𝒸𝒽𝒶𝓅𝓉𝑒𝓇 𝓉𝓌𝑒𝓁𝓋𝑒

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Depois daquela noite horrível, Arista foi deixada de castigo por tempo indeterminado, sem ter permissão para deixar seu quarto a não ser quando fosse chamada.
O pai voltou a ignorá-la e durante as refeições limitava-se a cumprimentar a filha com um aceno de cabeça, o que a deixava profundamente magoada. 

Draco tentava fazer companhia a Arista o máximo possível dentro do quarto, porém o pai sempre o para alguma coisa e ele era obrigado a deixá-la sozinha. Eram nesses momentos que Arista tinha boas conversas com Dobby, o elfo doméstico, que sempre ia até o cômodo todo acanhado e desajeitado.

"Como está se sentindo hoje, menina Arista?" ele perguntava todos os dias com sua vozinha fina e trêmula. E Arista ficava horas a fio conversando com o elfo, até que ele tivesse outra tarefa para realizar e se retirasse muito contrariado.

A mãe de Arista também a fazia companhia, mas evitava ao máximo comentar sobre o ocorrido e não perguntava como a filha se sentia. Narcisa parecia querer fingir que tudo estava bem.

Isso durou até o dia da véspera de Natal, que foi quando Narcisa resolveu aproveitar que o marido havia saído para participar de um evento no Ministério da Magia para levar Draco e Arista até o Beco Diagonal.

- Vai fazer bem para você querida, sair daquele quarto. - disse a Sra.Malfoy com carinho enquanto penteava o cabelo da filha e o prendia com um enorme laço preto.

- Eu vou poder comprar presentes pros meus amigos? - Arista ergueu o olhar, encontrando os olhos da mãe através do reflexo do espelho.

- Claro. - ela concordou, mas sua expressão era terrivelmente rude.

- Anime-se Arista! Blásio me contou que chegaram sabores novos de sorvetões na Florean Fortescue! - Draco saltou da cama, ele já estava vestido e com o cabelo perfeitamente alinhado para trás.

- Podemos comprar e comer tudo o que vocês dois quiserem, mas lembrem-se de que estamos indo comprar vestes novas para o baile de amanhã!

Arista animou-se imediatamente, mas Draco revirou os olhos.
Todos os anos os Malfoy realizavam um baile de Natal e todas as famílias influentes do mundo bruxo eram convidadas.
Draco achava aquilo um saco, pois ele odiava ter que ficar cumprimentando as pessoas e detestava não poder abrir os presentes que traziam para ele e Arista durante a festa.

Mas Arista adorava. Ela adorava colocar suas vestes mais bonitas, adorava receber elogios dos mais velhos, adorava a decoração...ela sempre adorou festas, principalmente quando ela conseguia se tornar o centro das atenções nelas.

Narcisa aparatou no Beco Diagonal com os dois filhos, e logo começou a reclamar pelo local estar muito cheio. Os bruxos andavam de um lado para o outro desesperados, todos fazendo suas compras de natal de última hora.
Eles entraram na Madame Malkin depressa, e mesmo que o local estivesse bem cheio Narcisa fez questão de que fossem os primeiros a serem atendidos.

Acabaram demorando lá mais do que o planejado, já que Arista não achava que nenhum daqueles vestidos era bonito o bastante, e ela queria estar perfeita na noite seguinte.
Havia ficado dias presa dentro do próprio quarto, nada melhor do que comemorar a pequena dose de liberdade sendo a estrela da noite em pleno Natal, seu feriado favorito!

Quando Arista finalmente encontrou o vestido perfeito, a Sra.Malfoy permitiu que os filhos fossem comprar presentes para os amigos e tomarem um sorvetão, então ela deu um pequeno saco de galeões para cada e combinou de os encontrar em frente ao Gringotes em uma hora, para poderem voltar para casa.

Arista então se apressou pelo Beco Diagonal, entrando e saindo de várias lojas em busca do presente perfeito para todos os amigos que tinha feito em Hogwarts.
Para Hermione ela comprou um livro sobre poções avançadas, para Rony comprou vários doces e um tônico para ele dar a Perebas (aquele rato era realmente estranho, estava sempre fraco e doente), Harry ganharia um livro sobre a história da Copa Mundial de Quadribol, Lilá e Parvati ganhariam revistas de moda bruxa.

Os presentes mais difíceis para Arista encontrar foram os de Fred e Jorge, já que nenhuma loja parecia ter os logros perfeitos para se dar de presente aos gêmeos.
Quando finalmente conseguiu encontrar algo que ela acreditou que iria agradar os dois Weasley, já estava na hora de encontrar sua mãe e seu irmão na frente do banco.

- Encontraram tudo o que procuravam queridos? - Narcisa perguntou assim que seus filhos se aproximaram.

Draco carregava muitas sacolas a mais que Arista, e por um momento a loira duvidou que todas aquelas compras eram realmente presentes para os amigos dele.

- Sim mamãe.

- Ótimo! Seu pai já deve estar voltando para casa a essa hora, vamos chegar antes do jantar!

Então, os três deram as mãos e aparataram de volta a mansão.

A primeira coisa que Arista fez quando chegou em casa foi correr até o corujal e escolher algumas corujas, as quais receberam a missão de levar os presentes de Natal para seus amigos.

Harry, Rony e os gêmeos receberiam os seus em Hogwarts, por isso os presentes foram levados todos pela mesma coruja, a maior que Arista pode encontrar.
Já Lilá, Parvati e Hermione tinham ido passar o feriado em casa,por isso Arista separou uma coruja com o presente de cada uma.

Quando Arista voltou para o quarto, encontrou Draco abrindo algumas embalagens das coisas que ele havia comprado, e riu consigo mesma.

- Por que não estou surpresa? - brincou, se aproximando da cama do irmão para dar uma espiada.

- Quê?

Draco virou-se depressa, não havia visto a irmã entrar.

- Eu imaginei que todas aquelas compras não eram só para seus amigos...isso é tudo doce?

- Claro que é doce! Você sabe que eu detesto a comida que a mamãe escolhe pro buffet dessas festas. - Draco resmungou e mostrou a língua em seguida, fazendo Arista rir.

- A mamãe segue o menu que condiz com a etiqueta da festa, bobão.

- E isso é péssimo! Lembra quando recebemos aquela família de bruxos da França? Mamãe me obrigou a comer um caramujo vivo!

- O nome disso é escargot, é um prato típico francês. - Arista revirou os olhos e se abaixou para pegar Petit, que corria por cima de seus pés. - E não estava vivo, ele é servido morto!

- Pois parecia bastante vivo pra mim. - Draco resmungou. - Mas não importa! Comprei doces o suficiente para sobrevivermos até mamãe resolver servir comida de gente outra vez.

- Posso comer os doces também?! - o sorriso de Arista se iluminou e Draco revirou os olhos.

- Quando foi que eu não dividi meus doces com você?

E era verdade, Draco nunca deixou de dividir nenhum doce com Arista. Desde que os dois se entendem por gente sempre foi uma tradição dividirem todos os doces que encontravam pela casa ou ganhavam de presente.

Draco e Arista acabaram comendo tantos doces que durante o jantar, tiveram que fingir um mal-estar repentino como desculpa para não estarem com apetite, o que deixou Narcisa levemente desesperada.

Narcisa Malfoy sempre foi uma mãe muito super protetora e até um pouco exagerada, sempre se alarmando com qualquer mínimo sinal de que havia algo de errado com seus dois filhos e fazendo questão de dar-lhes tudo o que eles queriam.
Talvez este fosse o maior motivo para tanto Draco quanto Arista crescerem como crianças um tanto quanto mimadas.
Nenhum dos dois estavam acostumados a receber um "não".

A Sra.Malfoy acabou obrigando os dois a tomarem três tipos de poções tônicas diferentes antes de irem para a cama, e ficou no quarto até que seus filhos caíssem no sono, impedindo tanto Draco quanto Arista de saborearem mais um pouco dos doces.

Na manhã seguinte os gêmeos acordaram com muita movimentação na Mansão.
Além de Dobby, vários outros elfos domésticos aparatavam de um lado para o outro organizando todos os preparativos para a festa de natal que teria durante á noite, e Narcisa permanecia no meio deles comandando cada passo que os elfos davam.

Assim que tomou seu café da manhã e trocou de roupa, Arista começou a ajudar a mãe no que podia, correndo de um lado para o outro tentando acompanhar os elfos e cuidando de praticamente toda a decoração do salão de festas da mansão sozinha.

- Vai ser uma boa atividade para eu saber se você está realmente aprendendo a comandar uma casa, querida. - a Sra.Malfoy disse assim que viu a filha organizando os arranjos de flores, sorrindo satisfeita.

Arista sentia um pouco de pena dos elfos que com certeza estavam com praticamente todo o trabalho, já que tudo o que sua mãe fazia era dar ordens a torto e a direito, por isso aproveitando que seu pai estava a ignorando, sempre que Narcisa estava distraída a pequena Malfoy corria até a cozinha e contrabandeava vários copos de água para os elfos.
Os que aceitavam a agradeciam com os olhos esbugalhados cheios de lágrima, mas muitos elfos recusaram a gentileza se sentindo levemente desconfortáveis.

Arista sabia muito bem que era da natureza dos elfos se sentirem mais seguros servindo e honrando a família á qual pertencem, por isso não se sentiu nem um pouco ofendida quando alguns dos elfos se esquivaram de suas gentilezas. Dobby sempre foi uma exceção aos outros elfos, já que ele se sentia lisonjeado com qualquer agradecimento que recebesse.

Já era final de tarde quando Draco praticamente arrastou a irmã para o quarto por ordem do pai.

- Mas ainda falta muita coisa! Eu preciso pendurar os azevinhos nas portas...- Arista resmungava enquanto era empurrada para dentro do aposento.

- Deixe esse trabalho para os elfos! - Draco abanou a mão desdenhoso, e sua gêmea revirou os olhos. - Papai disse que alguns convidados já vão chegar, temos que estar apresentáveis.

- Você sabe quem foi convidado este ano?

Normalmente Arista tinha total acesso á lista de convidados que seu pai fazia para as festas que ele organizava na mansão, ela até mesmo o ajudava a escolher alguns, porém ela duvidava muito que Lúcio fosse autorizar sequer sua entrada dentro de seu amado escritório, onde mantinha a lista.

- Bom, os únicos convidados que realmente importam foram Blásio e Daphne. De resto, quem liga? - contou Draco, dando de ombros.

- A Parkinson não vem? - Arista abriu um sorriso tão grande que poderia ter rasgado suas bochechas.

- Não, ela foi passar as férias na Escócia com os tios...- Draco revirou os olhos quando viu a expressão da irmã, rindo. - Sabia que você ia gostar disso.

- Draquinho...você acabou de deixar minha noite bem melhor!

Arista correu para tomar um banho e se trocar alegremente, cantarolando uma de suas músicas favoritas das Esquisitonas.

Ela estava extremamente feliz com a falta de presença de Pansy, algo extremamente raro. Normalmente os Parkinson não perdiam as confraternizações da família Malfoy por nada nesse mundo. Segundo Lúcio, eles tinham esperança de que algum dia as famílias pudessem se unir através do casamento.
Apenas o pensamento disso acontecer deixava Arista nauseada. Imagina ter Pansy como cunhada? Seria o inferno na terra.

Antes que se dessem conta, os gêmeos Malfoy já estavam no saguão de entrada da enorme mansão, postados educadamente ao lado dos pais enquanto recebiam os vários convidados.

Arista lançava seu sorriso mais encantador para todos, ela sempre fazia questão de ser a melhor anfitriã possível, e não aceitava menos que a perfeição em qualquer festa que tivesse sua presença. Talvez isso tenha sido uma característica que puxou de sua mãe, que se portava da mesma maneira ao lado dela.

- Oh querida! Como você cresceu! Está linda essa noite.

- Muito obrigada Sra.Zabini! A Senhora também está deslumbrante. - a mãe de Blásio riu e depositou dois beijos no rosto de Arista.

- Vocês dois fizeram um ótimo trabalho com essa menina, ela é adorável. - a Sra.Zabini elogiou. - Não é mesmo Blásio?

- É sim mamãe. - respondeu o garoto, desviando o olhar envergonhado.

- Garantimos que nossa filha receba sempre do bom e do melhor, afinal. É natural que ela seja brilhante. - Lúcio abriu um sorriso. - Por favor, sintam-se a vontade.

" Falso. " Arista pensou quando seu pai repousou uma das mãos em seu ombro, mas continuou com o sorriso nos lábios enquanto observava a família Zabini entrar na festa.

- Ai vem Karkaroff. - Arista ouviu o pai sussurrar para sua mãe, e apurou o ouvido curiosa. - Apenas sorria, Narcisa.

Narcisa arregalou os olhos e então comprimiu os lábios em uma clara expressão de desagrado, Arista teve tempo de vê-la lançar um olhar terrível para seu pai antes de sua atenção se desviar para o novo convidado.

- Lúcio! Meu velho amigo!

Um homem alto e magro abraçou o Sr.Malfoy, exibindo seus dentes amarelados em um sorriso esquisito que ficava acima de seu cavanhaque mais esquisito ainda.
Arista não pode deixar de pensar que ele estava extremamente fora de moda e precisando de umas boas dicas para cuidar daquele cabelo desgrenhado.

- Igor! Fico feliz que tenha conseguido vir, sei que meu convite foi de última hora. - Lúcio o cumprimentou com sua voz arrastada.

- Bobagem! Não tinha muitos planos para o natal de qualquer maneira...imagino que estes sejam os seus filhos? - ele virou-se para as duas crianças.

- Estes são Draco e Arista, de quem eu lhe falei. - Arista desviou o olhar para o pai rapidamente, embasbacada por um momento. - Crianças, este é Igor Karkaroff, ele é o diretor de Durmstrang.

Por um momento a cabeça de Arista girou e ela não conseguiu prestar atenção em mais nada, nem mesmo quando Karkaroff deu dois tapinhas em seu ombro e depositou um beijo na mão de sua mãe. Tudo o que passava em sua cabeça era a informação de que seu pai estava conversando sobre ela com o diretor de outra escola de magia.
Ele não podia estar planejando mandá-la embora, não podia!

O resto da noite se passou como um borrão para Arista, que foi obrigada por seu pai a permanecer do seu lado durante toda a festa enquanto ele falava sobre ela com o diretor de Durmstrang, deixando-a completamente desolada.
Narcisa e Draco tentaram intervir algumas vezes, mas sempre acabavam ocupados com outros convidados enquanto o Sr.Malfoy mantinha a filha no seu encalço.

Quando a festa finalmente acabou e Arista pode subir para o seu quarto, ela correu para a cama de Draco e cai no choro.

- Ele vai me mandar embora Draco! Ele vai me mandar para Durmstrang! - ela soluçava, mal conseguindo proferir a frase.

- Não vai Arista, mamãe nunca deixaria...Durmstrang é longe demais! Lembra quando eu pedi para estudar lá e ela não permitiu? Ela não vai permitir que o papai te mande para lá também. - Draco tentou a consolar, mas a voz do irmão estava tão trêmula quanto a dela.

Na manhã seguinte Lúcio voltou a sua política de ignorar a filha, lançando-lhe olhares frios enquanto Narcisa paparicava ela e Draco com um delicioso café da manhã de Natal.

Arista fez questão de devolver o tratamento de silêncio que recebia, por isso apenas desejou feliz natal para a mãe e para o irmão antes de abrir os presentes que se encontravam embaixo da árvore.

De seus pais, a Malfoy recebeu o mesmo de sempre. Roupas, joias e galeões para comprar o que quisesse, coisas que naquele momento de tensão não tiveram a menor importância para ela. Se fosse a um ano atrás, aqueles teriam sido os melhores presentes que Arista poderia receber, mas muitas coisas haviam mudado.

Para ela, os verdadeiros presentes de Natal foram os que recebeu quando subiu para o seu quarto com Draco e os dois encontraram várias corujas bicando a enorme janela, tentando entrar.
Elas traziam todos os presentes de seus amigos, e Arista não podia estar mais feliz.

Rony, Fred e Jorge lhe enviaram de presente vários chocolates caseiros feitos pela Sra.Weasley, Parvati lhe enviou presilhas de cabelo, Lilá deu alguns produtos de beleza trouxa realmente curiosos e Hermione enviou um livro trouxa extremamente interessante.

- Os Contos dos Irmãos Grimm? Que isso? - Draco perguntou enquanto comia um sapinho de chocolate que ganhara de presente de Daphne.

- Um livro...- Arista achou melhor não mencionar que era um livro trouxa. - Quer que eu leia para você? Podemos ler lá fora na neve e com os pavões!

- Hm, por que não? - Draco deu de ombros.

No final das contas, ler contos de fada trouxas para Draco, começar uma guerra de bolas de neve, caçar pavões no jardim e passar o dia de Natal com o irmão fez com que Arista se esquecesse de tudo o que estava a preocupando.
Por um momento não havia Durmstrang e nem seu pai a ignorando e fingindo que ela não existisse.

Por um momento, foi um Natal como qualquer outro. 

Arista Malfoy - | First Book |Onde histórias criam vida. Descubra agora