Cristiane não enxergava nada, nem conseguia se mexer. Seu corpo estava todo dormente. Sentia frio embora sua testa suasse. Sentia a cabeça latejar e sua respiração foi enfraquecendo. O oxigênio dentro daquela mumificação de teia estava chegando ao fim. Queria se mexer, tentar rasgar aquela teia, mas os braços não obedeciam as suas ordens. Escutou aquela mulher com corpo de aranha sibilar enquanto dava voltas em torno de sua presa. Fechou os olhos verdes, tentando se conformar com aquela triste morte. Foi quando escutou uma voz chamar seu nome.
"Cristiane!"
Os olhos verdes foram abertos novamente, mas a forma brusca a qual eles foram abertos a deram uma leve tontura. O sibilar da criatura foi ficando mais forte. A falta de ar poderia estar afetando seus sentidos. Mesmo não podendo enxergar, era claro que não havia mais ninguém ali, fora daquela teia. O sibilar da criatura deve ter lhe dado a impressão que seu nome foi chamado. A gota de suor de sua testa escorregava pelo seu nariz arrebitado. Fechou novamente os olhos, foi quando sentiu algo apertar seus ombros. Abriu os olhos. A respiração mais ofegante que nunca. Sentiu que estava delirando. Foi quando escutou a voz chamar seu nome novamente, dessa vez mais forte. Sabia exatamente de onde aquela voz vinha. De dentro da sua cabeça. Um dor insuportável surgiu em sua cabeça. E um rápido lampejo atacou seus olhos. Viu a visão embaçada de um homem em sua frente. E depois, tudo voltou a ser escuro. Percebeu seu corpo balançar.
A dama das aranhas parecia perceber a agitação da presa dentro de sua armadilha. Aproximou-se do caixão de seda e com as próprias mãos rasgou a parte de cima da seda, onde ficava a cabeça da vítima. Cristiane sentiu os pulmões serem consumidos pelo ar, enquanto observava os olhos de ira da dama das aranhas, que naquele momento não se parecia nenhum pouco com uma dama.
"CRISTIANE, ACORDE!" - Gritou a voz na sua cabeça. Sentiu os ombros serem apertados mais. A dama se preparava para atacá-la. Fechou os olhos. Sua cabeça pareceu que iria explodir. Sentiu seu corpo ser sacudido. Sentiu um enjoou vindo do estomago. Abriu os olhos e viu a cara de preocupado de Walter a encarando. Estava novamente na sala do diretor que segurava forte seus ombros.
- Cristiane, o que você fez?
A médica tentou se levantar, mas lhe veio uma forte tontura. Ainda estava sob o efeito da medicação. Parecia que tinha bebido a noite toda. A cabeça doía. Walter perguntava se ela estava bem, mas a mesma não respondeu. Afastou o médico com a mão e foi em direção a um balde de lixo que ficava do lado do sofá e lá, pôde vomitar. A médica sentiu a mão do amigo tocar seu ombro depois de cinco minutos. Já havia parado de vomitar, mas não se levantou. Ficou ali, sentada no chão, segurando o balde de lixo com a mão enfaixada e encarando a parede.
– Por que você fez isso Cristiane? Se automedicando com uma droga tão forte?
– Apenas queria provar a todo mundo que eu estava certa – falou sem desviar o olhar da parede. Pôde sentir o gosto horrível do vomito na sua boca.
– Certa em relação a que? A morte do Breno?
Cristiane então se virou para o chefe e o encarou, com um olhar amargurado. Não disse nada. Seu amigo estava agachado perto dela. Era um homem negro bastante alto e forte. Tinha feições jovens, embora os cabelos grisalhos denunciassem seus quase sessenta anos.
Cristiane olhou para o relógio que ficava pregado na parede e viu que faltavam apenas alguns minutos para as sete horas da manhã. Logo, faria exatamente 24 horas que descobrira o corpo de seu marido. 24 horas que todo aquele inferno havia começado em sua vida. Não tinha se dado conta do quanto havia dormido. Para ela, dentro de seu sonho, parecia que tudo havia acontecido em no máximo uma hora. Mas sonhos são imprevisíveis. Tanto faz você dormir horas e ter um sonho de um minuto, como dormir pouco e sonhar por dias.
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Paroníria
HorrorO renomado doutor Breno teve uma misteriosa morte enquanto dormia, ninguém sabe ao certo a causa da morte e várias suspeitas parecem cair sobre sua esposa Cristiane que começou a ter sonhos estranhos desde a morte do marido. Agora, Cristiane deve de...