24 _ Máquina de vacilos

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Oliver

Minha boca estava extremamente amarga e seca em um nível assustador. Abri os olhos e tentei me mexer, me senti desconfortável, só então notei estar dentro do meu carro. Tentei levantar, mas a minha cabeça doeu como se pesasse uma tonelada. Eu não conseguia lembrar como tinha parado ali, mas lembrava de ter tido um sonho quente com Emma. Sentei com dificuldade no banco e tentei recordar de algo da noite passada. Nada.

Minha cabeça parecia que a qualquer momento fosse rachar no meio. De repente alguns lampejos de memória aumentaram a minha dor.

— Eu saí com Louise ontem à noite. — Falei para mim mesmo.

Porém eu não conseguia lembrar de nada. Sei que bebemos, aliás bebemos muito, porém depois de um certo momento ela simplesmente desaparece da minha memória.

Uma constatação estranha me atingiu em cheio. A imagem de Louise sumiu da minha memória exatamente quando o sonho ardente com Emma começou.

Não, não, não, não, não!
Eu não posso ter transado com Louise! Céus, eu não posso ter feito isso!

Juntei meus cabelos bagunçados em um coque e pulei para o banco da frente, demorei para encontrar minhas chaves e dirigi imediatamente até o asilo. Precisava tirar essa história à limpo. Toquei a campainha e a mãe dela me atendeu.

— Pode voltar outra hora? Louise está com muita dor de cabeça. Nem levantou ainda. — Avisou e meu coração acelerou no peito, eu engoli em seco.

— Posso entrar? Preciso mesmo falar com ela. — Pedi nervoso e ela ponderou um instante e então me deu passagem.

Mesmo estando muito cedo os idosos já tomavam café e conversavam alegremente. Dei bom dia para todos e segui no encalço da mulher que me levou até o quarto de Louise. Ela bateu vagarosamente na porta branca de madeira.

— Filha, Oliver veio te ver. — Falou baixo abrindo a porta em seguida.

Me deparei com Louise deitada na cama abraçada ao travesseiro. Ela parecia que já estava acordada há muito tempo, na cômoda ao lado tinha um copo com água e uma cartela de comprimidos. Ela me olhou séria demais e eu temi ouvi o pior de seus lábios.

— Bom, vou deixar vocês conversarem. — A mãe dela disse antes de partir.

Me aproximei da cama e notei que ela apertou o travesseiro contra o peito. Achei estranho o fato, mas não comentei.

— O que faz aqui tão cedo? — Perguntou parecendo cansada.

— Me diz pelo amor de Deus que a gente não transou ontem! — Supliquei e ela franziu a testa.

— O quê?

— Eu... Não me lembro de nada. Sei que saímos e bebemos. Depois eu não sei mais. Sonhei com Emma e acordei de ressaca no meu carro. — Contei atrapalhado sentindo minha cabeça ameaçar explodir como se algo quisesse pular para fora. — Por favor, me diz que não fizemos sexo!

— Seria tão ruim assim para você ter transado comigo?

— Sim. Digo, não é isso. É que...

— Eu já entedi. — Me interrompeu abaixando o olhar. Talvez eu tivesse sido duro demais, entretanto isso jamais poderia acontecer entre nós. — Fica tranquilo, não aconteceu nada.

— Tem certeza?

— Absoluta. Nada, nem beijo e nem nada. — Respondeu séria e eu sentei nos pés de sua cama.

— Graças a Deus! — Exclamei aliviado e ela me olhou estranho. — Não é nada com você, é só que seria um desrespeito à Emma...

— Não precisa me explicar nada. — Me cortou áspera e eu engoli em seco.

— Desculpa vir até aqui tão cedo te perguntar isso. É que tem um buraco na minha memória...

— Oliver, nós saímos e bebemos. Depois eu percebi que já tinha passado do meu limite e decidi vir embora. Você decidiu ficar. O que houve depois eu não sei.

— Ótimo, fico aliviado por ter sido só isso... Quero dizer, eu apenas não quero te magoar...

— Me magoar? — Perguntou com um sorriso afetado. Pisquei confuso e ela deu de ombros. — Você não me magoa de forma alguma. Eu entrei nesse jogo já sabendo quem iria vencer.

— Como é? — Questionei sem entender o que ela quis dizer.

— Não faz diferença. Se não se importa eu preciso dormir mais um pouco, estou com muita dor de cabeça.

— Tudo bem, eu também estou. Já vou indo. Desculpe o incômodo! — Pedi e ela assentiu desviando o olhar.

Me despedi de todos e fui para casa. Encontrei minha avó de braços cruzados na cozinha.

— Que horror! O cheiro do álcool está vindo aqui. — Reclamou e parou uma mão no meu peito. — Não passe perto do fogão, pois é capaz de explodir.

Eu tentei rir, mas isso fez doer mais ainda a minha cabeça.

— Eu vou tomar banho. — Comentei e ela virou novamente para o fogão.

— Oh sim, faça essa caridade por nós. — Zombou mexendo na chaleira.

— Pai, assiste desenho comigo depois?

— Sim, mas tem que ser bem baixo o volume. — Respondi e Jean concordou com a cabeça.

— Vou colocar mais pó no seu café e menos açúcar. — Minha avó avisou e eu agradeci.

Subi para o meu quarto, tirei a roupa pelo caminho e entrei debaixo do chuveiro. Fechei os olhos sentindo a água cobrir a minha cabeça como um véu. Apoiei as mãos no box e respirei aliviado por não ter acontecido nada demais com Louise. Ao mesmo tempo achei estranho ter sido apenas um sonho com Emma, pois tinha sido algo tão real e tão delicioso. Acho que a cada dia que passava eu sentia mais falta da minha mulher.

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