ISABELA

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Estou ansiosa com a minha mudança, mas venho trabalhando para ser mais confiante, minha mãe vem aumentando esta insegurança a cada dia, exemplificando situações que me apavoram para ver se mudo de ideia, sei que ela está me testando, afinal ela sabe dos conflitos que venho lutando diariamente. Uma parte de mim pedi que eu desista, a outra persiste que eu preciso ir. Rafael me liga todos os dias, se declara e implora que eu fique, quanto mais ele insiste mais me dou conta que devo seguir o caminho que escolhi.

Essa noite a angustia me invade, o sono chega mas quando me deito simplesmente não consigo dormir, sento-me na cadeira da varanda do meu quarto, com um chá de camomila a me acompanhar, estou a um tempo conversando com Lê pelo zap, ela tem me incentivado bastante, segundo ela, eu preciso me desgarrar das asas dos meus pais, viver, curtir, amar, gozar, nossa gozar, caio na risada, ela é tão positiva, pra frente, decidida, totalmente o meu oposto, por isso amo nossas conversas, conhece meus problemas, principalmente aqueles que venho enfrentando a anos sem grandes melhoras, mas também eu fujo, tenho medo, quero me esconder da vida e meus pais colaboram para que eu permaneça assim, mas com Lê não, ela me impulsiona, me testa e segura a minha mão, fico feliz com isso, em poder contar com ela e sei que a qualquer momento se nada der certo retorno para minha casa.

Já passa da uma da madrugada, como ainda não conseguir dormir continuo conversando com Letícia, ela está em uma balada em um clube que sempre frequenta, me manda um áudio, escuto, ouço um som de música ao fundo e quase no final, sou afetada por uma voz grossa e máscula, ESTAMOS ANSIOSOS POR SUA CHEGADA, não me contenho e pergunto quem é, até estranho minha reação impulsiva, mas a voz me estimulou a tal ação e mais uma vez ajo sem medida aceitando a chamada de vídeo, preciso saber quem é o dono da voz misteriosa.

Lê aparece, está um pouco escuro mas posso ver bem, está tão animada, feliz, amando, Rodrigo está ao seu lado, ele é bonito alto, formam um belo casal, ela fala com empolgação contagiante o quanto queria que estivesse lá, tento me ajeitar pois estou um horror com os cabelos esvoaçados, tento convence-la, mas ela nem liga, estica o braço e aponta para um homem ou melhor dizendo ô homem, afirmando ser o intruso do áudio. Ao virar a tela para ele não sei o que fazer, o que falar, estou perdida, envergonhada, mas não consigo tirar os olhos dele, que me olha intensamente me desconcertando, ele não fala nada e piora a minha situação, digo oi, sorrio, minha boca seca e involuntariamente passo a língua entre meus lábios e sua expressão muda mais ainda, é constrangedor, ele passa a mão por seu cabelo castanho lindo, brilhante, que caem numa coreografia suntuosa sobre a testa e me dou conta de como a voz faz jus ao dono, ele é muito atraente, forte, lindo. Mas por que não fala comigo? Parece não gostar do que vê, porém continuamos nos olhando e de repente a tela é invadida por vários homens super animados, acenando e gritando elogios como gata, fazendo piadas de médico com duplos sentidos, que querem adoecer para serem curados por mim, mas não me concentro, fico procurando por Ele que sumiu da tela e me entristecendo, Lê volta a falar comigo gargalhando pedindo que não ligasse para seus amigos babacas, pouco me importava, queria vê-lo novamente.

- Qual deles falou no áudio? - Insisto a procura de mais informações.

- Diego, o que te mostrei primeiro, ele saiu, deve ter ido pegar uma bebida. - Diego é o seu nome, me despeço e volto a dormir, agora porém, com a cabeça pensando em Diego e o porque de ter sido tão frio comigo.

Minhas aulas iniciam na primeira quinzena de fevereiro, estamos em janeiro mas minha mãe quer que a mudança aconteça bem antes das aulas começarem, ou seja, agora, para eu viver um período de adaptação. Na sexta à noite iremos para Holambra, no sábado minha prima fará um churrasco com seus amigos e nossos familiares, não gosto de toda essa exposição, mais ela sabe muito bem persuadi quando quer as coisas, queria mesmo era organizar minha nova moradia, me concentrar nesta nova etapa que se aproxima e que me deixa tão aflita. Minha mãe coitada, toda hora vem falar de sexo, drogas e gravidez, acho hilário, mas escuto tudo com paciência.

- Filha e seu carro? Você precisará de um, ou preferi um motorista? - De jeito algum vou querer um motorista a minha disposição, ainda mais em uma cidade pequena onde tudo vira notícia, descarto essa possibilidade.

