Capítulo 40

291 35 12
                                    

— Ok, Peter. Eu vou te contar tudo, tudo o que você quer saber. E eu vou começar admitindo que eu não matei apenas um vez.

Peter me olhava sem expressão. Eu sabia que ele estava chateado, mas depois de ter confessado aquilo em voz alta, sus expressão só piorou. Algo como decepcionado, ao mesmo tempo que já esperava por aquilo. E sabia que meu relato ia definir se aquele muro que Peter colocara entre nós iria abaixo, ou simplesmente aumentar.

— Você... Não vai dizer nada? — Indaguei.

— O que quer que eu diga? Você não confiou em mim, não me contou a verdade.

— Eu sei... É que... Eu estava com medo.

— Você disse que contaria tudo o que quero saber. E eu quero saber de tudo.

— Claro... — Suspirei fundo.

— Estou ouvindo.

— O Barton me ajudou bastante nos últimos três anos. Todo mundo dizia que eu devia seguir em frente, tocar minha vida. Como se fosse possível depois do que houve. E ele foi o único que me disse o que eu realmente precisava ouvir. Eu finalmente tinha encontrado alguém que não tinha seguido em frente, como eu.

— Então você começou a matar junto com ele.

— Não. Quer dizer, mais ou menos isso. Ele rastreava criminosos do pior tipo e ambos os dois íamos atrás deles. Nós fomos atrás da Yakuza, da HIDRA, da Tríade e muitas outras. Era uma forma de eu não pensar no que aconteceu e poder me livrar um pouco de minha dor.

Peter desviou seu olhar do meu, tentando em vão esconder sua mágoa.

— Eu vou entender se você não quiser mais falar comigo. Eu só preciso que você saiba, que mesmo indo atrás de criminosos com o Barton, ainda assim, eu preferiria ter virado cinzas como você.

Peter não respondeu. Mas também não precisava.

Olhei para a Tulpa e sinalizei para que a mesma colocasse meu coração na bandeja. Durante algum tempo não ocorreu nada.

Mas eis que a balança se mexe e a pena vai para baixo, indicando que meu coração estava mais leve. E de fato, ele estava. Eu não queria esconder meu passado de Peter, mas contá-lo foi ainda mais doloroso.

Flashback On

Tóquio, Japão - Há dois anos

Barton havia apunhalado seu último inimigo e limpado sua espada. Estávamos às vésperas de Ano Novo matando membros de uma máfia japonesa, cujo histórico tinha assassinato, tráfico de drogas e sequestro de meninas para prostituição.

— Como está se sentindo? Depois de ter liberado toda essa raiva. — Perguntou ele.

— Melhor, eu acho. Qual nosso próximo alvo?

— Ainda não sei. Estava pensando em retornar para Nova Iorque.

— Vai rever a Nat?

— ... Não.

— Entendo.

— Nat é uma pessoa maravilhosa e eu sinto muito a falta dela, mas a última coisa de que preciso é alguém me dizendo que eu devo seguir em frente.

— Sabe, Clint... Por mais que você diga esse tipo de coisa, no fundo, você sabe que seguiu, sim. Porque se não tivesse, nenhum de nós dois estaríamos aqui. Vivos. Antes de te conhecer, eu esta muito mal. Tão mal a ponto de quase me perder por completo. Estava doendo tanto viver sem minha família e amigos que se foram, que sinceramente, eu cheguei a pensar em jogar de um lugar bem alto. E torcer para não acordar mais.

Barton se aproximou de mim e tocou meu ombro, com um leve sorriso.

— Que bom que nos encontramos, então.

Concordei, retribuindo o sorriso.

— Que tal vermos a queima de fogos do alto da Skytree?

— Só se for agora.

Barton riu fraco, colocando seu capuz. A caminho da enorme torre, percebi que estávamos sendo seguidos apesar de meu sentido-aranha estar relativamente calmo. Barton também percebeu e parou de andar quando viu que eu estava olhando para algo atrás de nós. Uma silhueta masculina se aproximava, a medida que o "rosto" do homem se revelava.

— ... Wade?

Wade estava com seu uniforme de Deadpool. Em uma de suas mãos estava sua katana, ensanguentada. Na outra, um revólver. E em suas costas a típica bolsa Hello Kitty.

— Que bonito — Ele fala num tom debochado que só ele sabe fazer — Que cena mais linda, será que estou atrapalhando o casalzinho, aí?

Espera, ele 'tá cantando?

— Wade, o que você...

— Não sei se dou na cara dele ou bato em você, mas eu não vim atrapalhar sua noite de prazer...

— Que cena. — Murmurou Clint, logo atrás de mim.

— Wade, por que está aqui?

— Não é óbvio? Me sentindo traído e humilhado. Que decepção, hein, loira?

— O q... Do que você 'tá falando?

Wade suspirou fraco.

— Você me trocou pelo papagaio arqueiro.

— Gavião Arqueiro. — Corrigiu Clint.

— Fod*-se.

— De onde você tirou isso?

— Esse lance de matar pessoas sempre foi meu e você nunca se interessou. Foi só o periquito aparecer que você foi correndo matar todo mundo junto com ele.

— Como é? Periquito? — Clint pegou sua espada e deu um passo a frente pronto para atacar, mas eu o impedi segurando seu braço.

— Quando eu matei pela primeira vez você me mandou correr, se lembra?

— Porque achei que você teria problemas. E eu estava certo, não estava? Se tivesse que ter um parceiro na matança, devia ser eu, loira. Eu! Caralh*... Porque não me procurou?!

Já entendi.

Pedi para que Barton prosseguisse sem mim e assim ele o fez.

— Você não 'tá com ciúmes do Barton, Wade. Qual é o real problema?

— Você.

Hm?

— É, você. Não é a mesma Gwen que eu conheci. Aquela que não era uma assassina, que preferia prender ao invés de tirar a vida de alguém. Eu não gosto dessa Gwen, eu...

— Aquela Gwen se foi, Wade. Junto com todos os outros.

— Não. Você tava indo bem, até aquele periquito aparecer...

— Não! — Interrompi — Não coloque a culpa no Barton. Eu sou a total responsável pelos meus atos.

— Eu não acredito. Peter também não acreditaria.

— Não... Não fale do Peter.

— Ele não ficaria feliz de te ver desse jeito.

— Para.

— Ele não...

— Chega! Para, Wade!

Dei as costas para Wade e comecei a caminhar rumo a torre Skytree.

— Isso, sai andando! Dê as costas para quem sempre te apoiou!

Spider-Gwen - Skrull Invasion - Livro VIOnde histórias criam vida. Descubra agora