Capítulo 39

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Flashback On

2 anos atrás...

Já havia se passado alguns dias desde que matei pela primeira vez. Eu estava evitando os crimes de Nova York, ficando nos terraços dos prédios olhando para o movimento lá embaixo. Eu não queria causar outra morte, mas o que aconteceu naquele dia... Me fez me sentir bem. E eu estava com medo disso. Medo de começar a gostar de matar.

Mas algo dentro de mim queria aquela sensação de novo. A sensação estar bem. Desde que Peter e os outros se foram eu só conseguia me sentir culpada e inútil, parecia que minha dor nunca ia parar. Mas ter jogado toda a minha raiva em cima daquele homem foi ótimo. Eu não podia negar. É como se eu tivesse me livrado de uma parte de um peso que carregava.

Enquanto andava por um terraço, notei um estranho movimento numa rua deserta lá embaixo. Bom, nem tão deserta.

Cinco homens de porte físico forte estavam cercando um outro, de capuz. Eram japoneses e estavam ameaçando o cara para que fosse embora. Ele não disse nada, mas pegou sua espada e colocou-se numa pose de defensiva. Ou seria de ataque?

Eles começaram a lutar e o homem do capuz ganhou todos eles, matando um a um com sua espada. Ele literalmente deixou uma trilha de mortos.

Quem é esse? Não me parece estranho.

Pulei do terraço em direção a rua, aterrisando logo atrás dele. O homem retirou seu capuz, mas ainda se manteve de costas para mim. Em um movimento rápido ele se virou, e sua espada estava em meu pescoço antes mesmo que eu pudesse ver.

— Vá embora e esqueça o que viu aqui. — Ele disse com uma voz firme.

— ... Gavião Arqueiro?

— Deixei de ser há muito tempo, Mulher-Aranha.

— Eu também deixer de ser — Falei tirando com cautela a espada de meu pescoço com uma de minhas mãos — Logo depois do Thanos. Eu não sei mais quem eu sou.

Clint guardou sua espada e recolocou seu capuz.

— Vai pra casa. Seu lugar não é aqui.

— O seu também não. Devia estar com a Nat...

— Ela está muito melhor sem mim, acredite.

— Eu penso o mesmo dos poucos amigos que me sobraram.

Ele olha pra mim.

— Espera que eu tenha pena?

— Achei que eu poderia conversar com alguém que esteja passando pelo o mesmo que eu. Achei que um ex-vingador que eu adorava pudesse me ouvir. Mas eu me enganei. Me desculpe.

Dei as costas para Barton e atirei minha teia no prédio próximo, pronta para subir. Mas fui impedida quando senti que seguravam o meu braço.

— Posso ter deixado de ser o Gavião Arqueiro, mas nunca deixei de ser um vingador.

Olhei para o a sua mão em meu braço e ele rapidamente a tirou, adotando uma postura séria e firme.

— Disse que estava passando pelo o mesmo que eu.

— Perdi todos aqueles a quem eu amava. E os que ficaram, eu não consegui me manter por perto, eu... Eu me sentia...

— Culpada. É, eu sei. É uma coisa que vai ficar com você pro resto da vida, infelizmente.

— E você lida com isso... Matando outras pessoas?

— Pessoas perigosas — Corrigiu ele — Aqueles eram membros da Yakuza.

Olhei para os cadáveres atrás dele.

— Entendi. Há um tempo atrás eu diria que isso é bastante errado, mas depois de ontem, acho que posso entender o seu lado.

— Você matou?

Assenti com a cabeça.

— Sua primeira morte, né? Como 'tá lidando?

— Eu... Quero, de novo. Mas eu sei que é errado e...

— É sério que você 'tá se importando com o que é certo e errado?

— Bom... Sim.

Barton se aproximou de mim e colocou sua boca perto de meu ouvido, sussurrando:

— Quer mesmo passar o resto de sua vida com essa dor?

Neguei com a cabeça, meio que automático.

— Eu posso te ajudar, Aranha. Basta me seguir.

Olhei para ele. Seguir Barton por um caminho de sangue e morte não me parecia ser uma boa ideia, mas ainda assim, concordei. Eu só queria que aquela dor parasse de uma vez por todas.

Flashback Off

Clint estava parado a minha frente com um sorriso doce em seu rosto e sua mão estendida em minha direção. Levantei a minha para tocá-lo, mas ela acabou passando direto. É claro que ele não estava. Nem mesmo estava, aquilo era um plano espiritual.

— Ainda não se perdoou, não é? — Perguntou ele.

Neguei com a cabeça.

— Vamos. Você precisa fazer isso. Pelo seu bem.

— Não consigo. Matei todas aquelas pessoas, Clint. A morte de cada uma delas fica passando na minha cabeça repetidas e... Repetidas vezes! Eu não aguento mais!

— Aquelas pessoas eram criminosos do pior tipo. Você não matou nenhuma pessoa inocente, porque eu cuidei para que isso não acontecesse.

Olhei surpresa para ele.

— Você... Cuidou?

— Desde que nos conhecemos eu sempre cuidei de você, Gwen. Como estou cuidando agora. Vamos, se perdoe de uma vez e siga com sua missão. Você tem uma família pra voltar agora.

Lembrei-me de Helena, Lily e Paco. E de Tony também.

— Tem razão.

Barton sorriu.

— Mas não vai ser fácil. — Eu disse.

— Ninguém nunca disse que seria.

Olhei para a Tulpa.

— Quero falar com o Peter. Aqui.

Ela assentiu, ainda com meu coração a centímetros da balança. Voltei minha atenção para Barton.

— Obrigada, sensei.

— Vai salvar seus amigos. Minha menina.

Spider-Gwen - Skrull Invasion - Livro VIOnde histórias criam vida. Descubra agora