- Não mãe, pode deixar que eu mesma irei dirigir. - Desde que tirei a minha habilitação fujo da direção, São Paulo tem um trânsito caótico e nas condições que me encontro evito o máximo que posso, mas agora em Holambra, cidade calma, posso muito bem iniciar minha vida de motorista. Quando completei 18 anos meu pai me presenteou com um jeep xtreme branco, o coitado nunca foi usado por mim e olha que já estou perto dos 20.

- É isso aí, estou gostando da mudança - Minha mãe fala surpreendida com a minha determinação. Isso mesmo Dona Verônica agora tomo as rédeas da minha vida, penso. - Tenho uma excelente notícia, Maria irá com você, diz ela que não deixaria outra pessoa cuidar de sua casa a não ser ela, então Sônia ficará no comando geral da nossa casa aqui e Maria ficará com você lá, caso precise de mais alguém para ajudá-la nos serviços, ela se encarregará de contratar. Então mocinha, gostou?

- Eu amei, mãe! - Digo abraçando-a. - O que seria de mim sem vocês! - E agradeço aos céus por ver que as coisas aos poucos estam dando certo.

- Eu ficarei bem mais tranquila com Maria morando com você, um final de semana no mês ela virá para cá vê sua família, então comporte-se mocinha! - Reviro os olhos e caio na risada, minha mãe não existe, até parece que apronto alguma, minha vida será, casa estudo, estudo casa.

Anoitece, estou sozinha em casa, aproveito para arrumar uns pertences pessoais para levar comigo, meus pais saíram para algum jantar importante. A campainha toca e me assusto, estava tão concentrada organizando minhas coisas, deve ser alguém íntimo já que o porteiro não anunciou. Desço as escadas correndo, abro a porta e Rafa está diante dela, impecável em seu terno preto, sua expressão é séria, nem ao menos sorri, suas expectativas já estão ficando chatas.

- Achei que iria ao jantar com seus pais. -  Rafa fala irritado, passando por mim e entrando sem eu ao menos convidá-lo.

- Não estou entendendo sua reação, será que não ficou claro desde a última vez que esteve aqui que não temos mais nada, estou me mudando e não tenho planos nenhum em me comprometer com alguém. Eu sou uma bagunça emocional no momento e você só piora as coisas. - Que situação desconfortável, não quero desfazer dele, mas não sei como ser mais clara na minha posição sem magoa-lo.

- Isabela, sei que está confusa, sei como você é vulnerável, precisa de um homem determinado ao seu lado, como eu, que te ajude. Estive falando com seu pai que poderia perfeitamente conduzir seu carro até Holambra e ele achou ótima a ideia, melhor dizendo, seu pai nos tem como um casal perfeito. - Fala se aproximando, dou passos para trás, estou ficando irritada com esta insistência.

- Eu não acredito no que estou ouvindo Rafael. Já resolvemos tudo, um guincho irá transportar meu carro, e neste momento eu gostaria que você se afastasse, está sendo intransigente. Não quero sua ajuda, muito obrigada e agora me dê licença pois estou ocupada. - Peço já irritada, seus olhos estão vermelhos, sua respiração ofegante, estendo a mão em direção a porta indicando a saída, mas ele vem na minha, segura minha cabeça com as duas mãos e força um beijo, começo a me debater, mas ele não me larga, esmurro seus ombros até que me solte, dou passos para trás nervosa, me atrapalho e caio no chão, ele vem em minha direção, mais grito e rejeito a sua ajuda sinalizando com a mão. Ele para triste e eu me desespero, o que ele fará?

- Desculpe Bela, mas não aceito que você me descarte assim da sua vida. Eu vou embora esfriar minha cabeça para não fazer uma besteira, se contente com isso, mas marcarei presença constante em sua vida, somos um do outro e de mais ninguém. - Vocifera e estremeço toda.

Segue em direção a porta e a fecha com força. Corro para o meu quarto aos prantos tentando entender o que aconteceu, preciso de um banho, estou com nojo de mim, nojo da minha atitude, ou melhor da falta dela. Para que meu pai dá tanta abertura ao Rafael, será que não percebe que não quero, me sinto inútil, fraca e desrespeitada, só me resta chorar.

Os dias passam e a sexta chega, sempre que me lembro de Holambra apenas uma imagem me vem a mente, Diego, seu nome me causa calafrios, sua reação a mim, me encabulou, quero vê-lo, foi notório sua repulsa a mim, enquanto todos estavam sendo brincalhões e gentis, ele não, ele preferiu ser hostil.

O teu amor me cura! [COMPLETO] - Revisão em breve!Onde histórias criam vida. Descubra agora