4 _ O amor nunca morre

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Oliver

— Isso é um absurdo! — Comentei indignado jogando o jornal sobre a mesa próximo do sofá. — Leu a capa? Eu devia meter um processo nesse jornal inútil!

Leo me olhou intrigado e pegou o jornal lendo em voz alta a manchete: — Piloto solitário mais uma vez fica em primeiro lugar na corrida. — Terminou e me lançou um olhar sarcástico. — Quer processar eles exatamente por quê? Por falarem a verdade?

O olhei irritado e andei de um lado para o outro na sala. Odiava especulações sobre a minha vida pessoal. Esse era o lado da fama que eu simplesmente abominava. As pessoas cismavam que todos tínhamos que estar com alguém para estarmos felizes. No meu caso faltava os dois fatores, alguém e felicidade. E então os jornalistas se esbaldavam com isso. Custava focar apenas na minha carreira e nas minhas vitórias?

— Eu não sou solitário. — Rebati e Leo estreitou o olhar para mim.

— Cara, você está solteiro há quase oito anos, desde... — Parou de falar deixando a frase morrer no ar. Era um assunto delicado para nós dois.

— Desde? Pode falar, não é crime dizer o que aconteceu.

— Eu sei o quanto você gostava da Emma...

— Eu a amo. — Interrompi sua linha de pensamento e ele assentiu.

— Tudo bem, eu acho muito bonito o repeito que você tem pela memória da minha irmã. Mas você precisa seguir sua vida. — Aconselhou e eu o encarei confuso.

— Eu estou seguindo. Nunca estive melhor na minha carreira e estou criando meu filho.

— E está fazendo um ótimo trabalho com meu sobrinho, diga-se de passagem. — Comentou sorrindo e eu sentei no outro sofá, me sentindo orgulhoso. Meu pequeno era mesmo o melhor de mim. — Porém você também precisa cuidar do coração. — Insistiu e eu revirei os olhos.

— Meu coração está batendo perfeitamente bem e bombeando o sangue que é a única função dele.

— Não finja que não sabe do que estou falando. Até mesmo sua avó anda preocupada.

— Minha avó se preocupa à toa. Ela me trata como se eu e Jean tivéssemos a mesma idade. — Respondi e ele abriu um sorriso zombador.

— Se for idade mental então ela está certa. — Joguei uma almofada na cara dele o fazendo rir.

— Minha avó está meio confusa ultimamente. — Confessei receoso e ele me olhou preocupado.

— Não devia levá-la ao hospital?

— Não. Ela está bem. É só cansaço. Não tem nada demais.

— Sei que você ama sua avó, e por isso você deveria...

— Não, ela não tem nada. Não pode ter nada. Não posso perdê-la também. — Rebati nervoso e ele suspirou contrariado, entretanto não insistiu.

— Agora sério, retomando o assunto principal, vamos sair um dia desses?

— Você não vai bancar o cupido comigo.

— O quê? Nada de cupido. Só uma volta pela cidade como os dois cunhados solteiros e adultos que somos.

Respirei fundo impaciente. Leo teimava há anos que não era saudável manter meu coração recluso depois de tanto tempo da morte da irmã dele. O que ele não entendia, aliás, o que ninguém entendia era que não se esquecia um amor assim. Emma foi e ainda é minha mulher. Na verdade sempre será. Não é apenas respeito pela morte dela, é amor. E o fato de não poder ter me despedido quando ela partiu esmaga o meu coração. Todos os dias e todas as noites eu lembro dela dizendo que logo iria voltar, mas nunca voltou. Do sexo que deixamos para mais tarde. Do beijo que ela jogou no ar para mim e Jean. Dos planos de voltar para nossa casa, do meu desejo de ter ela comemorando comigo o pódio. De poder encharcar a roupa dela de champanhe e comemorar a noite inteira. Me quebra aos pedaços cada lembrança, cada momento, cada tudo que se acabou com aquele maldito acidente. Eu me perguntava se ela tinha sentido dor. Os médicos insistiram que a morte foi instantânea e ela não sentiu nada. Mas quem garante? No final das contas a dor do fim inesperado da vida dela penetrou na minha. Eu nunca mais consegui fazer planos, apenas sigo com as minhas obrigações. Minha avó insistia em dizer que eu me fechei para o mundo. Entretanto a sensação que eu tinha era que o mundo havia se fechado para mim desde que Emma partiu.

— Tio Leo! — Jean gritou eufórico ao entrar na sala acompanhado da bisavó.

— Meu sobrinho favorito! — Leo disse abraçando Jean e ele franziu a testa.

— Mas eu sou seu único sobrinho.

— E poderia mesmo assim não ser meu favorito. — Leo brincou fazendo cócegas nele causando risadas engraçadas.

— Olá, vó Etienne! — Meu cunhado cumprimentou.

— Olá, querido! Como vai? — Ela perguntou abaixando e dando um beijo na testa dele. No mesmo instante meu filho pulou no meu colo quase me derrubando no sofá.

— Compramos alimentos frescos para o jantar. — Contou animado. — Ajudei a bisa escolher tudo.

— Muito bem! E carregou as sacolas para ela?

— Eu tentei, mas não consegui tirar ela do lugar. — Respondeu frustrado e eu segurei uma risada. — Mas eu ainda sou forte, não sou?

— Claro que é, o garoto mais forte do mundo. — Respondi e ele sorriu agradecido.

— Quer ajuda, vó? — Perguntei e ela assentiu. Levantei do sofá deixando Leo ligando o vídeo-game para jogar com Jean.

Peguei as sacolas e coloquei tudo sobre a bancada, notei que dona Etienne me olhava pensativa.

— Algum problema, vó?

— Leo conversou com você?

— Sobre o quê? — Questionei e ela olhou de relance para a sala e então me encarou.

— Sobre seu coração.

— Hoje está todo mundo preocupado com meu coração. — Brinquei e ela me olhou séria. — Eu estou bem.

— Oh, homem teimoso! — Reclamou e eu ri a abraçando. — Não tente me comprar com abraços. Você precisa encontrar alguém. Vive pelos cantos suspirando. Acha que não ouço você chorando à noite? — Perguntou e eu me encolhi timidamente.

— É normal, vó. Estou de luto.

— Monamour! — Ela tocou suavemente meu rosto. — Eu sei o quanto a morte de Emma te machuca. Mas ela era a pessoa no mundo, claro depois de mim, que mais queria te ver feliz. Você acha que seja lá onde ela esteja estaria feliz vendo você definhar em vida?

— Eu não estou definhando. E além do mais não quero me envolver com ninguém. — Rebati e ela suspirou contrária se afastando de mim e seguindo até as sacolas.

— É um desperdício. Você é lindo, qualquer mulher se apaixonaria facilmente por você.

— Porém eu sou apaixonado por uma única mulher. Mesmo ela não estando mais no mesmo plano que nós.

Ela não disse mais nada. Não tinha o que dizer. Cozinhamos em silêncio e servimos o jantar. Leo e Jean falavam o tempo todo sobre algo que não prestei atenção. Após meu cunhado ir embora segui com meu filho para colocá-lo para dormir.

Li sua história favorita do pequeno príncipe, ele ficou com os olhos iluminados quando chegamos na frase que ele mais gostava.

— É loucura odiar todas as rosas porque uma te espetou. — Li e ele concordou deitando direito para dormir.

— É loucura evitar a felicidade porque algo te fez ficar triste. — Falou me deixando surpreso.

— Onde aprendeu isso? — Questionei e ele fechou os olhos.

— Da minha cabeça, papai.

Fechei o livro e o observei dormir. Cobri ele com o cobertor de estrelas e beijei a cabeça dele.

— Dorme com os anjos, pois sua mãe está olhando por nós! — Murmurei apagando a luz e saindo do quarto.

Fechei a porta e parei no corredor, pensativo. Ainda estava surpreso com o que ele tinha me dito.

Quanto Cu$ta O Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora