5 _ Doces para a vovozinha

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Louise

Saí do Club e fechei meu sobretudo, abraçando meu próprio corpo, tentando em vão me aquecer do vento cortante. Segui pelas ruas noturnas ouvindo o salto da minha bota batendo contra o chão. Mônaco era ainda mais linda à noite, apesar de ser um principado pequeno, era muito movimentado e iluminado.

Caminhei rapidamente e virei em uma esquina, quando distraidamente esbarrei em alguém.

— Desculpe, senhora! — Pedi e ela me olhou confusa.

— Me ajuda, por favor! Acho que estou perdida.

— Onde a senhora mora? — Questionei preocupada e ela balançou a cabeça.

— Não consigo lembrar o nome da rua.

— Sabe o telefone de algum familiar para ligarmos? — Perguntei e ela negou com a cabeça.

As primeiras gotas de chuva caíram finas, porém o vento aumentou. Olhei em volta sem saber o que fazer. Encarei novamente a senhora que tremia de frio. Tirei meu sobretudo e coloquei nela, ajustando o capuz para cobrir seus fofos cabelos brancos.

— Vou te levar para minha casa e amanhã cedo tentaremos descobrir onde mora. Pode ser?

Ela assentiu ainda confusa e eu a guiei para minha casa. Por sorte a chuva esperou a gente entrar para despejar feroz lá fora.

Limpei minhas botas no carpete e Lola e Rose estavam sentadas no sofá. Provavelmente Lola estava consolando a amiga ciumenta.

— Quem é essa senhora, filha? — Minha mãe apareceu me assustando.

— Encontrei na rua. Estava perdida, então eu a trouxe.

— Por que não chamou a polícia? — Perguntou puxando a minha mão. — Não temos a miníma condição de sustentar mais uma idosa.

— Fica calma, amanhã eu vou tentar descobrir onde ela mora. Mas já está tarde e tem uma tempestade caindo lá fora. Então ela fica. — Falei e minha mãe franziu a testa. — Só hoje, prometo.

Quando olhei para o lado, Lola e Rose já estavam inspecionando a senhora. Fazendo um milhão de perguntas.

— Tive uma ideia, mãe. — Falei e ela me olhou curiosa. — Pegue gelatina e suco. Vamos fazer a noite das meninas!

Minha mãe sorriu e foi rapidamente preparar as coisas. Guiei as três para o meu quarto e peguei minha caixa de esmaltes.

— Adoro noite das meninas. Não tem nada melhor! — Rose comentou sentando na minha cama ao lado da senhora desmemoriada.

— Poderia ser melhor sim. Se tivesse um conhaque e uns jovens sarados dançando. — Lola comentou atrevida nos fazendo rir.

— O que é noite das meninas, minha filha? — A senhora perguntou e eu segurei as mãos delas.

— Vamos ficar aqui reunidas, jogando conversa fora, pintando as unhas e saboreando gelatinas. — Expliquei e ela sorriu concordando.

— E dançando. — Lola disse levantando e indo até meu aparelho de som. — Igual a Lou faz no trabalho.

— Você é dançarina? — Perguntou curiosa e eu assenti.

— Simplesmente a melhor dançarina. — Lola me puxou para dançar, mas eu abaixei um pouco o som antes.

Dançamos animadas e eu a girei devagar. Ela amava o palco. Havia sido uma grande promessa no teatro e na música, mas infelizmente perdeu tudo graças ao marido viciado em jogos. Senhor Lourenço.

Minha mãe entrou no quarto e serviu as coisas. A senhora e Rose se serviram e então ela colocou a bandeja sobre a cama e me olhou.

— Vem dançar, mãe!

— Eu não sei fazer isso.

— Claro que sabe! Vem! — Lola a puxou e nós três demos as mãos, minha mãe acabou rindo e arriscando uns passos imitando a Lola.

— Joga os cabelos assim! — Falei soltando os cabelos dela e ela balançou eles, fazendo Lola a aplaudir.

Porém mamãe era muito tímida, seu rosto corado denunciava isso. Segui até a cama e puxei Rose e a senhora que nos assistiam comendo. Todas então dançamos. A senhora se divertiu comendo a gelatina e balançando os quadris.

Depois de pintar as unhas dela e de Lola fazer bobes no cabelo de Rose, tomamos o suco e sentamos juntas. Pouco depois minha mãe bocejou cansada e recolheu os copos colocando na bandeja.

— Passou da hora de todas irem para a cama. Vou arrumar um quarto para a senhora. — Avisou e a mulher a olhou nervosa.

— Se quiser pode dormir aqui comigo. — Ofereci e ela sorriu mais tranquila. Acho que ela ficou com medo de dormir sozinha numa casa estranha. Olhei para Lola e Rose e as duas estavam me encarando de braços cruzados. — Vocês também.

Ambas sorriram e minha mãe balançou a cabeça. — Minha filha, você trata essas senhoras como crianças. — Brincou e beijou minha testa. — Boa noite para vocês!

Deitamos às quatro na cama e ficamos super apertadas causando risadas.

— Conta aquela história do traidor de novo! — Lola pediu ansiosa.

— OK. Uma vez fui convidada para dançar na despedida de solteiro um homem, tudo seguiu normal na casa, de repente a mulher dele entrou brigando com todo mundo. Pouco depois a amante também entrou. Nenhuma das duas sabia da existência uma da outra. Ele apanhou demais delas. Eu só pedi ajuda quando achei que o castigo tinha sido suficiente.

— Homens são tão idiotas, não é? Mal dão conta de uma mulher e querem duas. — Lola comentou nos fazendo rir.

— Fala isso para o Adam. — Rose comentou amargurada.

— Por que diz isso? — A senhora perguntou e Rose suspirou profundamente.

— Ele estava todo animadinho conversando com aquela Anna. E ela cheia de risinhos para ele. Um dia eu dou sumiço na dentadura dela.

— Rose, querida, você tem que entender que seu namorado é muito comunicativo. Não é porque ele está conversando com outras mulheres que está paquerando elas. — Aconselhei e ela suspirou inconformada.

— Você tem namorado? — A senhora perguntou e Rose a olhou.

— Sim. A senhora não?

— Não, eu moro com meu filho e meu neto. — Respondeu e arregalou os olhos. — Eu lembrei deles, mas ainda não lembro onde moro.

— Sabe o nome deles?

— Não. — Abaixou a cabeça triste.

— Tudo bem. Agora descansa, manhã decidimos o que fazer.

— Obrigada, minha filha, você é um anjo!

— A Lou é mais que um anjo. Ela cuida de todos nós aqui mil vezes melhor que nossos familiares que nos abandonaram. — Rose comentou triste e eu toquei na mão dela.

— É a nossa netinha. — Lola completou. — A neta de todo mundo aqui.

— Ah, então eu também quero que você seja a minha neta. — A senhora disse e eu sorri para ela.

— Serei com maior prazer. Gostei muito da senhora. — Respondi e as outras duas me encararam. — E gosto muito de vocês também, minhas ciumentas preferidas.

Elas sorriram me abraçando e a senhora também. Apaguei a luz e todas dormimos embaladas pelo som da forte chuva.

Quanto Cu$ta O Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora