Nova Casa

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Pov. Valério

– Ok, o que eu seria sem você?

– Nesse momento rica. – Brinco com ela porque quero mais que tudo vê-la sorrindo, mas se for bem honesto por dentro estou revoltado. Como meu pode pode ser tão cruel?

O bem da Lu é a única coisa que me importa agora e claramente ter nosso pai por perto não é uma boa ideia. Ainda que tenhamos cometido o maior dos erros, a reação dele nesse momento depois de saber o que Lu tentou fazer duas vezes não faz sentido para mim.

Como um pai ignora que a filha tentou se matar? Por que as aparências e as supostas regras importam mais para ele que a nossa felicidade e bem-estar?

Se eu pudesse teria partido para cima dele na hora, só não fiz, porque tinha certeza que era tudo o que Lu não precisava. Ainda que o abandono doa, sei que posso ajudá-la se continuar do lado dela.

E quando ela me beija tenho certeza de que sou o que ela precisa, obviamente não vou curar os seus problemas, como ela também não pode curar os meus, mas juntos somos mais fortes para superar todos eles. E se eu tiver que chocar algumas pessoas no processo realmente não me importo.

Ficamos juntos por algumas horas, só aproveitando a proximidade um do outro, algumas enfermeiras e médicos vem checar seu estado, todos claramente acham estranha nossa proximidade, mas não dizem nada e pela primeira vez em anos Lu não parece se importar.

Um dos médicos dá a boa notícia que se ela for liberada pela psiquiatria pode ter alta amanhã de manhã, e que para isso o doutor Carlos irá visitá-la mais uma vez.

– Como vamos fazer, Val? – Lu diz depois que o médico saiu. Pela primeira vez ela parecia nervosa de novo como se o peso da realidade tivesse a atingido.

– Vamos dar um jeito. – Falo e seguro sua mão firme, mas não parece surtir efeito.

– Onde vamos morar, Val? Não vão me liberar se eu nem tiver um endereço... E eu só quero ir embora daqui logo. – Pela primeira vez parece que ela vai chorar mais uma vez e eu me lembro o porquê de estarmos aqui.

– Vou pensar nisso, tá bom? Não se preocupa, vou dar um jeito... – Ligo a TV num episódio de Friends e deixo que ela se distraia. Saio do quarto e ligo para Samuel, ele é a única pessoa que consigo pensar que pode nos ajudar.

– Alô?

– Oi, Samuel, aqui é o Valério. Tudo bem?

– Tudo bem sim, e Lu?

– Tá bem na medida do possível, mas preciso da sua ajuda. – Tento me controlar, mas quando vejo já estou chorando. Me segurei tanto na frente dela e acabei desabando no telefone com ele.

– O que foi? Você tá chorando? Tá tudo bem com a Lu mesmo? – Samuel diz preocupado.

– Com a saúde dela sim, mas nossos pais chegaram e bem... eles brigaram. Nosso pai bem... deserdou nos dois, disse que ia pagar as contas do hospital e mais nada que era para nós virarmos. Mais para a Lu ter alta precisamos de um endereço, e queria te pedir podemos ficar uns dias aí? Até conseguirmos outro lugar...

– Claro, Valério. Minha mãe foi ficar com meu irmão no Marrocos, então não seria um problema. Vocês podem ficar assim sim pelo tempo que precisarem!

– Obrigado, Samuel. De verdade.

– Posso ir aí? Queria vê-la...

– Claro, o horário de visita é as 16h.

– Estarei aí. Cuida dela e se cuida, cara...

– Pode deixar.

Vago pelo hospital um pouco mais antes de voltar para o quarto, não quero deixar Lu sozinha, mas preciso assimilar tudo. Choro um pouco, penso em tudo e volto para o quarto me sentindo um pouco mais aliviado. Quando volto ela está dormindo, parece em paz e eu sento do seu lado me permitindo descansar também.

Acordo com uma enfermeira entrando no quarto com um envelope nas mãos.

– Senhor Montesinos, seu pai pediu para entregar a filha esse envelope e avisar que já está tudo pago. – A enfermeira parece sem jeito de dar a notícia eu não ficaria impressionado se descobrisse que meu pai a pagou para fazer isso.

– Obrigado. – Ela sai e abro o envelope: papéis de emancipação. Dessa vez, ele foi rápido penso se devo contar para ela. Não quero fazê-la se sentir pior do que já está.

Mais tarde ela tem uma consulta com o psiquiatra, ele parece mais tranquilo, me diz que ela parece fora de perigo por enquanto, mas que o tratamento não deve ser interrompido. Assim que ela for liberada deve procurar um psicólogo e fazer acompanhamento semanal, além das medicações receitadas. E eu prometo que cuidarei de tudo, o médico fica preocupado por nossos pais não estarem presentes, mas não fala muito sobre pais ausentes não parece ser uma novidade para ele.

Duvido que a Lu tenha contado para ele sobre a nossa nova situação com os nossos pais ou mesmo a ligação diferenciada que temos, não acho que ele a teria liberado tão rápido se Lu tivesse sido completamente honesta. E não julgo a atitude só espero ser a melhor para o bem da sua saúde mental.

Minha maior preocupação agora é como vamos pagar por atendimento psicológico e pelas medicações sem o apoio dos nossos pais, porém não falo nada. Sei que Lu precisa sair do hospital o quanto antes, e com mais tempo sei que consigo arrumar algum trabalho para nos sustentar.

No horário de visita Samuel aparece e os deixo sozinhos, Lu parece ter coisas para dizer para ele e sei lá não parece certo estar por perto. Quando eu volto Lu está sorrindo de orelha a orelha, rindo de alguma piada que Samuel disse.

– Posso saber o motivo dessa alegria toda? – Falo sorrindo, vê-la feliz atualmente é tudo para mim. Melhor não mostrar os documentos para ela hoje mesmo.

– Samuel disse que podemos ficar na casa dele pelo tempo que precisarmos, que a mãe dele foi embora da Espanha. Então, podemos ficar lá permanentemente...

– Obrigado, Samuel, mas vamos poder pagar por um lugar logo...

– Era o que eu tava dizendo, quando vocês puderem vocês pagam pelo quarto ou quartos, o que preferirem. Preciso de ajuda para sustentar a casa de qualquer jeito, isso é bom pra mim também.

Nós dois agradecemos e passamos o resto do tempo da visita conversando sobre amenidades, fofocando sobre nossos amigos, e sobre a nova vida amorosa do Samuel, que está ficando com a Rebeca surpreendendo Lu.

E por algumas horas eu me esqueço porque Lu está aqui, em alguns momentos ela parece tão feliz, quase radiante e eu sorrio.

Cuidarei para que ela continue assim. Posso contar a ela sobre a emancipação depois....

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