26 _ Ponto fraco

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Oliver

A semana passou veloz. Mesmo Louise insistindo que nada havia mudado entre nós algo parecia quebrado. Jantamos poucas vezes juntos e na noite anterior ela havia me dito que tinha um compromisso no asilo e por isso não poderíamos nos ver. Eu estava conversando com a minha equipe quando Nicolas se aproximou com o semblante tranquilo.

— Vim desejar uma ótima corrida para você. — Avisou estendendo a mão.

— Para você também. — Respondi e ele aumentou o sorriso.

— Com certeza será. Depois de uma noite tão agradável com Louise agora a vitória é certa. — Comentou e eu o olhei incrédulo.

— O que disse?

— Que hoje eu vou ganhar a corrida e se bobear ainda ganho sua namorada também. — Respondeu e eu parti para cima dele.

Gerard me segurou junto com os outros que estavam à nossa volta, exigindo que eu mantivesse a cabeça fria. Mas eu não conseguia. Detestava como Nicolas se referia à Louise como se ela fosse um objeto para ele pegar. Ao mesmo tempo estava decepcionado, Louise havia me garantido que não estava acontecendo nada entre eles.

Eu não tive tempo para debater o assunto. Precisava correr. Entrei no carro e me preparei. Com ódio segurei no volante. A imagem de Louise no carro de Nicolas na segunda-feira passava na minha mente o tempo todo como flashes. Eu senti ali que algo estava acontecendo. Não que eu tivesse alguma coisa a ver com a vida dela, porquê nossa relação não era real, mas mesmo assim me incomodava tudo isso. Talvez o problema era o fato de ser o Nicolas. Talvez por ele já ter sido imbecil o suficiente por ter agarrado ela a força. Só de pensar nisso meu sangue fervia. Se ele tocasse nela... Se ele sequer ousasse encostar nela sem consentimento eu mataria ele. Ao mesmo tempo eu sentia um sabor estranho na boca. E se Louise quisesse ficar com ele? Balancei a cabeça tentando me concentrar. Era direito dela, eu não podia interferir. Por que raios isso me deixava tão tenso?

Droga, preciso me concentrar!

Respirei fundo, olhei para o painel do carro. Tentei relaxar. A largada foi dada e eu acelerei. O ronco do motor rugiu veloz. Minha equipe decidiu ter apenas duas paradas no pit stop. Porém eu temia a parada final. Por mais rápidos que fossem nas trocas dos pneus, cada segundo era valioso e perigoso de ser perdido.

Segui pelas pistas sem a mesma ambição de antes. Pela primeira vez eu não desejei as curvas como sempre fazia. Eu não desejei um acidente. Me senti estranho. Eu não consegui pensar em Emma, ao invés disso, a imagem de Louise com Nicolas tragou os meus pensamentos como um buraco negro.

E foi assim a corrida toda. Por isso no final eu simplesmente não podia acreditar no que estava acontecendo diante dos meus olhos. No GP do México o carro do vencedor também subiu no pódio. E eu pisquei várias vezes para ver se aquilo não era um sonho. Aliás, um pesadelo. O carro verde forrado em papéis brilhantes picados que fazia a alegria da torcida era dele. No final das contas Nicolas realmente me venceu a maldita corrida. Eu fiquei em terceiro lugar.

— Primeiro se despede do pódio. Depois de Louise. — Piscou para mim antes de erguer o troféu no ar.

Eu queria era afundar aquele troféu no crânio dele. Desci sem comemorar com champanhe. Gerard me alertou que a mídia poderia fomentar que eu não sabia perder. Eu não me importava.

Só precisava voltar para casa.

***

Jean estava desolado por eu não ter vencido, seus olhos frustrados me receberam sem o brilho de sempre.

— Terceiro lugar é uma ótima posição. — Minha avó argumentou e ele negou com a cabeça.

— Não para o meu pai. Ele sempre ganhou. — Reclamou me abraçando.

— E eu ganhei essa também. — Respondi pegando ele no colo. — Nem sempre dá para chegar primeiro, o importante é nunca desistir.

— Vai vencer a próxima?

— Vou. — Respondi e ele sorriu aliviado. — Agora preciso ir ver Louise. — Falei colocando ele no chão.

— Diga à ela que se amanhecer chovendo amanhã deixaremos a caminhada para mais tarde. — Minha avó pediu e eu assenti.

***

— Posso falar com você? — Pedi quando ela abriu a porta. Estava usando um avental colorido estampado de flores.

— Estou servindo o jantar agora.

— Eu posso te ajudar. — Ofereci e ela me olhou descrente. — Preciso mesmo falar com você.

— OK. Entre! — Me deu passagem e eu entrei.

Rapidamente ajudei ela a servir a comida para as dezenas de idosos. Dona Lola me olhou de forma engraçada quando fui servir seu prato.

— Ulala, podíamos ter esse serviço de qualidade todo dia! — Brincou me fazendo rir.

— Menos Lola, daqui a pouco Lourenço arruma problema com Oliver. — Louise interferiu e ela deu de ombros.

— Eu iria adorar ver esses homens lindos brigando por minha causa. Queria ter dois homens interessados por mim igual acontece com você. — Lola disse e Louise arregalou os olhos para a senhora que pareceu fingir uma tosse.

— Dois homens? — Questionei e Louise deu de ombros.

— Lola inventa muita coisa. — Falou casualmente e eu a observei.

— Nicolas ganhou hoje.

— Eu soube.

— Ele me provocou. Disse que teve uma noite agradável com você. — Contei e ela me olhou surpresa.

— Ele veio aqui ontem. Mas não demorou muito, acho que não gostou do clima do asilo. — Confessou pegando a bandeja do carrinho.

— Então vocês estão se encontrando?

— Não. Eu disse que ele veio aqui ontem. — Respondeu séria.

— Posso saber para quê?

— Nada demais. — Desviou o olhar e tentou passar, mas eu não permiti. — Licença!

— Responde primeiro, o que Nicolas tanto quer com você?

— Por que está agindo assim, Oliver? Está até parecendo aqueles namorados ciumentos. — Zombou e eu pisquei desconcertado.

— Não é isso. Só... Temos um trato.

— E eu estou cumprindo. Nada de clientes.

— E o Nicolas?

— Por Deus, ele não é meu cliente. Aliás, ele não é nada. Só conversamos. — Garantiu parecendo sincera. Respirei fundo e a deixei passar.

Terminei de ajudar a servir no jantar. Estava enfim aliviado por tudo não passar de um blefe do idiota do Nicolas.

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