8 _ Convite

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Oliver

Cada vez que eu pilotava o carro a imagem de Emma vinha na minha mente. Eu me sentia de certa forma conectado com ela toda vez que acelerava. Eu sempre sentia que em algum momento, como em uma curva mal executada, eu poderia reencontrá-la. Não, não era um desejo de morte, era mais algo sem explicação mesmo. As vezes me pegava pensando que ficar inconsciente por alguns instantes pudesse me dar a oportunidade de ver Emma atrás do espectro da vida. Eu apenas sentia que me aproximava mais dela quando me afastava de mim mesmo.

Passei pelas bandeirinhas quadriculadas que me garantiam a vitória. Suspirei ao parar o carro vermelho da Ferrari, tirei o capacete e suspirei vendo todos da minha equipe comemorarem felizes.

— Não foi dessa vez, monamour. — Lamentei antes de seguir para as entrevistas.

Subir no primeiro lugar do pódio era sempre uma ótima experiência. Cumprimentei meu amigo Raph da McLaren e acenei parabenizando Nicolas da Mercedes. Porém ele fechou a cara e desviou o olhar.

É bastante normal sermos competitivos, porém Nicolas era além do limite. E o fato dele ficar consecutivas vezes no segundo lugar parecia piorar ainda mais seu já péssimo humor.

— Aproveita enquanto pode. — Falou entredentes.

Não respondi sua provocação. Após a premiação abri a enorme garrafa de champanhe, explodindo o líquido em Ralph que sorriu entusiasmado pela ótima posição na corrida. Ele tinha um futuro bastante promissor.

***

Ao chegar em casa meu filho pulou nos meus braços me parabenizando. Minha avó me abraçou aliviada por eu ter vencido mais uma corrida inteiro, como ela costumava dizer. Desde que um piloto infelizmente perdeu a vida em um dia de reconhecimento de pista, ela ficou alarmada. Eu a entendia. Era realmente perigoso. Mas todos de alguma forma acabamos nos arriscando na vida.

— Quando eu crescer quero ser rápido como o papai! Vrum vrum vrum! — Jean gritou eufórico.

— Já quase passo mal com um, imagina vocês dois correndo. — Minha avó comentou e eu toquei na mão dela.

— Por falar em passar mal...

— Eu já disse que não preciso de médico. Estou bem. — Insistiu relutante.

— A senhora querendo ou não, vai no médico sim. — Repeti e ela suspirou exasperada.

— Então ao menos deixe a Lou ir comigo.

— Deixa eu ver se eu entendi, não quer ir comigo, mas quer ir com uma mulher que mal conhece?

— Não precisa ficar com ciúmes! — Disse calmamente passando a mão no meu rosto. — Porém eu quero sim que ela vá conosco. Pelo menos se for algo muito grave... Se...

— Não diga isso.

— Se eu estiver com alzheimer, quero lembrar dela um pouquinho pela última vez. Foi uma moça tão cuidadosa comigo.

Meus olhos se encheram de lágrimas só ao imaginar um possível diagnóstico devastador desse. Senti meu estômago revirar como se tivesse levado um forte soco nele.

— Meu filho, está me ouvindo? — Ela me chamou e eu a abracei emotivo.

— Vai ficar tudo bem. — Ela me olhou visivelmente descrente e sorriu fraco. — OK, lembra onde Louise mora?

— Não muito bem. — Respondeu e eu respirei fundo. — Mas era em um asilo.

Peguei meu celular no bolso e comecei a pesquisar por asilos na internet. Apareceram vários e como não sabíamos o nome do lugar, não resolveu absolutamente nada.

Então peguei o número do Club onde ela trabalha, entretanto ninguém atendeu. Óbvio, ainda estava muito cedo para o Club funcionar.

Decidi pesquisar o nome de Louise no google, atrás de alguma rede social dela e me espantei ao achá-la em um catálogo de acompanhantes de luxo.

Mesmo ela sendo uma stripper, era estranho saber que saía com homens por dinheiro. Era estranho porque ela tinha um rosto angelical, um jeito muito delicado de falar. Não que precisasse ser espalhafatosa para ser acompanhante, era só que... Não combinava de forma alguma com ela.

Tomei coragem e liguei para o número fornecido no catálogo.

"— Alô?"

"— Louise?"

"— Eu mesma, quem fala?"

"— Aqui é o Oliver. Neto da senhora que te adotou como neta também."

"— Oh, você!" — Sua voz parecia surpresa. "— Aconteceu alguma coisa?"

"— Minha avó vai ao médico, porém ela insiste que você vá junto."

"— Eu vou com ela sim. Quer que eu a busque?"

"— Não, você não entendeu. Ela quer que você nos acompanhe."

"— Ah... OK então. Encontro vocês onde?"

"— Me passa seu endereço que nós passamos aí."

Ela hesitou um instante e então me passou. Nos despedimos e minha avó tinha os olhos verdes inundados de expectativas grudados em mim.

***

— A ressonância magnética não indicou alterações estruturais que caracterizam uma possível causa secundária. O eletroencefalograma ​apresentou atividade elétrica cerebral espontânea normal. A punção lombar também não indicou nada. Os exames de sangue deram todos ok e o nível de atenção está ótimo. — O médico disse olhando os resultados sobre a mesa.

O encarei confuso e notei que minha avó segurava minha mão ao mesmo tempo que com a outra segurava a mão de Louise.

— O que isso significa, doutor?

— Significa que dona Etienne tem um declínio cognitivo leve.

— Pode explicar melhor? — Louise perguntou quando abri a boca para fazer o mesmo.

— Claro, excluídas todas as causas clínicas de possíveis fatores secundários que comprometam a função cognitiva, podemos pensar em causa primária de demência.

— Demência? — Perguntei assustado.

— Calma, não é um bicho de sete cabeças. Tudo que dona Etienne — Ele olhou para minha avó que estava apreensiva — Tem que fazer agora é uma mudança de hábitos de vida, fazer atividade física, reduzir a massa corporal para IMC menor ou igual 25, ter uma alimentação saudável e manter a prática de algo que estimule a memória. Palavras cruzadas é uma boa opção.

— E só isso resolve? — Perguntei inseguro.

— Sim, e muito. Em vários casos chega até mesmo a reverter o declínio cognitivo, ou desacelera sua progressão em anos, significando melhor qualidade de vida.

Respirei inflando meus pulmões de puro alívio. O médico tinha tirado um enorme peso das minhas costas.

— Que maravilha! É só ter uma vida mais saudável, fazer exercícios... — Louise enumerou e minha avó fez uma careta engraçada.

— Exercícios não. Olha, doutor, eu posso dançar com ela? — Perguntou apontando para Louise que explodiu em risadas.

Eu olhei espantado para minha avó, mas a risada de Louise acabou me fazendo rir também.

— Dançar é um ótimo exercício. — O médico disse alheio à situação e eu balancei a cabeça em reprovação.

Quanto Cu$ta O Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora