Walter foi o primeiro a deixar o hospital. Minutos antes viu suas mãos tremendo enquanto fechava a sala da direção. Demorou um pouco para acertar o buraco da fechadura. Estava com uma enorme angustia dentro do peito. Acreditava que não deveria ter contado a Cristiane tudo que sabia. Ter despejado tudo aquilo em cima dela apenas um dia depois da morte de seu marido.
Ao chegar à recepção viu a amiga andando em um corredor a caminho do refeitório, estava acompanhada pelo policial com quem conversou logo cedo. Walter pensou em ir até lá, falar com ela, pedir desculpas, dizer que acreditava nela. Mas quem acreditaria? Sonhos que matam? Aquela história não faria o menor sentido nem mesmo em um filme de ficção. Walter então deixou o hospital, não tinha sentido conversar com Cristiane naquele momento, esperaria a amiga se acalmar e então conversariam. Até por que precisava descansar. Estava a quase 48 horas de plantão e havia feito duas cirurgias de risco.
O transito naquela hora não era tão calmo, mas ainda assim conseguiu tirar 25 minutos até sua casa. Tomou um banho gelado e deitou na cama. Procurou o celular, mas não o encontrou. Então se lembrou de que deixou o celular no banco de passageiro de seu carro. Deixou pra lá. Não estaria a fim de atender nenhuma ligação naquele momento. Pegou no sono enquanto pensava na loucura que Cristiane havia lhe contado, mas quando o frio chegou seus pensamentos se voltaram para proteger seu corpo. Com o tato não encontrou o lençol, apenas sentiu a terra molhada entrar pelos seus dedos. Abriu os olhos e se deparou com uma lua vermelha sobre sua cabeça. Levantou apreensivo ao redor de algumas árvores. Estava com o corpo totalmente pelado, sentia frio. Levantou-se, cobrindo as partes de baixo e começou a andar a procura de alguma coisa para se cobrir.
Seria um sonho? Seria o tipo de sonhos que Cristiane havia falado? Milhares de perguntas invadiram a cabeça de Walter sem alcançar resposta alguma. Seu pé escorregou em uma descida de lama fazendo o resto do corpo cair na lama fofa. Levantou-se.
Andou mais um pouco e avistou uma trilha amarela no chão, ao longe. Uma mulher, clareada pela lua avermelhada sobre suas cabeças, caminhava naquela trilha. O vento frio soprava mais forte. Walter levou as mãos novamente para esconder seu genital. E começou a andar em direção a mulher, chamando e pedindo por ajuda.
A mulher ao vê-lo assustou e começou a recuar. Walter perdeu de vez a vergonha e levantou os braços, balançando-os e gritando que precisava de ajuda e que não iria fazer mal algum a ela. A moça gritou algo que Walter não pode entender e correu para o outro lado da floresta, saindo de seu caminho de tijolos amarelos.
***
Cristiane foi a segunda a deixar o hospital. Deixou Gilvan sozinho no refeitório. Nos seus olhos havia ira por saber que ninguém estava acreditando nela. Alguns funcionários a cumprimentaram enquanto ela passava pelo corredor em direção à saída, mas ela não se deu ao trabalho de responder ninguém. Entrou no seu Honda Civic preto e se olhou no retrovisor. Como vinte e quatro horas poderiam ter lhe envelhecido tanto? Um banho resolveria e uma tranquila tarde de sono. Mas será que seria capaz de ter um sono tranquilo novamente? Ligou o carro e saiu do estacionamento.
Sentiu o corpo cansado. Sentiu sono, talvez por conta da medicação que tinha se auto injetado. As falanges dos dedos faltantes ardiam. Seu tornozelo ainda estava um pouco dolorido. Sentiu um pouco de arrependimento de ter brigado com Walter. Uma tristeza invadiu seu corpo. Pegou o celular e procurou o nome dele na agenda, mas não teve coragem de ligar. O transito estava calmo.
Pensou para onde iria, se deveria ir para casa. Achou melhor não. Pegou novamente o celular e discou o numero de Luan. Chamou, mas ninguém atendeu. Havia quase um mês que terminara seu caso com o advogado. Desde então não haviam conversado direito, desde a noite anterior. Resolvera acabar quando percebera que Luan estava se apaixonando por ela. Algo que ela definitivamente não queria.
Desistiu de ligar e resolveu mandar mensagem. Dizer que precisavam conversar, sobre a morte do marido, que ela estaria indo a caminho de sua casa. Acreditava que Luan pudesse acreditar nela. Enquanto digitava no seu celular não percebeu o sinal do cruzamento fechando para sua via. Apertou o botão de enviar quando escutou a buzina. Olhou para o lado, mas já era tarde demais. Um rápido flash em sua vista antes da pista rodopiar. Depois viu a frente de uma S10 toda machucada, e então tudo escureceu.
***
Gilvan foi o terceiro a deixar o hospital. Terminou de tomar seu café enquanto pensava nas palavras que ouvira de Cristiane a pouco "O sonho do Breno foi que o matou". Analisou bastante aquela frase e chegou à conclusão de que ou Cristiane era louca ou era responsável pela morte do marido.
Pegou o seu carro e foi até a delegacia. Chegando lá entregou um relatório sobre a noite que passara vigiando Cristiane e foi embora para sua casa. Encerrando assim seu plantão. Voltou para o carro e pegou a via norte, passou por uma ambulância que corria no sentido contrário com as sirenes ligadas, um acidente talvez. Chegou em frente ao apartamento, estacionou o carro e subiu para o quinto andar.
Entrou e avistou sua namorada, dormindo em sua cama. Sorriu. Como ela era linda. Não conseguia entender como uma mulher tão maravilhosa daquelas teria aceitado namorar com ele? Tirou a roupa, tentando fazer o mínimo barulho possível para não acordá-la e foi para o banho. Sentiu a água descer por todo o seu corpo e só saiu dali depois de vinte minutos. Cansado, vestiu apenas uma cueca, fazia calor em seu apartamento, por isso sempre havia um ventilador ali ligado. Deitou ao lado da namorada, colocando seus braços em volta do macio corpo dela. Deu um rápido beijo nas costas nuas da jovem e fechou os olhos. O sono veio quase de imediato.
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Paroníria
HorrorO renomado doutor Breno teve uma misteriosa morte enquanto dormia, ninguém sabe ao certo a causa da morte e várias suspeitas parecem cair sobre sua esposa Cristiane que começou a ter sonhos estranhos desde a morte do marido. Agora, Cristiane deve de...