CIÚMES

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CIÚMES

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CIÚMES

Não adianta se proteger da dor, pois dói mais.

Eu nunca tive nenhuma pretensão de cessar a dor em mim. Não gosto de gastar energia com coisas que sei que vou perder. Não tem serventia nisso. A dor, a angustia, o vazio, o cinza, estão dentro de mim como hóspedes malas, daqueles que vem para passar uma semana e ficam para sempre. Não, eu não luto mais contra isso. Apenas vou vivendo, sentindo, seguindo até onde der... Conformismo? Entenda como quiser, este sou eu.

Mas a dor de perder minha irmã, meu amigo, não. Essa dor eu jamais me permitiria passar. Eu poderia falhar com o mundo, menos com ela. Prometi isso a ela, a minha vó... e a mim mesmo.

Estou agora aqui, na minha querida rua mal iluminada. Surgi na escuridão, atrás de Walter. O plano de Dark foi simples e lindo, até agora. Estacionei meu carro a uma certa distancia. Já estava de farol desligado. Tirei o freio de mão, saí do carro e deixei a gravidade fazer o resto do serviço.

Walter virou assustado pra mim. Não teve nem tempo de entender o soco no estômago que levou. Sim, eu sabia que se desse na cara, ele iria desmaiar e, como falei, não quero ele morto ou inconsciente. Quero ele vivo. Bastante vivo. Precisamos brincar mais um pouco. Talvez meses, anos... Quero que ele veja e sinta cada coisinha desagradável que irei fazer. Então, por enquanto, basta ver ele curvado, sem ar, cuspindo uma baba amarela. Devo dizer que fiquei um pouco desapontado. Eu queria que ele reagisse a alguma coisa, seria mais legal. Mas não o culpo, ele quase morreu ontem. Deve estar um pouco cansado. Na verdade, culpo Dark. Ele sabe disso. Eu deveria ter matado ele, mas nãoooooo.... "nossas regrassss, Max!! Lembra das nossas regras!!"

- Eu?? Eu porra nenhuma!! Foi Daniel que fodeu tudo! – Se defende Dark.

- É verdade. Sim, é verdade. Por falar nisso, cadê o zumbi? – Deu chá de sumiço. Meu cérebro deve estar voltando a uma certa normalidade, me poupando dos delírios. Isso é bom. Bom até demais... Tenho mais capacidade de admitir a tristeza e a decepção. Foi uma vida inteira assim. Quando sinto algo relativo a felicidade, me causa angústia, sabe? É que sei que o contraste e queda é maior depois. É como te tirar da favela por metade de um dia, te levar para Dubai, provar e sentir do bom e do melhor e acordar numa rede rasgada, cheio de barulho de moscas e baratas na parede, no escuro... Mas se estou provando de Dubai agora, foda-se, vou gozar na cama de seda e tomar um banho de Jack Daniels Sinatra. Vou me esbaldar. Ganhei um bilhete de rodizio de carne e vou comer como um rei, amanhã volto para o bife do olhão.

Olho para o céu escuro, nuvens lindas carregadas, o vento está forte, sempre foi, moro perto da praia, fecho os olhos, elevo a cabeça para o céu, abro os braços, como se estivesse recebendo bênçãos divina (e não deixa de ser, eu sei que foi um presente dele), inspiro profundamente a fragrância do medo exalada por Walter. Tenho quase um orgasmo mental. É como se fosse um fluxo gostoso de energia, falo, literalmente, energia elétrica. Sinto uma onda de choque elétrico prazeroso que surge da parte de trás do meu cérebro ligada a minha espinha (nosso sistema límbico, nosso sistema primitivo) e essa onda vai seguindo até a parte frontal do meu cérebro. É muito gostoso isso. Queria sentir mais. Respiro mais medo de Walter, quero prolongar um pouco esse gozo.

Meu amigo DarkOnde histórias criam vida. Descubra agora