Pov. Lu
– Prometo, Lu, vou te contar tudo de agora em diante.
– Obrigada, Val. Não posso te prometer que vou ficar bem para sempre, mas posso prometer que vou estar aqui e que sempre vou dar meu melhor. Não vou embora, Val, vai ter que se acostumar com isso tá bom.
Depois desse dia as coisas melhoram relativamente entre nós, ainda sinto ele um pouco retraído, mas aos poucos as coisas parecem voltar ao normal. Valério começa falando mais sobre o trabalho dele, a parte chata, reclama bastante do chefe e do quão pouco ganha. Até diz que quer procurar outro emprego e por mais que tudo seja ainda um tanto superficial me deixa feliz.
Nem tudo é ruim na sua nova rotina, Valério fez alguns amigos no trabalho, pessoas sem vícios e que parecem incentivá-lo a ficar cada vez mais longe dessa vida. É impossível ignorar os tremores, mas evito dizer algo, quero que ele fale comigo sobre isso por livre espontânea vontade, não quero que Val se sinta pressionado de alguma maneira.
Tenho me sentido bem ultimamente, atividades simples que antes eu nem fazia ocupam minha cabeça e me ajudam a lidar com muita coisa. Cozinhar, limpar a casa, lavar a roupa, Samuel e Valério também fazem a sua parte, mas como tenho estado em casa mais tempo acabo fazendo mais que eles. E é bom, me sinto bem de ser responsável por uma casa e não auto destruí-la, como fiz comigo mesma por tanto tempo.
A ideia de me envolver mais com essas atividades veio da minha psicóloga, segundo ela esses pequenos desafios ajudariam a construir minha autoconfiança. E, consequentemente me preparariam e encorajariam para os próximos desafios que viriam.
O da vez era ir à escola, encarar toda aquela gente que sabia o que eu tinha feito, honestamente preferia ficar em casa mais um tempo, mas se fizesse isso acabaria reprovando o ano. Não tinha escolha precisava encarar todas aquelas lembranças que os corredores traziam.
– Nervosa? – Valério diz entrando no quarto me assustando. Mais uma vez borro o batom por causa dele, algumas coisas nunca mudam e existe certo alívio nisso. Amo como tanta coisa mudou, mas eu e ele é algo que não quero que mude.
– Um pouco...– Valério me encara por alguns segundos e sou obrigada a admitir, ele realmente me conhece bem.
– Tá, talvez muito...– Sorrio demonstrando todo o meu nervosismo. Tenho medo de como as pessoas vão me tratar, não sei nem dizer se é medo de não ser aceita ou de ser 'aceita' demais.
Não quero que sintam pena de mim, nem que me odeiem, ou me ignorem. Espero que lá tudo seja diferente, no fim sinto que eles já não me conhecem. Não sou mais aquela pessoa, e espero que eles gostem dessa nova versão e que escolham ser meus amigos.
– Quer falar sobre isso?
– Espero que gostem de mim...- Falo baixo, não gosto de admitir essa fraqueza, e Valério sabe que eu compartilhar isso é uma das coisas mais difíceis que já fiz.
– Se não gostarem provavelmente é ciúme dos dois cavalheiros lindos que moram com você. – Valério diz rindo se aproximando e tocando no meu cabelo suavemente.
– Dois? Não sabia que você achava o Samuel lindo...
– É bom te ver sorrindo de novo, Lu. Vai dar tudo certo e se não der, não esquece você não está mais sozinha. – Val segura minha mão forte e o abracei. Nunca mais estaria sozinha.
– Samuel deve estar impaciente lá fora.
– Com certeza. – Nos beijamos até uma batida na porta nos interromper.
– Vamos nos atrasar, Lu! – Fala Samuel enquanto bate na porta sem muita paciência.
– Vai dar tudo certo, Lu. – Meu meio-irmão beija a minha testa, pego minha mochila e sorrio para ele antes de ir embora.
