Eles acham que eu sou bom porque sou empático, por os entender como ninguém, mas eu os entendo porque vivo todo tipo de inferno em minha mente. Isso eles não sabem. Algo em mim identifica o que se passa no submundo deles. É como se eu me reconheces...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
É na iminência da morte que o homem se liberta de todas suas amarras, que mostra sua verdadeira face, não quando ganha poder, como reza o dito popular.
É um momento único. Talvez, sequer uma psicoterapia intensiva tenha tal poder; de revelar nossas entranhas mais pútridas, nossa verdadeira essência.
Estou, nesse exato momento, olhando meu reflexo nos olhos de minha vítima, é o reflexo de minha alma; algo tão sombrio que já tive repulsa e medo na primeira vez que vi. Na época, acabei me desconcentrando e deixando minha vítima fugir sem o grand finale.
Mas hoje já estou acostumado e até aprecio minha sombra. É como um bom e velho Jack Daniels; o primeiro gole é amargo, quente, desse queimando goela abaixo feito larva vulcânica. É a antítese do prazer. Mas, aos poucos, seu organismo, sentidos, paladar, vão se ajustando para recebe-lo e, quando você menos espera, já está gostando e apreciando cada estágio de dor e amargura causada pela visita dourada.
Minha vítima está se segurando, com suas últimas gotas de força, pela beirada da janela, ao lado de fora, intercalando olhar desesperado para baixo, vendo a cidade pequena, e para mim. Quem sabe até calculando sua taxa de sobrevivência, quem sabe esperando um milagre; que eu poupe sua vida.
Outra dádiva da iminência da morte é que ela transforma o negativista em uma pessoa esperançosa, crédula e otimista.
Olho o relógio. Já era para ter ido embora, mas eu precisava disso. Precisávamos disso.
Perdão, estou adiantando-me nos relatos. Vamos começar pelo segundo de luz que salvou a vida de Jane.
Algumas horas atrás, outra janela estava aberta; a do meu consultório. Estava aguardando a atração principal de meu primeiro ato; Jane.
Dark estava enlouquecido...
- Max, cara você sabe que ela não fez isso! Por que ela iria fazer uma loucura dessas? Qual o motivo dela? Pensa bem! - Tagarelava Dark enquanto eu esperava minha secretária apreciando a vista da janela aberta, respirando o ar poluído que entrava quente em minhas narinas, segurando forte a seringa em meu bolso. - Eu não vou gastar minha inteligência buscando motivos para ela, Dark. Detesto spoillers, pode ter certeza que na queda ela nos contará. - Respondi calmo.
Aliviei a pressão na seringa, receei quebra-la.
Nota mental; comprar luvas novas. As de hoje serão incineradas.
- Para que melhor motivo do que dinheiro??? Ela deve ter sido paga pra isso, e muito bem paga! - Disse Daniel, intrometendo-se na conversa, sentado na cadeira onde costumava sentar quando ainda estava vivo. Com o mesmo trejeito; balançando ela de um lado para outro.
Estava ficando quase impossível não interagir com a alucinação. Um homem quando está correndo o risco de perder tudo, tem pouco zelo ( e pouca paciência) para manter o controle de seus impulsos. Interagir com a alucinação significava aumentar mais ainda a doença dentro de mim, mas quer saber? Que se foda minha a saúde mental! O que é um peido para quem está se afogando em uma piscina de merda??