Pov. Valério
Não sei explicar o que passou pela minha cabeça quando escutei o que Samuel tinha para me contar, os últimos meses passaram como um filme na minha cabeça. A forma como eu fingi que não sentia mais nada, como ignorei os sentimentos que eu ainda tinha e tenho pela Lu chegava a doer.
Eu passei todo esse tempo pensando nela, evitando ligar e mandar mensagem todos os dias, apesar da vontade de falar com ela, de saber se Lu estava bem. Agora sabendo o que aconteceu não consigo parar de me arrepender. Deveria ter ligado todas as vezes que acordei de madrugada com saudade da voz dela, queria ter enviado aquela mensagem dizendo que estava com saudades que guardei para mim mesmo.
Me sentia extremamente culpado e confuso, sempre achei que seria eu a parar num hospital a beira da morte. A parte bizarra é que desde que me afastei vinha usando cada vez menos drogas, queria ser uma pessoa melhor e vinha tentando meu máximo. Me inscrevi num tratamento, próximo ao internato que estou estudando, e há dois meses não uso praticamente nada. Tenho feito trabalho voluntário e evitando festas, ás vezes sequer reconheço essa nova versão minha.
E pensar numa nova versão da Lu que eu não conheço capaz de usar tanta droga a ponto de ter uma overdose não faz sentido e me dá vontade de gritar e chorar. Quando eu fui embora eu sabia que ela estava sozinha, que não tinha amigos, e eu fui mesmo assim, fui egoísta a ponto de simplesmente ir embora e agora talvez eu nunca mais a veja com vida.
Talvez eu a tenha perdido para sempre, era a única coisa que passava pela minha cabeça, nossos últimos momentos viam na minha cabeça: nossas brigas, eu nos relevando para toda nossa família e o silêncio dos últimos dias. Peguei o carro desesperado, dirigi acima da velocidade permitida na estrada, a ideia de chegar tarde demais me fazia perder o medo do que poderia acontecer comigo, naquele momento nada mais importava só ela, meus olhos estavam marejados, eu precisava estar no hospital o quanto antes. Que diabos Lu tinha feito?
Cheguei no hospital correndo, já tinha chorado demais, gritado sozinho no carro e fumado uma porção de cigarros. Nada era capaz de aliviar o desespero e a dor que pensar em perdê-la me causava, era minha culpa, só podia ser, Lu nunca teria perdido o controle desse jeito se eu estivesse por perto.
Queria poder culpar outra pessoa, jogar a culpa para seus outros amigos, mas duvido que algo tenha mudado nesses últimos meses, Lu estava completamente sozinha quando eu fui embora e assim deve ter ficado. Ver todas aquelas pessoas na sala de espera me deixou mais irritado, todos estavam ali naquela hora, mas duvido que estivessem por perto antes disso acontecer.
Controlei meus pensamentos, quem era eu para julgá-los? Tinha feito pior que eles, Lu não esperava nada diferente deles, agora eu, a única pessoa que sempre jurou que estaria por perto ir embora deve ter sido mais que determinante para tudo isso.
Mas mesmo assim não fazia sentido, Lucrecia sabia o que podia ser usado junto, as quantidades, e mais do que isso ela sempre foi o tipo de pessoa controlada demais para cometer um deslize como esse. Lu não misturaria tudo aquilo por acidente, uma ideia passou pela minha cabeça, mas logo descartei. Lucrecia nunca faria isso consigo mesma.
Samuel foi a única pessoa que me fez companhia, ele sabia vagamente sobre o que eu e a Lu tínhamos, mas não nos julgou, parecia quase ter compaixão de tudo que estávamos passando. Ele me consolou e parecia realmente se preocupar com a Lu, ao contrário dos outros.
Não quero dizer que eles não estavam preocupados, mas não parecia genuíno e a minha vontade era expulsar a todos, principalmente o Guzmán, que foi o maior babaca com a minha irmã. Mas honestamente não tinha forças para reagir ou brigar, na realidade só conseguia pensar em uma Lucrecia perdendo a vida tão próxima a mim e eu não podendo fazer nada. Precisava que ela ficasse bem, era o único pensamento linear que eu tinha. Rezava sem parar para um Deus que eu nem acreditava para salvá-la, faria qualquer coisa para garantir isso.
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Hermanos
FanfictionDuas cartas de despedida do Valerio e da Lucrecia após os acontecimentos da segunda temporada. Uma foi enviada e a outra não.