42 - Voltando à cabana

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Natália não conseguia sequer pensar em acalmar Gustavo, seu único e maior impulso era tentar dar a ele qualquer pista que o levasse ali. Seja quem fosse a pessoa que havia sequestrado-a, não podia ser coincidência que a tivesse levado precisamente ao lugar onde passou os mais intensos momentos com ele. Onde se perdoaram e descobriram que ainda se amavam. Onde se entregaram àquele sentimento em um momento em que parecia em que tudo que restava entre eles era digladiarem-se até se destruírem. Onde a vingança deu lugar à paixão. Onde seus corpos e suas almas se conectaram de maneira irremediável.

Aquele homem continuava apertando-lhe o ombro, aparentemente irritado porque ela demorava a responder. Não teve mais escolha, senão dar a Gustavo a única pista que poderia para que ele pudesse, quem sabe, resgatá-la.

— Gustavo? — A voz saiu num sopro.

— Amor, você está bem? Como você está? Está com frio? Está confortável? — Afobou-se Gustavo.

As perguntas dele deram-lhe um clique. O inverno estava forte na Cidade do México e em seus arredores naquela ocasião, mas, ainda assim, eram poucas as casas que tinham lareira. As das famílias mais abastadas e as cabanas de inverno como aquela compartilhavam um privilégio pouco comum. Possivelmente Gustavo também quisesse conseguir algum tipo de pista com ela.

— Estou bem, não se desespere. A lareira está acesa, não se preocupe com o frio. — A pista saiu direta, sem meias palavras.

— Eu vou tirar você daí, meu amor, eu prometo! — Garantiu Gustavo emocionado com um inexplicável desejo de que aquela ligação não terminasse nunca.

— Ahhhh — Gritou Natália ao o impacto de que o telefone fosse arrancado de súbito de sua mão e o homem colocou novamente no mudo, alertando-a:

— Diga-lhe o que precisa ser dito! Nada mais que isso! — Ordenou colocando o telefone de novo na mão dela.

— Está bem... Gustavo, meu amor... Faça tudo que eles mandarem... Isso é tudo que você precisa fazer. — As lágrimas saíram tão intensas que começaram a molhar a venda.

A ligação foi encerrada e seu algoz a puxou da cadeira levando a de volta para o quarto.

— Como você sabe da lareira? Você a viu? — Estranhamente ele não parecia irritado pelo fato de que Natália pudesse estar reconhecendo o lugar.

— Eu a ouvi. Ouvi o som da madeira queimando. Não há muitos sons diferentes para se escutar aqui. — Respondeu segurando o choro.

— Não tente dar uma de espertinha ou senão você poderá se dar muito mal. O que você acha? Que o Gustavo vai te tirar daqui? Ele está muito feliz com onde você está agora! Tudo o que ele queria era encontrar uma maneira de te tirar de circulação! — Afirmou gargalhando antes de sair do quarto.

Ao se perceber sozinha, Natália tirou a venda dos olhos e olhou para os lados. Toda aquela escuridão começava a sufocar-lhe ainda mais. Ela levou as mãos à barriga e pensou que não podia haver existido um momento pior para aquele sequestro. Por fim, ficou processando as palavras do carcereiro e, finalmente, reconheceu sua voz. Seu nome era Fausto e ele trabalhava como caseiro na cabana, vivia ali. Natália o havia visto algumas das vezes em que esteve na cabana com Gustavo e, pelo que havia entendido, seus honorários eram pagos pela Romero Produções.

Suas palavras lhe davam a entender que, talvez, Gustavo estivesse por trás daquele sequestro com a clara intenção de deixá-la muito desconfiada. Não poderia se deixar levar por aquelas intrigas num momento em que ela e Gustavo haviam construído tanta confiança a ponto de decidirem estarem juntos para sempre. Haviam trilhado um caminho tão tortuoso para que aquele amor se tornasse tão imprescindível para que palavras de um homem que se prestava a vigiar uma mulher sequestrada fizessem diferença. Provavelmente, quem a sequestrou tivesse a intenção, de fato, de jogá-la contra seu namorado e isso podia indicar que iria mantê-la viva. Ao menos esse refresco ela poderia ter.

Tom de VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora