Capítulo 16

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Sentimos um turbilhão de emoções quando alguém se declara para nós. Alguém que amamos, que queremos estar perto. Alguém no qual você sente o mesmo, ou até mais.

Eu fui criada para amar alguém que eu nunca vi. Para ser uma esposa que não fala, só ouve. Fui criada para ter filhos, ou melhor, herdeiros. Me pego pensando: "Será que os pais amam mesmo seus filhos, ou só os vêem como: "Pessoas que têm seu sangue no qual herdará todos seus patrimônios"?

Me pergunto, se o amor é mesmo tão importante como disse a minha mãe.

Onde vivo, as pessoas se relacionam por conveniência. País entregam suas filhas a um casamento que talvez nunca haja amor, mulheres que são criadas de luxo no qual servem apenas para serem esposas, cuidarem da casa e gerarem filhos. Negros que são esculachados todos os dias por pedirem para pegar a comida, que minha classe social joga no lixo. Já vi festas com uma quantidade absurda de comida, enquanto impuros trabalham por várias horas para terem, pelo menos, uma refeição por dia.

Cresci sem pensar criticamente em nenhum desses assuntos. Minha classe esconde meninas como eu da verdade que ziemia carrega. Se eu não tivesse vindo para o casarão Van Edell, eu nunca teria conhecido Suze. Nunca teria aberto meus olhos para tudo que acontece aqui.

Eu espero, que um dia, Ziemia seja libertada de tudo aquilo que a condena. Espero que o príncipe Joaquim, possa ser o rei que todos falam que será. E se um dia ele vir a ser, eu terei o imenso prazer de apoiá-lo e de incentivá-lo a libertar as mulheres e de finalmente libertar, os negros dessa escravidão implícita, que hoje tormenta Ziemia.

Eu nasci para pensar igual à todas as meninas da minha classe, eu nasci para ser mandada. Mas, não escolhi ser.

O que os homens da minha classe não sabem, é que as mulheres pensam assim como eles; são inteligentes, assim como eles e têm o direito de escolha, assim como eles. O que meu pai nunca esperou é que sua única filha, fosse ser alguém tão determinada como eu.

Eu sei quais são meus direitos naturais, mesmo que ninguém tenha me dito, mesmo que as mulheres, segundo os homens, não as tenham. Sou livre, livre para escolher não casar, livre para escolher fazer uma graduação, livre para escrever, para criar histórias e para ser reconhecida.

Eu não odeio Benjamin. Ele não tem culpa de ter sido criado para ser um homem de negócios que precisa casar com sua prometida e ter herdeiros. Ele não é culpado de estar apaixonado por mim, da mesma forma que eu não sou culpada de depois do desespero, ter me acalmado e percebido que gostei de ter ouvido aquilo.

Eu não sei se também estou apaixonada, eu não consigo reconhecer, nem mesmo entender se isso realmente é sentimento.

Eu estou aqui, deitada na minha cama. Alguns minutos antes de Suze chegar. Estou sentindo um frio na barriga, algo que nunca senti antes, algo que é mais parecido com o sentimento que sentia por Lorenzo quando ele estava prestes a chegar de viagem.

Eu pensei em Benjamin a madrugada inteira, pensei no que ele falou, nas dificuldades que irei passar a partir de então.

Lembrei daquele maldito sorriso, dos seus olhos que ultrapassam toda a perfeição existente. A sua forma de converter a situação e de me convencer.

Ele tinha o coração bom, ele era bom.

O medo que me visitava todos os dias sumia quando pensava nele, mas voltava assim que lembrava da situação que me encontrava. O meu sonho é maior do que qualquer sentimento que eu possa vir a sentir por um homem. Eu só posso escolher um dos dois. Ziemia só me deixa uma opção. Eu não posso me permitir amar o duque. Não posso.

31 dias para te amar - Livro 1 - [1º versão]Onde histórias criam vida. Descubra agora