Overdose

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Pov. Lucrecia

Eu sabia bem o que estava fazendo ainda que os outros não soubessem. Talvez se Valério estivesse aqui ele teria percebido, mas o resto dos meus "amigos" não notou nada, mas uma prova de como não me conheciam. Eu estava 100% exausta de tudo e de todos, só queria que tudo terminasse e sabia exatamente o jeito de fazer com que minha escolha parecesse um acidente.

Ninguém estranhou quando eu apareci na boate pela milésima vez daquele mês, de novo completamente sozinha, já era um hábito eu frequentar o mesmo lugar que todos e não falar com nenhum deles. Então, quando eu não dirigi a palavra a ninguém não foi uma surpresa, era uma noite qualquer para eles e se tudo desse certo a última da minha vida.

Eu não queria morrer, mas se a morte fosse o único modo de acabar com esse vazio e essa solidão eu estava disposta a tentar. Eu só queria acabar com tudo, misturei três drogas completamente diferentes, porém numa quantidade tão discreta que eu sabia que quando tudo acabasse todos pensariam ter sido um acidente: álcool, cocaína e ecstasy, drogas que eu vinha usando nos últimos meses com frequência, mas que nunca tinha usado juntas.

A primeiro momento nada parecia estar errado, a sensação boa causada pelas drogas veio com força e eu agradeci por ter escolhido essa maneira para partir. Se não existisse mais nada do outro lado ou se eu fosse condenada ao inferno pelo menos ainda teria esses últimos minutos de felicidade. E ainda que ela fosse falsa, para quem nunca conheceu a de verdade, era real o suficiente. Eu pulei, dancei, cantei, sorrindo como não fazia desde criança.

Mas da mesma maneira como essa sensação surgiu, ela começou a ir embora. A paranoia veio primeiro com uma raiva acumulada absurda, eu comecei a achar que as pessoas estavam me encarando e rindo de mim, o que eu sei hoje que não estavam, mas na hora não. Naquele momento eu tinha certeza que todos zombavam de mim e eu comecei a gritar e brigar com quem estava no meu entorno. Não me pergunte quem eram essas pessoas, eu não faço ideia.

Quando duas mãos masculinas me seguraram tentando me acalmar, eu não as identifiquei, já estava nauseada demais para focar em qualquer outra coisa. Uma fraqueza fora do comum me tomou, comecei a ter dificuldade de manter em pé e consciente. Me apoiei nele, apesar de não ter ideia de quem era, meu olhos não conseguiam mais ficar abertos, meu corpo estava mole demais...

— Lucrecia... Lucrecia, abre os olhos! Lu... — Samuel repetia incessantemente e eu ouvia, mas não conseguia abrir meus olhos. Foi a sensação mais estranha que eu já tive na vida, eu não estava sentindo dor, mas era como se tudo estivesse acontecendo rápido demais e eu não conseguisse processar. Respirar era particularmente difícil, abrir os olhos era impossível.

—Lucrecia... Alguém sabe o que diabos ela usou? — Até a música tinha parado, eu só ouvia a minha própria respiração e sentia o corpo de uma outra pessoa me segurando.

— Alguém liga pra emergência, ela tá tendo uma overdose... Puta que pariu Lu ... O que você fez? — Ouvi Samuel dizer desesperado e queria dizer para ele não se preocupar, que estava tudo bem, mas não consegui.

— Se você estiver me ouvindo aperta minha mão... por favor. — Com toda força que eu tinha eu fiz o que ele pediu. Um aperto fraco, quase imperceptível.

— Isso Lu, vai ficar tudo bem... Vamos te levar para o hospital. — Eu queria dizer a ele que não precisava, que eu estava bem ali, que morrer nos braços dele não seria tão ruim.

Pov. Samuel

Eu estava dançando com a Rebeka quando eu vi a confusão começar, achei estranho, já estava de olho na Lucrecia tinha um tempo e quando ela parou de pular e sorrir e começou a discutir com todos, eu soube que tinha algo errado.

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