Você me perdoa?

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Pov. Valério

Olhar para ela naquele estado é sem dúvida a pior e melhor coisa da minha vida. Ela está viva e bem fisicamente, mas saber o que ela tentou fazer duas vezes e o que teria acontecido se eu não tivesse chegado é desesperador.

Samuel foi para casa depois de eu insistir muito com a promessa que voltaria no dia seguinte e fiquei ali a vendo dormir. Obcecado com a sua respiração, sentia que se fechasse os olhos talvez a perdesse e me odiava por ter deixado isso acontecer.

Passo a madrugada inteira, dormindo e acordando sem parar, não quero dormir, mas estou tão cansado, preciso que esse desespero termine. Não posso viver sem saber que é isso que ela vai fazer também...

Faço carinho na sua mão enquanto mexo no seu cabelo, segundos os médicos, não deve demorar muito para ela despertar. Tento me preparar para esse momento, pensar nas palavras certas, mas por mais que eu sinta muitas coisas, não sei exatamente como dizê-las. Nenhuma das frases parece certa e quando Lu finalmente abre os olhos, nenhuma palavra saí da minha boca.

Toco seu cabelo com delicadeza e tento sorrir, porém o que saí deve estar mais próximo de uma careta. Lu parece entender, retribuí meu olhar na mesma intensidade e por minutos ficamos ali parados só encarando um ao outro. Ela toca e enrola um dos meus cachos como costumava fazer no tempo que estivemos juntos.

É por esse gesto tão pequeno e íntimo que me dou conta de quanto a amo, a amo mais do que qualquer outra pessoa, e sem aviso ou preparo começo a chorar. Lu me abraça e nos seus braços eu desabo, choro como uma criança, num desabafo por tudo que vivemos. Escuto seu soluço e a abraço mais forte, sempre estivemos juntos e dessa vez não será diferente.

Choro por tudo que não pudemos vivenciar por ser irmãos, pelo modo como ela sempre me tratou, choro de saudade e mais do que tudo choro de medo, porque ainda que ela tenha me magoado como ninguém, não posso viver sem ela.

— Você me perdoa, Val? Desculpa não ter sido corajosa o suficiente para tentar um pouco mais... — Diz ela escapando dos meus braços para me encarar.

— Depende. Você me perdoa, Lu? Você não estava bem, não está bem, está doente e eu deveria ter encontrado um jeito de garantir que você se tratasse. Deveria ter colocado aquela casa abaixo, eu sabia o risco e não tentei o suficiente. Nada disso é sua culpa, bonita, por isso não há nada que perdoar, ok? Só não faz de novo, tudo bem? Eu não suportaria, receber aquela mensagem foi um dos piores momentos da minha vida, Lu, pensei que fosse te perder de verdade dessa vez. Mas não perdi e não vou deixar que você se vá tão cedo, ok? — Aproximo meu corpo do dela e a beijo. Não me importo mais que nós sejamos irmãos, existem coisas mais importantes que isso, o beijo começa devagar e vai se tornando cada vez mais intenso. Toco seu corpo com delicadeza, e me afasto quando não consigo mais ficar sem respirar. Encosto minha testa na dela e seguro sua mão novamente se dependesse de mim esse seria nosso futuro.

— Te amo, Val, mais do que tudo. — Sussurra no meu ouvido. — E prometo não te fazer passar por isso de novo. Nunca mais.

— Te amo, bonita... — Me deito do seu lado e com sua cabeça no meu peito faço carinho no seu cabelo.

— Nossos pais já sabem? — Lu pergunta depois de alguns minutos de silêncio.

— Já, devem chegar amanhã.

— Me ajuda a contar tudo pra eles? Preciso de ajuda e não acho que eles vão querer me ouvir.

— Pode deixar. Eles vão te ajudar dessa vez, agora descansa que amanhã vai ser um longo dia.

E no fim por mais desesperador que fosse pensar no dia seguinte, na realidade de ter que encará-los, a alegria de tê-la ao meu lado viva e relativamente bem era maior que tudo.

— Te amo, Val...

— Também te amo, bonita, vou sonhar com você. — Ela sorriu para mim genuinamente e eu retribuí.

— Bons sonhos, cariño.

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