Quatro

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Observo Antony sair da piscina e pegar uma toalha branca jogada em cima da sua bolsa de treino. Eu devia ter ido embora no momento em que vi que era ele, mas minhas pernas não me obedecem. Vê-lo assim, com pouca roupa, envia calor para minhas bochechas. Não que seja a primeira vez, claro. Como todo mundo aqui, eu também já havia assistido algumas competições de natação. Sungas e toucas, sabe como é. Eu só nunca estive tão próxima de Antony quanto agora. E ele tinha sempre esse ar intimidador de superioridade em volta que me deixava desconfortável.

Antony parece não se importar muito com minha presença. Ele leva seu tempo secando sem pressa o peito e seus cabelos, depois volta a olhar para mim, sempre com um sorrisinho nos lábios. Está difícil não olhar para seu calção folgado que deixa os ossos proeminentes do quadril à mostra. Alguém me mate. Não estou raciocinando direito aqui.

O sinal soa alto, tirando-me dos meus devaneios. As aulas estão começando, preciso me apressar.

— Você percebe que essa foi a conversa mais civilizada que tivemos em anos? — Antony finalmente rompe o silêncio, me lançando um olhar sugestivo.

— Foi só porque eu não sabia que era você — esclareço. — Podemos seguir nos detestando normalmente agora.

Ele ri alto dessa vez.

— Sempre tão doce, Lia. Aposto que todo mundo lhe diz isso.

— Para você é Emilia. Vai me dizer o que quer, ou isso tudo foi para me fazer perder tempo? — Cruzo os braços em frente ao peito, para ter uma sensação mínima de barreira entre nós dois.

— Por que será que você nunca relaxa? — ele troça.

Eu chego ao meu limite de Ramone no meu dia. Dou a costas a ele, e caminho apressada em direção a saída.

— Hey, calma aí — Antony chama atrás de mim. — Não leve as coisas tão a sério, Calton.

Viro para ele, dando pequenos passos de costas.

— Se for sobre a festa, pode avisar aos seus amiguinhos que concordei. Me envie os nomes dos... organizadores por e-mail. Nomes completos, por favor. E, ah... — acrescento —, apague meu número.

Corro para o prédio das aulas rezando para não chegar atrasada. Desabado na carteira ao lado de Austin ofegante, segundos antes da professora entrar. Austin não pergunta sobre meu estado, só me lança um olhar confuso. Ignoro. Tiro meu material da mochila e tento prestar atenção na aula.

Consigo passar o resto do dia sem incidentes. Não tive mais nenhuma perturbação com os atletas, em contra partida, precisei fazer meus testes de aptidões para a IUM, que deixei de última hora para ir ao acampamento. Senhorita Molina ­— a orientadora e coordenadora das aulas extras —, passou a tarde comigo me auxiliando. Ela tinha estudado na IUM, era uma inspiração para mim, e vivia dizendo que com o meu currículo eu estava mais que apta para entrar.

Depois de arrumar minhas coisas vou para fora esperar meu pai. Como ele não ia ficar o dia todo na oficina, mamãe o fizera vir me pegar. Há poucos carros no estacionamento e avisto o Gol cinza logo que chego. Apresso o passo. Tudo o que mais quero é ir para casa descansar.

— Teve um bom dia? — ele pergunta quando entro no carro, e me dá um beijo na bochecha. Papai tem o cheiro sutil de graxa e loção pós barba.

— Aham — aceno, e isso é toda a indicação que ele precisa para saber que não quero conversar.

Já em casa, eu tomo um banho demorado e vou me deitar. Seleciono meu play de músicas, ponho meus fones e fecho os olhos. Papai decidiu preparar o jantar e não se incomodou que eu não o ajudasse. Vai demorar um pouco para mamãe chegar em casa, e Kaila faz hora extra no trabalho hoje. Ela trabalha meio expediente em uma papelaria no centro. O que é sua felicidade na vida já que não precisa acordar cedo, nem perder suas noitadas. Kai tinha começado a fazer faculdade de jornalismo quando terminou a escola, mas desistiu no primeiro semestre. A vida acadêmica não era para ela, era o que ela dizia.

Cada Vez MaisOnde histórias criam vida. Descubra agora