Escrita emocional | número: 1202.
Minha mente joga contra minha sanidade.
Ele não se matou. Ele não se matou. Ele não se matou. Ele não se matou. Ele não se matou...
Definitivamente hoje não está sendo um dia normal. Volto a escrever essas malditas linhas porque sinto que estou próximo a perder o controle. Enlouquecer.
Tentei ligar para meu psicólogo, depois de 30 ligações perdidas, Lennown atende para dizer que não ia conseguir me atender. Disse que um tal de Toin, alguém próximo dele, havia acabado de receber um diagnóstico: Câncer em estágio terminal. Havia se alastrado para tudo que era canto. Um maldito sortudo! Por isso ele estava cancelando todas consultas da semana. Pior, por isso não ia poder me atender. Pergunto: isso vai fazer o cara se curar?
Preciso extravasar, transcrever o que me ocorre por aqui mesmo, a tal da porra da escrita emocional, foi o que ele, mais uma vez, me pediu para fazer por telefone. Um disco arranhado. Então vamos lá...
Desde que minha secretária me falou da morte de Daniel não paro de analisar e reanalisar seu caso. Quanto mais analiso, quanto mais penso e repenso, e repenso, e repenso... tenho a certeza que ele não se matou. Ele não se matou, ele não se matou... esses malditos pensamentos parasitas estão invadindo minha consciência em um looping de repetição infinita, crescendo em minha mente feito malditas ervas daninhas.
Para tentar acalmar minha mente doentia, tentei achar algum furo, alguma coisa que deixei escapar, mas não encontrei nada.
Li e reli todo o prontuário dele, rebobinei as três consultas que tivemos em minha mente. Várias vezes. Não. Nada. Não sei porque ainda perdi meu tempo obedecendo minha mente obsessiva em busca de alguma ponta solta, eu nunca deixo escapar nada. Já tive até problemas com isso no inicio de minha maldita bem sucedida carreira.
Veja, eu sei quando o paciente está me manipulando, mentindo, omitindo... e, logo no inicio, eu os confrontava. Minha intenção era poupar o meu tempo e o tempo deles saindo do mundo de Alice e trabalhando com o inferno da vida real, mas parei de fazer isso a medida que fui notando que os pacientes também precisavam acreditar em uma vida melhor. Como eu disse, viver em uma matrix perfeita. Então parei de confronta-los. Mas, entenda, eu só deixo isso acontecer a medida que sei que a mentira, ou manipulação, ou omissão, não está atrapalhando meu trabalho.
Daniel nunca mentiu, ou me manipulou, talvez possa até ter me omitido algumas informações mais intimas, até porque só tivemos 3 sessões, mas o essencial foi apresentado nú e cru, sem photoshop.
Daniel chegou na primeira consulta queixando-se de uma tristeza que o havia tomado de conta no último mês e que teve alguns pensamentos de morte. Relatou uma pequena crise de pânico, um medo de passar mal e morrer. Notei também princípios de TOC, quero dizer, vou corrigir, apenas um aumento de ansiedade, nada grave ou fora do controle, estava percebendo-se muito preocupado com limpeza e saúde, mas nada obsessivo ou ritualístico. Tinha uma fobia grave, porém fácil de se trabalhar, mas, de acordo com ele, ninguém sabia, ou seja, ele conseguia ter uma vida normal apesar disso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu amigo Dark
Mystery / ThrillerEles acham que eu sou bom porque sou empático, por os entender como ninguém, mas eu os entendo porque vivo todo tipo de inferno em minha mente. Isso eles não sabem. Algo em mim identifica o que se passa no submundo deles. É como se eu me reconheces...