Ketchup

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Deus condenou a humanidade a própria desgraça

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Deus condenou a humanidade a própria desgraça. Não temos saída. É jogo com final programado, uma sinuca de bico onde o onipresente ri, debochadamente, da nossa tentativa de virar o jogo e, apenas dessa vez, eu estou rindo junto com ele, olhando minha vítima do outro lado da janela do seu quarto, segurando-se com as duas mãos para não cair, tentando decidir se retira a fita da sua boca com uma das mãos para gritar por ajuda e correr o risco de virar papa de tomate humano com a queda do ultimo andar, ou se tenta se segurar com as duas mãos para prolongar, por alguns minutos, sua estadia na terra.

A noite está linda. Céu limpo, as poucas nuvens que sobraram estavam com formatos de demônios (só consigo ver isso quando olho para nuvens). A lua está particularmente atrevida, brilhando de forma a quase ofuscar as estrelas. Não gosto quando ela está assim. Lembra meu inimigo; o sol.

Minha vítima começa a tentar subir de volta, usando toda sua ultima grama de força, lutando contra a gravidade, como se fosse uma barra de academia, vejo seus bíceps saltarem, sua veia e vasos sanguíneos dilatarem nos tríceps, as veias da testa dilatar, a cara ficar vermelha, até consigo ouvir seus dentes rangerem. Mas fiquei lá esperando sem oferecer nenhuma resistência, seria mais divertido ver, depois de todo esforço para subir, eu fazer essa alma sebosa beijar o asfalto.

Até chego a pensar que meu projeto de diversão noturna vai conseguir subir de volta. Essa força é o tal do cérebro reptiliano em ação, nossa parte mais primitiva que sustenta nossa vida, jogando todo cortisol e adrenalina em sangue. Esses são hormônios responsáveis por fazer você pular na calçada, mesmo sem pensar, para evitar ser atropelado pelo ônibus desgovernado, responsável por dar força extra as mães, ao ponto de levantarem um carro para salvar os filhos.

Dark está em uma escolha de Sofia, não sabe se aprecia a cena ou se entra em pânico. Isso é o que chamo de angústia. A verdadeira angústia; um sentimento de prazer e, ao mesmo tempo, de aflição. É a prima da felicidade proibida.

Eu não tou nem ai para Dark, continuo focado em minha vitima. Quero observar seus últimos segundos nesse mundo. Queria gravar, bater fotos, mas tudo que posso é memorizar o momento. Uma dor no meu coração sobe, quase me levando a lágrimas... Como eu queria registrar isso... Imagine, você, querido humano, em um momento maravilhoso, ao lado, quem sabe, de um ídolo, e ser proibido de registrar o momento.... É assim que me sinto agora.

Pronto, eis os momentos finais de minha presa, fechou os olhos, respirou fundo, vai se soltar, desistir.... e foi nesse derradeiro momento que posicionei metade de meu corpo para o lado de fora da janela e estendi minha mão, vi essa podre alma condenada abrir os olhos arregalados sem acreditar no que via, o tal milagre.

Aproximei o braço de minha presa, senti o vento massagear minha face, vi a cidade pequena lá embaixo, quase senti inveja de minha vítima (que agora estava até esboçando um certo sorriso) . Acreditou tanto no tal milagre que tirou uma das mãos de sustentação de sua vida da janela para tentar segurar a minha, mas desviei de seu braço cansado e apenas arranquei a fita de sua boca como minha mãe arrancava o band-aid quando eu era pequeno; rápido e indolor. Não que eu estivesse com pena, mas é que precisava ser rápido, pois... isso iria acontecer; com apenas uma mão se segurando, tentou fazer a outra agarrar o batente da janela de volta, mas já era tarde, seu cortisol já havia se esgotado, seu corpo não respondeu a mente e, para minha inveja, soltou as mãos e mergulhou fundo nas trevas, sem reação. Seu corpo, rapidamente, foi ficando pequeno, até virar um borrão vermelho lá embaixo. The End. Minha vitima não terá mais dor, mais medo, não terá que acordar cedo para trabalhar, não terá que pagar contas, não sofrerá mais com doenças, não terá mais responsabilidades com nada e com ninguém... "De nada!" – Respondo em meus pensamentos.

Meu amigo DarkOnde histórias criam vida. Descubra agora