Com quase duzentos anos de funcionamento e abrangendo os melhores profissionais médicos em diversas especializações, o Hospital Binário era o maior e mais antigo hospital da cidade. Dividido em 13 andares, faz aproximadamente duas mil internações em média diariamente e certa que 500 cirurgias. Lá, Cristiane trabalhava como cirurgiã vascular. Porém, naquela noite, enquanto entrava pela porta da emergência do Binário, ninguém enxergava Cristiane como a médica renomada de lá.
Os olhos verdes e inchados da doutora podiam notar os de pena e de espanto dos funcionários que a conheciam. Evitou contato visual com qualquer um, sabia que seus olhos podiam lhe desmascarar e não queria revelar seu medo para ninguém ali. Foi até a recepcionista de plantão, que não conseguiu esconder o espanto em ver a médica, como os demais funcionários dali.
– Boa noite Dra Cristiane!
– Boa noite, o Dr. Walter se encontra?
– Ele terminou uma cirurgia agora a pouco, acredito que ele esteja na administração. A senhora quer que eu mande chamá-lo?
– Não precisa, eu mesma vou lá. - Cristiane deu as costas, entrando por uma porta com os dizeres: "Restrito á funcionários". A recepcionista pegou o telefone e discou para o ramal da direção deixando o chefe ciente que Cristiane estava a caminho.
Fazia sete anos que Cristiane e Walter haviam se conhecido e vinham mantendo uma relação paternal. Walter além de médico era diretor do hospital e foi o responsável pela admissão de Cristiane, que havia sido recomendada pelo seu marido Breno, o neurocirurgião do Binário. Cristiane teve que dar duro para mostrar seus talentos médicos e não ficar com o estigma de esposa do neurocirurgião ou queridinha do diretor.
Quando foi chegando em frente a sala da direção, a porta automaticamente se abriu e de lá saiu o diretor demonstrando que estava à sua espera. Os olhos dele se direcionaram a mão enfaixada da amiga, e seu rosto ganhou um semblante de espanto.
– Cristiane, o que houve?
Sua pergunta ficou sem respostas. A médica abriu os braços e abraçou com tudo o médico que considerava como um pai. Foi forte naquele momento, evitou ao máximo chorar de novo. Depois de alguns minutos abandonou os braços paternos e com uma expressão séria no rosto disse que precisavam conversar. Foi então que ambos entraram na direção.
Era uma sala não muito grande, pintada de um cinza platino. No extremo aposto à porta, uma enorme mesa com um computador ficava em frente a uma parede repleta de certificados. Em cada lado da mesa um enorme vaso marrom com lírios artificiais. Na direita da sala um enorme sofá retrátil cinza claro de três lugares. Acima do sofá um ar condicionado split esfriava o local.
Cristiane entrou primeiro e foi logo sentando no sofá começando a contar tudo que lhe acontecera naquela noite. Walter entrou por último, trancou a porta com chave e sentou sobre a mesa, ouvindo perplexo cada palavra que saia da boca de sua amiga. Quando percebeu que Cristiane havia terminado de lhe contar tudo, Walter se levantou e demorou um pouco para assimilar as coisas e então falou:
– Cristiane, isso é loucura!
– Eu sei que parece loucura, mas não é. Eu posso provar, basta eu dormir.
– Cristiane, você precisa se acalmar, assimilar a morte do Breno de forma realista. Sei que tem poucas explicações, mas vamos descobrir o que aconteceu, certo?
O telefone em cima da mesa do chefe tocou, pela pequena telinha do telefone, o chefe viu o numero do ramal da emergência, pediu licença a Cristiane e atendeu. Ouviu atentamente o que a recepcionista lhe dizia e vendo que não poderia adiar aquilo, concordou com a atendente e desligou.
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Paroníria
HorrorO renomado doutor Breno teve uma misteriosa morte enquanto dormia, ninguém sabe ao certo a causa da morte e várias suspeitas parecem cair sobre sua esposa Cristiane que começou a ter sonhos estranhos desde a morte do marido. Agora, Cristiane deve de...