Vinte & Seis

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A porta fecha atrás de mim com um clique baixo. Antony está de volta ao carro. Eu caminho com pequenos passos hesitantes até lá. Ele descansa os braços no volante e não olha para mim quando entro e sento do banco. Respiro fundo, pronta para falar, mas Antony fala primeiro.

— Eu não vinha aqui — ele diz, os olhos fixos em algum ponto na frente. — Eu disse a mim mesmo para não vir atrás de você, porque você não é obrigada a me dar explicações. E daí que eu não tenha encontrado você quando acordei? — Ele dá de ombros. — Você não era obrigada a ficar lá, podia sair quando bem entendesse... Mas acontece que tenho certeza absoluta de que você não foi embora apenas porque tinha que ir para casa. Eu sinto que você fugiu de mim, só não consigo entender o que eu fiz para você fugir, Emilia. E me mata ficar no escuro. Por isso estou aqui, para te ouvir. Pela última vez, se é isso mesmo o que quer.

Então ele olha para mim e a expressão dele parte meu coração. Ela é rígida, séria. Não mostra nada do que ele possa estar sentindo. Eu engulo em seco e umedeço os lábios, nervosa ao extremo.

— Você não fez nada, Antony. O problema é comigo, não tem nada a ver com você. De verdade. Eu nem sei o que te dizer. Me desculpe, não era minha intenção te deixar chateado justo quando já está cheio de problemas-

— Isso não tem a ver com os meus problemas particulares, Emilia — ele me interrompe. — Isso aqui é sobre nós dois, e o fato de você ter saído correndo pouco depois de eu dizer que estava apaixonado por você!

As palavras dele me fazem encolher. Não quero ter essa conversa.

— Não consigo lidar com isso, Tony, desculpa. — Destranco a porta e começo a sair do carro, mordendo o lábio com força, tentando não chorar. Entretanto, Antony é mais rápido e consegue se pôr na minha frente em tempo recorde.

Ele fecha a porta atrás de mim e me vejo presa entre ele e o carro. Não tenho forças para afastá-lo, nem sei se quero. Estou tão confusa.

— Pare de fugir de mim. — A voz dele sai carregada de emoção. — Me diz que não sente a mesma coisa, que entendi tudo errado. Diga.

Eu abro a boca para dizer que ele entendeu errado. Que eu não gosto dele desse jeito, que ele tem que ir embora. Mas não posso, porque não é verdade. Eu o quero bem aqui, mesmo não devendo.

— Não sou boa para você, Antony — sussurro, sentindo as lágrimas traiçoeiras deslizarem pelo meu rosto.

— Do que você tá falando? — Antony segura meu rosto com as duas mãos e me obriga a olhar para ele. — Que maluquice é essa? Em que mundo você não é boa, Lia? Você é a melhor pessoa que conheço.

— Você não deve gostar de mim dessa maneira. É melhor para nós dois esquecermos essa história.

— Os meus sentimentos não vêm com interruptor, Lia. Não posso simplesmente desligar o que sinto por você.

— Você precisa. Merece alguém menos complicada do que eu — digo, afastando as mãos dele de mim.

— Não estou entendendo...

— Veja, não daria certo de qualquer maneira. Vamos embora em poucos meses e como vai ser? Só estou antecipando o óbvio.

— Jesus, mulher — Antony resmunga. — Não estou te pedindo em casamento. Quero ficar com você pelo tempo que for. É um crime, por acaso?

Faço que não com a cabeça. Ele precisa entender que não vale a pena perde tempo comigo.

— Você vai querer coisas de mim, Tony, que eu não poderei dar. É só uma questão de tempo até se cansar, então será você me mandando embora.

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