29 _ Novamente o caos

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Louise

Eu provavelmente tinha batido a cabeça muito forte mesmo, porque além de tudo estar rodando, eu ouvi Oliver me pedir para ficar com ele. E isso de certa forma me deixou menos assustada, embora a dor persistisse em todo o meu corpo. O toque dos lábios dele nos meus me fez sorrir involuntariamente. Ele me beijou sóbrio pela primeira vez e eu gostei tanto que queria repetir a dose. Porém o sono acabou falando mais alto e eu cedi à escuridão que me acolheu gentil.

Acordei dentro de um lugar apertado e senti meu coração palpitar acelerado.

— Calma, Louise, é apenas uma tomografia computadorizada. Fica quieta. — Alguém explicou em algum lugar. Respirei fundo e fiz um esforço descomunal para ficar parada. Odiava lugares pequenos onde eu me sentia presa.

Logo finalmente fui tirada da máquina e uns enfermeiros me levaram por um corredor extenso até um quarto, onde vi Nicolas e Oliver parados lado a lado me olhando preocupados. Milagrosamente eles não estavam brigando, estavam civilizados. Nicolas matinha sua expressão de culpa com os olhos arregalados e Oliver parecia... Chorar?

Pisquei confusa e ouvi uma enfermeira loura cochichar algo com a enfermeira  que estava do lado dela. Não consegui ouvir o que era, mas sabia que era sobre os dois pelos risinhos encantados que elas deram.

— Olá, Louise! Eu sou o doutor Scott! — Um belo médico se apresentou olhando vários papeis em suas mãos. — Por sorte você não teve nenhuma lesão grave na cabeça. Foi apenas o ferimento na lateral e ele foi bem superficial. — Avisou me deixando aliviada. — Fizemos alguns raio-x e eles você não teve nenhuma fratura em nenhuma parte do seu corpo. E por último, você teve um pequeno sangramento. — Avisou sério e eu o olhei confusa. — Fizemos os exames necessários e detectamos um pequeno descolamento do saco gestacional. Você vai precisar fazer um acompanhamento rigoroso. Vai ser necessário fazer repouso absoluto pelos próximos dias, além do mais vou administrar inibidores de contração uterina para tentar evitar o máximo possível um aborto espontâneo.

— Espera! O que está dizendo? — Perguntei completamente assustada e ele desviou o olhar dos papéis e me encarou.

— Você não sabia que está grávida?

— Grávida? — Ouvi Oliver perguntar tão surpreso quanto eu, porém não consegui desviar a atenção do médico.

— Por pouco você não perdeu o embrião. — O médico comentou e eu me senti ainda mais tonta que antes. Tudo girava como se eu estivesse em um dos brinquedos mais insanos do parque de diversões.

— Ah, meu Deus! — Falei nervosa ao pensar em ter um bebê. Tentei me sentar na maca e o médico me impediu junto com as outras enfermeiras.

— Nada de movimentos bruscos! Você não me ouviu? Repouso absoluto. — Ele falou sério e eu tentei me levantar novamente.

— Eu vou vomitar! — Avisei e uma das enfermeiras agilmente pegou o que parecia ser uma lixeira, bem a tempo para eu vomitar toda a vodca que havia bebido na boate. Meus olhos encheram de lágrimas e meu interior virou do avesso. Senti mais mãos me amparando e eu vomitei tudo que tinha no meu estômago. Em seguida finalmente consegui me recompor.

— Não acredito nisso, vamos ter um filho? — Nicolas perguntou sorrindo e eu o olhei incrédula.

— Que história é essa? Está maluco? — Gritei irritada e ele se aproximou de mim e puxou minha mão levando até a boca.

— Você não pode ficar agitada. — O médico me advertiu e Nicolas beijou minha mão.

Oliver nos olhava petrificado, parado no mesmo lugar em que ouviu a notícia.

— Para que mentir, querida? Você sabe que essa criança pode muito bem ser minha. — Nicolas respondeu com a voz arrastada. — Nós saímos várias vezes.

— Eu nunca saí com você! — Rebati e ele riu debruçando sobre mim.

— Você sabe muito bem que isso não é verdade. Ei, Bresson, teremos que dividir um exame de paternidade. — Ele disse virando para Oliver que me olhava perplexo.

— Nós nunca transamos! — Falei tentando empurrar ele para longe de mim.

— Como não? E todas as vezes que você saía da casa do seu namorado e seguia para a minha casa? Não foi apenas uma e nem duas vezes. Foram várias noites. — Ele inventou cínico me deixando furiosa.

Oliver permanecia atordoado demais, observando tudo em silêncio.

— Isso é mentira! Por que está inventando isso? — Gritei chorando de raiva e as enfermeiras puxaram Nicolas.

— Saiam os dois daqui! Louise não pode ficar nervosa agora. — O médico ordenou áspero e eu encarei Oliver que ameaçou sair do quarto sem dizer nada.

— Oliver! Por favor, espera! Oliver! — Chamei porém ele sequer olhou para trás.

— Cuida bem do nosso bebê, amor! — Nicolas disse me lançando um sorriso satisfeito e eu tentei me levantar para bater nele.

— Seu idiota! Eu odeio você! Sai daqui! — Gritei transtornada e senti uma fisgada na barriga. — Ai! — Apertei minhas mãos contra meu abdômen.

O médico praticamente arrastou Nicolas do quarto e as enfermeiras me obrigaram a deitar na maca novamente.

— Você precisa ficar calma agora. — Scott alertou voltando rapidamente e eu respirei fundo. — Precisa se esforçar pelo embrião que está crescendo aí dentro.

— Meu filho... — Murmurei ainda confusa.

Não podia acreditar que tinha uma criança se formando dentro de mim. Eu estava tão ferrada. Minha mãe provavelmente iria surtar, ela sempre falou horas na minha cabeça sobre usar proteção e eu sempre usei. Porém um único descuido, uma noite não planejada mudou tudo. Como eu iria criar uma criança? Como eu manteria o asilo, as contas da clínica do meu pai e as despesas de um bebê? Como eu iria contar para Oliver que o filho era dele sendo que ele acreditava que nós nunca tínhamos transado? E para piorar, como apagar todas as mentiras de Nicolas? Afinal, Oliver já desconfiava da minha amizade com aquele idiota há muito tempo. Mas que droga!

Senti o pavor me atingir em cheio junto com a dor que aumentava intensamente na minha barriga. Mesmo não sabendo o que fazer dali em diante eu só tinha a certeza de querer uma única coisa: 

— Salva o meu filho, doutor! — Pedi desesperada.

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