormir (um já não fazia efeito). Engoliu os dois comprimidos de uma vez, virando a taça de vinho. Deitou no sofá e chorou novamente até adormecer.

De longe, vinha o som de algumas risadas de crianças. Sonolenta, Cristiane tentou se mexer, mas percebeu que não estava mais sentada, se equilibrou para não cair, abrindo completamente os olhos. Olhou ao seu redor, estava parada no meio de um corredor escuro, olhou para baixo e viu na sua mão que segurava uma faca. Soltou. Não estava mais de roupão, mas com um sobretudo preto. Deu dois passos para trás até seu corpo esbarrar na parede. Ouviu novamente as risadas.
Onde diabos eu estou?

ParoníriaOnde histórias criam vida. Descubra agora