Capítulo 13

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Ao colocar seus pés na trilha de tijolos amarelos Walter sentiu uma leveza em seu corpo. De repente, o frio havia se dissipado. Passou os olhos pelo seu corpo e viu que agora estava vestido. Um casaco marrom em cima de uma camisa branca. Na parte de baixo uma calça jeans escura levava até uma bota preta. Olhou para sua frente a procura da mulher que havia fugido dele, mas a única coisa que viu foi as árvores que dançavam freneticamente junto ao vento frio que ele não mais sentia. Começou a caminhar pela estrada de tijolos amarelos, algo que se assemelhava a uma historia que ouvira no seu tempo de infância. Decidiu que era seguro permanecer ali, não sentia frio nem cansaço. Definitivamente aquilo era um sonho. Estava despido há poucos minutos e do nada ficou coberto por roupas. Começou a pensar nas palavras de Cristiane naquela manhã dizendo que Breno havia sido morto no seu sonho. Por um momento cogitou acreditar naquilo. Aquele sonho que estava tendo naquele momento não provava nada, mas era tão real e ele estava em pleno controle dos seus pensamentos. Então, veio a sua mente algo que já vira muito em filmes e que sempre quis fazer, embora nunca tivesse tido tanto domínio em seus sonhos como naquele momento, se beliscar. Dizem que quando uma pessoa está sonhando, um beliscão faz com que ela se acorde, mais ou menos como quando se tropeça em uma pedra e se acorda com a sensação de que está caindo. Walter poderia perfeitamente usar isso, acordar e ri feito um louco por ter achado que aquilo de fato era um sonho assassino, depois se aconchegaria novamente e tentaria volta a dormir. Levou os dedos da mão direita em direção ao antebraço esquerdo e o apertou com o indicador e o polegar. Aquele seria seu primeiro arrependimento em seus sonhos. 

Um grito ecoou nas suas costas. E ao se virar foi atingido pelo frio. Os tijolos amarelos estavam saindo da terra e sendo lançado para cima. Destruindo a trilha e vindo em sua direção. Walter pulou para o lado, caindo  nu na areia úmida antes que os tijolos que estavam abaixo dele voassem também e atingisse-lhe o rosto. Rajadas de vento atingiam seu corpo trêmulo. Os sopros da ventania em seus ouvidos pareciam vozes de preces, choros e lamentações, todos misturados. Tentou correr, mas não sabia para onde. Estaria protegido junto às arvores ou ali em um campo mais aberto? Pensou em ir para as árvores, se proteger do forte frio que estava fazendo quando do chão de onde estiveram os tijolos amarelos brotou uma luz azul. 

Se os tijolos amarelos o protegeram uma vez, aquela luz azul também poderia protegê-lo. Tentou correr, mas suas pernas tremiam demais para tal ato, então caminhou lentamente e caiu de joelhos em frente à luz azulada. A luz vinha de uma pequena folha que brotara da terra. Walter aproximou as mãos sujas de terra perto da folha e sentiu um leve aquecer. Tocou lentamente na planta e sentiu sua textura molenga. Então agarrou o talo da pequena plantinha e a puxou da terra. Aquele seria seu segundo arrependimento em seus sonhos.

As rajadas de vento foram diminuindo a medida que a folha ia perdendo seu brilho anil. O talo da plantinha derramava sangue e então Walter sentiu sua mão queimar. Soltou a planta no chão e foi quando percebeu que outro azul saia do chão. Se aproximou para ver se iria brotar outra planta, mas para sua surpresa, com forte violência saiu do chão uma mão, quase acertando seu rosto curioso muito próximo da terra.

O médico jogou o corpo para trás enquanto assistia a mão se contorcer para sair debaixo do chão. E a mão com muito sacrifício ia conseguindo sair da terra, como se fosse uma arvore que nascesse rapidamente. E foi formando um braço de madeira azulado, com alguns galhos de plantas idênticos ao que Walter acabara de arrancar. E do braço surgiu um ombro de carne humana, também azulado. Nessa hora Walter já estava inteiramente em pé, não queria ficar ali para ver o que sairia por completo do chão. Angustiado, começou a correr em direção as árvores. Ouviu um grito em suas costas. A cabeça daquela coisa já havia saído do chão, mas não teve coragem de olhar para trás. Seu único pensamento era chegar até as árvores, procurar um lugar para se proteger. Estava quase lá. A criatura urrou mais uma vez. Aproximou-se mais um pouco e sentiu algo lhe atingir o estomago.

Viu, em câmera lenta, um tronco de árvore lhe atingir com tudo na barriga. Abriu a boca e viu as gotas de sangue manchar o tronco que o atingiu. Depois, seu corpo ganhou uma velocidade monstruosa. Tudo a sua volta acelerou enquanto seu corpo voava para trás. Não teve muitos machucados graças à terra fofa e molhada que atingiu quando caiu. Estava muito longe das árvores agora, mas sentiu uma forte luz ao seu lado. Girando a cabeça devagar enquanto segurava a barriga que doía. Viu a criatura fantasmagórica o encarar, com a cabeça de madeira azulada em formato de rosto humano pesando para a direita como se seu pescoço humano estivesse quebrado. A criatura não tinha olhos, apenas um vácuo preto na face. A boca aberta mostrava uma série de dentes afiados manchados de terra. O corpo da criatura terminava não em pernas, mas em raízes que iam direto para o chão de onde a criatura saia. Walter então percebeu que a criatura não poderia alcançá-lo. Como uma árvore, estava preso no chão e não poderia se mover para muito longe. Foi então, num tom de segurança e esquecendo completamente a dor no estômago, que Walter começou a ri aliviado na frente da criatura. Aquele seria seu terceiro arrependimento em seus sonhos.

 Aquele seria seu terceiro arrependimento em seus sonhos

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