Por mais que ele quisesse me acompanhar até a escola não podia, pois pegava cedo no trabalho. Desci do prédio junto com Samuel me preparando para mais uma aventura de Lu encarando uma vida simples. Basicamente eu tinha duas opções para ir à escola, poderia pegar um ônibus o que significariam mais custos para o Valério ou aceitar a carona do Samuel na garupa da sua bicicleta.
É engraçado como a perspectiva muda as nossas opiniões, não me importo de todos me verem nessa bicicleta se isso quer dizer que Valério pode tirar mais um dia de folga. Ok, não estou exatamente ansiosa para a reação das pessoas, porém sem dúvida não é algo tão importante como seria meses atrás.
E no fim é até bom, é bom sentir o vento no meu cabelo e o sol no meu rosto. Não me surpreendo quando todos olham para gente quando entramos na escola. Samuel segura a minha mão e eu instintivamente solto. Não quero trazer problemas para ele.
– Não precisa cuidar de mim, Samu. Carla já deve estar pensando besteira de nos ver tão próximos. – Ninguém aqui sabe da minha situação com Valério, talvez Nádia imagine que tenhamos voltado, mas certeza ninguém tem e não pretendo dar isso a eles por enquanto.
– Já te disse que não estou mais com a Carla, e quem sabe ciúmes não ajude a ela voltar a olhar na minha cara...– Samuel diz sorrindo, sei que a intenção dele estava longe dessa quando segurou minha mão e amo que ele já saiba exatamente o que dizer para me convencer.
– Plano arriscado, mas posso te ajudar.
– O que seria de mim sem sua ajuda.
Na sala de aula ele se senta do meu lado e eu agradeço não acho que qualquer um dos outros me queira por perto. Os olhares me incomodam, todos fingem que não tem nada de novo, mas não param de me encarar e cochichar quando não acham que eu não posso ver ou ouvir.
Repito mentalmente o que a psicóloga me disse, as pessoas falam, mas tudo passa. Logo eles vão ter outros assuntos e deixaram de lado tudo o que aconteceu comigo.
– Tudo bem, Lu? – Pergunta Samuel sussurrando quando a professora entra na sala. Aceno e sorrio para ele que fica mais tranquilo.
Em seguida, me concentro na aula já perdi muita coisa, Samuel me trazia parte das lições e me ajudava a me manter em dia com tudo, mas ainda sim tinha perdido muitas provas e avaliações. O combinado com Azucena é que farei as provas nas próximas semanas, ou seja, tenho pouco tempo para colocar tudo em dia.
Na hora do intervalo antes de levantar Guzmán se aproxima de mim.
– Podemos conversar, Lu? – Samuel olha para mim pedindo autorização para se afastar e eu aceno.
– Claro.
– Sei que não estive por perto nos últimos meses e que fiz muita merda com você. Quero te pedir desculpas por tudo e bem te dizer que estou aqui para o que você precisar. Pode parecer que não, mas nunca deixei de te amar, Lu. Só não te amava do jeito certo... Você me perdoa por tudo?
– Já te perdoei, cariño, a maior parte dos problemas era mais minha culpa que sua. Não deveria ter me submetido à tanta coisa, você me perdoa também pelo o que fiz com a Nádia...e pelo discurso? – É difícil dizer, porém faz parte do meu tratamento, preciso encarar as consequências das minhas atitudes só assim elas vão parar de me assombrar.
– Já te perdoei também, Lu. Só quero que você seja feliz... Você está? Soube que está morando com o Samuel.
– Estou feliz, Guzmán. De verdade... Não vou mais... você sabe. – Dar o nome ao que eu fiz segue difícil.
– Fico feliz de verdade, Lu. Todos nós. – Diz olhando para a sala e me sinto um pouco melhor. Talvez seja possível realmente recomeçar aqui.
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Hermanos
Fiksi PenggemarDuas cartas de despedida do Valerio e da Lucrecia após os acontecimentos da segunda temporada. Uma foi enviada e a outra não.