6 _ Descontrole

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Oliver

Meu coração estava prestes a sair pela boca. Liguei para a polícia e para os hospitais e nada da minha avó. Jean foi para a aula obrigado, pois queria estar em casa quando a bisavó chegasse. Porém eu estava tão receoso com o que poderia ter acontecido que preferi que ele fosse para a aula mesmo à contragosto.

— Calma, não pense no pior! — Leo aconselhou, mas eu não conseguia.

Por mais que tentasse me faltava o ar. O medo de ter perdido mais alguém me fazia querer gritar. De repente ouvimos uma batida na porta. Saímos correndo e quando abri lágrimas de alívio escorreu em meu rosto. Abracei minha avó com tanta força que decidi me afastar com receio de machucá-la.

— A senhora está bem? Onde estava? Por Deus, ficamos tão aflitos! Está sentindo algum mal estar? — Bombardeei ela com perguntas e só então notei uma jovem e bela mulher ao lado dela.

— Então estamos na casa certa. — Ela disse sorrindo e minha avó concordou com a cabeça.

— Eu estou bem, meu neto. — Finalmente respondeu e Leo também a abraçou.

— Que susto que a senhora nos deu, vó Etienne. — Ele reclamou a soltando.

— Eu me perdi e a Lou me ajudou. — Contou e eu encarei a mulher parada na porta.

— Você a encontrou onde?

— Estava vagando próxima da minha casa e então eu a levei para lá.

— Dormimos e conversamos à noite quase toda. — Minha avó acrescentou e eu encarei furioso a mulher.

— Você a encontrou ontem? Custava ter pedido ajuda para polícia, caramba? Eu e meu filho não conseguimos dormir à noite preocupados.

— Desculpa, mas estava chovendo muito e ela estava muito confusa...

— Mais uma razão para ter comunicado à polícia, sua irresponsável! Eu imaginei os piores cenários possíveis. — Gritei fora de mim e ela abaixou a cabeça.

— Não grite com a Lou! Ela me acolheu. — Minha avó interferiu e eu respirei fundo, passando a mão pelos meus cabelos, tentando me acalmar.

— Não era minha intenção tanto transtorno, mas como ela estava sozinha na rua tão tarde da noite, achei que talvez os familiares nem teriam percebido ela saindo. Eu cuido de um asilo e sei que...

— Um o quê? — Questionei furioso. — Você abrigou minha avó em um asilo?

— Sim, é onde eu moro. Não tem nada de errado lá. Aliás, sua avó gostou muito e...

— Minha avó nunca irá para um asilo se é o que está tentando dizer. Ela tem família.

— Uma família que não cuida dela. — Rebateu me deixando incrédulo. — Pois se cuidasse perceberia que ela precisa de cuidados médicos, precisa cuidar da confusão mental pela qual está passando.

— Fora da minha casa! — Vociferei e ela me encarou.

— Ei, vamos acalmar os ânimos aqui! — Leo pediu e eu não desviei o olhar dela.

— Só vou me acalmar quando essa irresponsável sumir do meu campo de visão.

— Você é um grosso! — Ela disse emburrada e minha avó foi até ela a abraçando.

— Desculpa, ele só estava nervoso. Obrigada por tudo! — Disse a soltando.

Elas se despediram e a mulher me lançou um olhar fulminante antes de ir embora.

— Você não deveria ter tratado a minha neta assim. — Minha avó me repreendeu e eu a olhei preocupado.

— Eu sou seu único neto, vó.

— Não, não é. A Lou é minha neta de coração. Pedi ontem para ser avó dela na noite das meninas e ela aceitou.

— Que história é essa de noite das meninas?

— Coisa que você nunca irá saber porque não é uma menina, Oliver.

— Ai, essa doeu! — Leo zombou e eu fuzilei ele com o olhar.

— Vó, nos estávamos preocupados com a senhora. Tente entender...

— Eu entendo, querido, porém dentro das circunstâncias de ontem, a Lou fez o melhor que pôde por mim. — Garantiu tocando no meu rosto. Peguei a mão dela para beijar e notei as unhas pintadas de vermelho. Franzi a testa a encarando e ela deu de ombros.

Logo depois saiu da sala cantarolando.

— Eu definitivamente preciso marcar um médico para ela.

— Sim. E também precisa sair essa noite para esfriar a cabeça. — Leo sugeriu e eu respirei fundo.

— Você tem razão. — Respondi o surpreendendo. — Vamos sair, mas só depois que eu ler uma história para Jean, me assegurar que a governanta vai ficar de olho na minha avó. E temos que voltar cedo. Só um Chopin no máximo.

— Aleluia! Apesar de tantas exigências pelo menos finalmente aceitou. — Comemorou empolgado.

***

— Eu não acredito que me trouxe para um Club de strippers! — Reclamei entrando no recinto.

— Você está precisando relaxar. A forma como tratou aquela moça prova isso.

— Mas ela estava errada e foi irresponsável.

— Eu concordo, não estou aliviando para ela, entretanto pelo o que eu percebi enquanto você a escurraçava, era que ela realmente achou que ninguém tinha percebido a falta de vó Etienne.

— E como ninguém perceberia o sumiço da própria vó? — Questionei irônico e ele pediu duas bebidas para o barman. Então me olhou e deu de ombros.

— Cara, ela trabalha em um asilo. Deve estar acostumada com parentes sem almas que largam os velhinhos lá.

— Nada justifica.

— Eu sei que não, mas mesmo de uma maneira torta, a moça só queria ajudar. Apenas imagine se ela largasse vó Etienne na rua, no meio da tempestade que desabou a noite toda. Ou pior, se vó Etienne passasse à noite na delegacia tentando se lembrar do endereço. Pelo menos ela levou para casa e cuidou bem dela. Pense nisso!

— OK, olhando por esse lado...

— Não tem outro lado. Vó Etienne iria passar a noite sozinha na delegacia se não fosse por essa tal Lou. — Concluiu pegando a enorme caneca de Chopin virando um bom gole.

Também peguei a minha pensativo. De repente as pessoas se animaram à minha volta. Os holofotes direcionaram para o palco onde o show de strip-tease iria começar.

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