Capítulo 11

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Enquanto vestia Suze ela não falava se quer uma palavra.

Eu apertava o espartilho, embora agora, rente a sua pele, mas ela continuava calada. Terminei de vesti-la e logo ela soltou um sorriso ansioso para ver como ficara com aquele traje extremamente bonito.

O vestido caiu perfeitamente nela. A crinolina ajudou no suporte e o polisson no volume das nádegas. Suze e eu tínhamos o mesmo corpo com exceção dos seios, ela tinha o busto mais avantajado, que caiu perfeitamente para aquele modelo. Soltei os cachos dela, deixei-os meio preso e finalizei com um ramalhete de pérolas, que meu pai tinha me dado ao voltar da França alguns anos atrás. Sentada na penteadeira, com o espelho coberto por um lençol, eu a maquiei com ruge a deixando com um aspecto mais saudável.

Dei um passo para trás para ver Suze por completo. Eu a achava linda naturalmente, mas eu tinha a deixado uma Lady. Eu queria que Suze tivesse as oportunidades que eu tive. Eu queria que pudéssemos ir ao baile juntas hoje, passear pela cidade, viajar para conhecermos o mundo. Mas não podíamos. A única maneira que Suze tinha de se parecer uma Lady era dentro da residência Van Edell, trancada em um quarto junto com uma menina, que iria deixá-la em algumas semanas.

Deixei os pensamentos de lado quando a vi ansiosa para se olhar no espelho, aquele momento era dela. Portanto, puxei o lençol e lá estava sua linda imagem. Uma mulher bela e cheia de vida.

— Ôh céus. Como?... Eu estou tão linda, senhorita, eu pareço uma Lady, Não... uma princesa, ou melhor... uma rainha.

— Você de fato é, Suze. — Sorri

— Mas, eu não posso sair daqui assim. Não posso continuar meus trabalhos vestida dessa forma. Eu ainda tenho que ajudar a senhorita a se arrumar.

— Mantenha a calma, você pode me ajudar sim, mas não precisa se despir. Se me permitir, eu queria que descesse comigo para o andar de baixo, assim que eu estiver pronta.

— Descer, dessa forma?

— Sim... Antes meu intuito era fazer você enxergar que você pode ser mais do que imagina. E eu consegui. Acredite, Suze, você pode ser mais do que uma criada. Mas, depois do episódio de hoje, com a senhora Margaret, eu quero que ela tenha um mini ataque ao lhe ver vestida como uma dama da alta sociedade. Se for da sua vontade, é claro!

— A senhorita é mesmo bem impiedosa. Por Deus, como não me disse isso antes? Eu aceitaria sem nem mesmo pestanejar.

Nós rimos por alguns segundos e logo comecei a me aprontar.

Eu não tinha visto o modelo do vestido até então. Quando Suze o tirou da caixa eu fiquei pasma. O vestido era vermelho com rendas em marsala. Era de seda e tinha babados nas mangas, o busto provia de um plissado que me ajudara no volume dos seios. Eu não sabia se aquele modelo era o mais indicado para damas solteiras. Mas o fato de que aquele vestido pudesse incomodar o duque de alguma forma, me deixava mais animada para usá-lo.

Em menos de uma hora eu estava pronta. Suze e eu esperamos a hora em que a carruagem chegasse para descermos. Saímos do quarto rindo baixinho. Ao chegar na escada, pedi que Suze esperasse um pouco, eu desceria primeiro e logo em seguida a chamaria para seu triunfo.

Desci as escadas delicadamente. Vi Margaret virar-se para mim no momento em que coloquei os pés na escada. O duque estava de costas, me ouviu descer e logo virou-se. Eu não sabia quem estava mais impressionado com quem. Não esperava ter aquela reação ao vê-lo. O duque estava impecável, ao me ver tirou a cartola que usava. Sua expressão eu não poderia identificar bem, mas não deixava de me encarar enquanto descia. Sua boca estava levemente entreaberta e as minhas bochechas coraram involuntariamente.

— Senhorita. A sua beleza é inquestionável. Eu sabia que a senhora Marcelina iria fazer um vestido que realçasse a sua beleza.

— A senhora Marcelina fez um ótimo trabalho. — falei dando um sorriso apertado.

— Enquanto estiver aqui, precisarei mandar fazer um vestido desses para mim. Eu sei que em Paris tudo é de primeira mão. Mas, minhas amigas irão babar nesse modelo que a senhorita Ossory está vestindo. — falou Margaret enquanto tocava nos babados das mangas do meu vestido. — A senhorita está usando o perfume que lhe dei não está? Agora sim... esse cheiro era o que precisava para se tornar uma mulher sedutora.

— Eu não preciso ser sedutora, senhora Margaret. E nem quero ser. No entanto, quis estrear o perfume da sua grife, ele realmente tem um cheiro muito bom. E por isso, estou usando agora.

— Moças. Precisamos ir... O rei e sua família estão para chegar no salão em poucos menos de meia hora. A carruagem nos aguarda.

— Espere um pouco. Sei que ficaram encantados com o traje que a senhora Marcelina fez. Mas precisam ver a minha criação. Vejam senhores, como uma simples criada pode se tornar uma Lady. Entendam que a diferença está apenas na forma como olhamos para o outro. Desça, Suze.

Suze desceu envergonhada, mas ainda assim, linda. Olhei para Margaret que parecia surpresa e ao mesmo tempo enfurecida. O duque parecia estar achando lindo. Brotou um sorriso acanhado em seu rosto. E isso me fez sorrir também. Suze chegou perto de onde estávamos sem falar absolutamente nada. Mas, aquela ação falava por ela. E como falava...

— Por Deus, o que é isso? Sinto muito senhorita, mas não pode ir conosco ao baile. Isso é ridículo, você é uma criada, mesmo vestida e penteada de uma forma que pareça uma lady, mas continua sendo uma criada. Sua pela não nega!

— Minha pele fala mais do que a minha boca. Mas ela fala a verdade, a verdade de quem eu sou, e do que ninguém pode tirar de mim. Ser uma impura negra não me faz menos mulher do que a senhora, Milady. Mas o que sou, por dentro, me faz ser milhões de vezes mais humana.

— Sua...

Margaret levantou a mão para bater em Suze, mas foi interrompida por Benjamin.

— O que é isso? Parem. Margaret controle-se. Suze, comece me explicando o que está acontecendo. — Falou Benjamin exaltado.

— A ideia foi minha. — Sorri amarelo — Suze só obedeceu a uma ordem dada por mim.

— A senhorita acha graça? Pensei que se preocupasse com o bem-estar da sua dama de companhia senhorita Ossory? Isso não é um ato pensado por uma pessoa madura, Suze poderia ter levado umas bofetadas por sua causa. Ela iria se machucar porque pensou que poderia brincar dessa forma. — franziu o cenho. — Suze, você ficou linda nesses trajes, decerto que a senhorita Johanna fez um bom trabalho com você. Mas, infelizmente precisamos ir.

— Não precisa se incomodar senhor. A senhorita Johanna não fez por mau. Eu me sinto linda dessa forma, mas gosto de como sou naturalmente, sem máscaras. — Falou enquanto olhava para Margaret. — Tirarei o traje e voltarei ao trabalho. Não quis causar confusão em plena noite de baile. Divirtam-se.

Suze fez uma reverência e saiu. Não consegui falar nada, eu não sabia como reagir àquela situação. Suze tinha falado o que estava preso em seu coração a bastante tempo e eu estava mostrando para Benjamin que não sou o que ele imaginava que eu fosse. Quem criaria uma confusão daquela? Embora não fosse minha intenção inferir o duque com essa situação. Mas já que calhou, não pude reclamar.

Ele passou me encarando como se eu tivesse feito algo de muito ruim. Para mim aquela era uma boa reação. Margaret fez o mesmo. Eles iam em direção a carruagem e eu fui atrás andando lentamente. 

31 dias para te amar - Livro 1 - [1º versão]Onde histórias criam vida. Descubra agora